"Deixa eu falar com minha filha primeiro". Esse foi o pedido de um policial militar do Espírito Santo ao receber uma ligação de um estelionatário na noite de sábado (13). Ao perceber que se tratava do golpe do falso sequestro, o sargento Gama, de 51 anos, engana o criminoso durante quase seis minutos de conversa, na qual é ameaçado a fazer uma transferência via Pix para libertar a filha supostamente sequestrada (assista o vídeo acima).
O vídeo, que está rodando na internet desde o último final de semana, chamou a atenção das pessoas pela maneira como o policial fala, de maneira engraçada, com o criminoso.
Nas imagens, o sargento Gama é filmado falando com o golpista no telefone e pede para falar com a filha. O criminoso diz que não vai deixar e que ela precisa de ajuda.
"Pega a faca aí e traz para cá. Abre o aplicativo. Já tá aberto?", pergunta o criminoso. O sargento responde que abriu o aplicativo do banco e o estelionatário passa o número de um Pix.
O estelionatário então diz que se o sargento pedir para falar com a filha novamente, ele 'acabaria com tudo'. 'Vou sair daqui e levar ela para o lixo!', ameaça o criminoso. Após passar a chave para a transferência novamente, o sargento diz que dá 'pix inválido'. O criminoso, então, pede para o policial apagar e passa outro número.
O golpista pergunta de novo o nome que aparece na chave Pix, e o sargento responde que já tinha falado. Cansado do papo, o sargento finaliza a conversa: "Aqui, seu babaca. Você tá falando com um polícia, seu mané", enfatiza o militar.
O policial responsável por fazer a pegadinha no estelionatário é o Júlio Cezar Gama, sargento que trabalha no 8º Batalhão da Polícia Militar, localizado em Colatina, no Norte do Espírito Santo.
Com 27 anos de trabalho prestados à polícia, ele realmente tem uma filha e disse que teve a ideia de enganar o criminoso no momento que recebeu a ligação.
"Eu estava de serviço sábado à noite e a gente parou para fazer um lanche. Quando atendi o telefone, eles já colocaram uma pessoa gritando. Como já conheço o golpe, eu pensei: 'vou zoar com esse golpista", comentou o policial.
De acordo com o sargento, ele "entrou no personagem". 'Eu até falei do Vasco da Gama porque sou vascaíno, mas o criminoso nem percebeu', acrescentou.
Segundo Gama, diversas pessoas caem nesse golpe porque dizem o nome de uma pessoa logo no início da conversa com o estelionatário.
"Por isso eu falei Joana, que é um nome fictício. O criminoso passa a falar que vai matar aquela pessoa. Neste caso, ele disse que mataria, que rasparia a cabeça, que jogaria no lixo, que faria de tudo", disse.
O policial deu algumas dicas para evitar cair no golpe:
Questionada, a Polícia Civil orientou que as vítimas desse tipo de crime a registrarem as ocorrências em qualquer delegacia, a fim de identificar os suspeitos e aplicar a devida punição.
"O Disque-Denúncia 181 é uma ferramenta crucial para a população auxiliar a polícia, fornecendo informações que possam levar à prisão dos criminosos, disponível também pelo site disquedenuncia181.es.gov.br. O anonimato é garantido e todas as informações fornecidas são investigadas minuciosamente. Em casos de crimes em andamento, recomenda-se acionar o número de emergência 190", informou a nota.
Conhecido em todo Brasil, o golpe do falso sequestro causa prejuízos financeiros nas vítimas que fazem transferências bancárias a fim de resgatar pessoas do círculo social familiar, como filhos, pais, entre outros parentes.
De acordo com o mestre em Segurança Pública, Thiago Andrade, crime é geralmente praticado por presidiários.
'Esse golpe é recorrente e, muitas vezes, saem de áreas prisionais. Existem quadrilhas especializadas nesse tipo de crime, mas também detentos que praticam aleatoriamente. As quadrilhas, normalmente, ligam para telefones residenciais se passando por atendentes de telemarketing ou amigos da família. Uma vez de posse das informações da rotina da família, eles fazem uma nova ligação dizendo que um familiar foi sequestrado e exigem o depósito de uma quantia em dinheiro para a suposta libertação da vítima", explicou Thiago.
Ainda de acordo com Andrade, as informações pessoais também são coletadas por redes sociais, por isso a importância de não postá-las.
"Os criminosos também utilizam as redes sociais e, quando a pessoa posta fotos de familiares, está municiando os criminosos de informações. Por isso a importância de manter-se atento ao conteúdo publicado", explicou.
Durante a ligação, segundo Andrade, normalmente colocam uma pessoa chorando ao telefone como se fosse a vítima do sequestro.
"O criminoso vai usar todas as táticas para estar no controle durante a ligação. Por isso é importante você se colocar no controle, perguntando como você conseguiu o contato, de onde está ligando, dentre outras perguntas", disse.
(Com informações de Viviann Barcelos, do g1 ES)
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