Curupira é o personagem do folclore brasileiro que protege as matas. Com cabelos vermelhos e pés virado pra trás, ele se volta contra aqueles que entram na floresta para derrubar árvores ou caçar animais, segundo a lenda. Com o mesmo intuito de proteger a Mata Atlântica preservada no município de Santa Teresa, no Espírito Santo, o Batalhão de Polícia Militar Ambiental (BPMA), em parceria com o Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo (Idaf), realizou, nessa quinta-feira (19), a Operação Curupira II.
Durante a operação, foram constatados na região de Santo Anselmo, Córrego Sujo e Tabocas, um total de três retiradas de vegetação nativa, em sua maioria, em estágio médio de regeneração, somando, aproximadamente, 22 mil metros quadrados de área desmatada.
Também foram flagrados duas intervenções em Área de Proteção Permanente (APP), uma construção de poço escavado com afloramento de lençol freático e o início de queima de vegetação nativa enfileirada em canteiros.
Em apenas um dos 12 pontos fiscalizados, uma área de 15 mil metros quadrados que abrigava uma nascente foi totalmente desmatada, na localidade Santo Anselmo. Há indícios de parcelamento irregular do solo, com o indicativo de ser um loteamento irregular.
As equipes fizeram um levantamento completo das áreas, com registros por drone, para mapear o que foi desmatado, o tipo de vegetação que foi retirado e os impactos. Novas operações estão previstas em todo o Estado.
“Os resultados obtidos dessas operações têm sido uma ferramenta estratégica e têm surtido efeito positivo para o meio ambiente. Continuaremos trabalhando para coibir os crimes relativos ao meio ambiente nas montanhas capixabas”, disse o comandante do Batalhão de Polícia Militar Ambiental (BPMA), tenente-coronel Cosme Carlos da Silva.
Para o diretor-presidente do Idaf, Leonardo Cunha Monteiro, por meio do acordo de cooperação técnica, firmado recentemente entre o Idaf e o BPMA, as ações de proteção às florestas do Estado ganham mais força. “O Idaf e a Polícia Ambiental, sempre foram parceiros e atuam juntos. Em breve, devem acontecer novas operações para coibir o desmatamento irregular em todo Estado. Vale ressaltar que os infratores serão autuados e as áreas embargadas para recuperação do dano ambiental”, afirmou Monteiro.
Devido ao desenvolvimento urbano e turístico em Santa Teresa, a especulação imobiliária aumentou. O gerente do Idaf de Santa Teresa, André Cirqueira, afirma que algumas áreas do município têm sofrido ameaças ao meio ambiente, como desmatamento e parcelamento irregular de terrenos. Desde 2020, já foram aplicados mais de 144 autos de infração no município.
Ele orienta os interessados em comprar terreno na região a antes procurar o Idaf, para consultar se a área é regular, o que pode ser feito no local, o histórico do lugar e, principalmente, se é uma área de proteção permanente.
O Ministério Público pede que as pessoas que souberem ou desconfiarem de casos de desmatamento, parcelamento irregular do solo, loteamento irregular, que denunciem. Não precisa se identificar, a denúncia é anônima e o sigilo é garantido, reforça a promotora de Santa Teresa, Vera Lúcia Miranda.
O cidadão pode realizar a denúncia anônima de crimes ambientais por meio do número 181, ou pelo site www.disquedenuncia181.es.gov.br.
O gerente do Idaf de Santa Teresa, André Cirqueira, afirmou que o desmatamento da área de Mata Atlântica ameaça a sobrevivência de animais típicos da região, que dependem de vegetação específica do local. Sapos raros e outros anfíbios que sobrevivem nas bromélias da vegetação de capa de pedra.
Santa Teresa é uma região que possui grande diversidade de sapos, rãs e pererecas, sendo referência mundial neste grupo de animais.
Lá, uma nova espécie de perereca, que muda de cor, foi descoberta em 2021. O animal, cujo nome científico é Scinax pixinguinha, foi carinhosamente batizado como perereca-Pixinguinha. Ela é exclusiva da Mata Atlântica e, mais precisamente, encontrada apenas em Santa Teresa, até então.
Um dos pesquisadores que descobriram a nova espécie foi João Victor Lacerda, do Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA) e membro do Projeto Bromeligenous, focado exclusivamente na conservação de anfíbios que vivem nas plantas Bromélias.
"O capixaba não se dá conta da riqueza que Santa Teresa representa. É um dos municípios no planeta inteiro que tem maior número de espécies, maior diversidade de sapos, rãs e pererecas. Então, tem um histórico de pesquisa desse grupo há algum tempo, pesquisadores visitantes ou aqui da região visitam Santa Teresa para tentar descobrir espécies”, disse em entrevista para A Gazeta, na ocasião da descoberta.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta