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"Por ele ser professor, confiamos", diz aluna sobre caso da agulha no ES

"Por ele ser professor, confiamos", diz aluna sobre caso da agulha no ES

Professor de Química foi demitido por utilizar a mesma agulha em 44 estudantes em um experimento de testagem de tipagem sanguínea em uma escola de Laranja da Terra, na região Serrana

Publicado em 18 de março de 2025 às 15:47

Ícone - Tempo de Leitura 7min de leitura

Uma das alunas do professor de Química, demitido após furar com a mesma agulha mais de 40 estudantes do ensino médio de uma escola estadual em Laranja da Terra, na Região Serrana do Espírito Santo, durante um “experimento” de tipagem sanguínea, falou sobre o caso pela primeira vez nesta terça-feira (18).

À TV Gazeta, a adolescente, cuja identidade será preservada conforme previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), afirmou que a confiança da turma no professor precedeu o caso, que ganhou repercussão nacional. 

“Era mais uma aula, só que a gente não sabia direito o que ia acontecer. Ele (o professor) explicou tudo na hora: ‘Olha, eu vou furar o dedo para vocês verem no microscópio como é o sangue de vocês’. E, no momento, a gente pensou: ‘ele é o professor, ele sabe o que está fazendo’. Todas as atividades práticas que os professores passam são submetidas à equipe da escola, que aprova ou não. Então, na cabeça de muitos, foi o quê? Foi aprovado e estava tudo certo", disse a estudante em entrevista ao repórter Aurélio de Freitas.

"E como ele estava limpando com álcool (a agulha), no calor do momento, a gente acreditou que estava tudo bem. Depois, quando fomos convocados no final da aula, outra professora começou a explicar a situação. Todo mundo ficou bem chateado, muitas pessoas ficaram com raiva do professor, foi um caos na sala, difícil de controlar todo mundo”, disse a aluna.

A Polícia Civil informou nesta terça-feira (18), que o caso segue sob investigação da Delegacia de Polícia (DP) de Laranja da Terra, e que "detalhes da investigação não serão divulgados, no momento". Acrescentou que "informações podem ser compartilhadas de forma sigilosa por meio do Disque-denúncia (181)", e que "essas informações podem ser cruciais para o avanço das investigações".

Ministério público

Procurado por A Gazeta, o Ministério Público informou que teve conhecimento dos fatos ainda na sexta-feira (14/), e "imediatamente entrou em contato com o Secretário municipal de Saúde para acompanhar as medidas adotadas e tomar todas as providências para que todos os procedimentos necessários fossem realizados".

Informou ainda que "instaurou Notícia de Fato para acompanhar o caso junto às investigações da Polícia Civil", e que "a eventual tipificação penal dependerá do andamento das ações investigativas e dos resultados dos exames que, no momento, estão sendo aguardados". O MP comunicou que "mais informações não podem ser divulgadas por ora, pois o caso está sob sigilo".

Revolta

Pais de 44 alunos de uma escola estadual disseram nesta terça-feira (18) que o sentimento é de revolta e preocupação com o caso, que passou a ser investigado pela Polícia Civil. O professor foi demitido e a corregedoria da Secretaria de Estado da Educação (Sedu) disse que abriu procedimento para apurar o ocorrido. O nome da escola, do professor e dos entrevistados não estão sendo divulgados para não expor os estudantes.

Em entrevista ao repórter Enzo Teixeira, da TV Gazeta, uma das mães contou como soube do incidente.

“A gente ficou sabendo através da minha menina, que ligou e falou que eles estavam indo para o hospital para fazer o exame porque o professor tinha furado eles com uma agulha, todos com a mesma agulha. Ele (o professor) levou (os alunos) para fazer uma aula de Química no laboratório, só que não passou para a diretora a aula que ia dar. E aconteceu isso aí, dele furar o dedo de todos com a mesma agulha, uma lanceta”, disse.

"A escola levou os alunos para fazer um exame. Fizeram teste rápido, todos deram negativo, mas a preocupação da gente, como pai e mãe, é: e no futuro? O que vai acontecer? Porque algumas doenças não aparecem do dia para o outro, né? Demora anos para poder aparecer. Que garantia eles vão dar de que um filho da gente não vai pegar alguma coisa e ficar doente daqui um ano, dois anos?", comentou outro familiar.

Mais depoimentos de pais

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O sentimento é de revolta. Como mãe, eu achei um absurdo ele ter feito isso sem autorização do pai e da mãe

X.
Mãe de aluna
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Querendo ou não, o professor violou o direito do pai, né? São todos menores, e ele quis passar por cima da autoridade dos pais, completou a mãe durante a entrevista.

Y.
Mãe de aluno
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O pai de outra aluna disse que, apesar de a escola ter feito exames nos alunos, e estes indicarem que todos passam bem, ele fará um exame particular. "A gente se preocupa, porque a gente acompanha nossos filhos desde pequenos, com as vacinações certas, e a gente tem que se preocupar. Eu vou fazer um exame particular na minha filha para ter uma segurança maior", salientou o pai.

O outro lado

Nesta quinta-feira (20), em nota, a defesa do professor declarou que “a única preocupação dele é o bem-estar dos alunos e da comunidade escolar envolvida nesta situação”.

O advogado Enoc Joaquim da Silva disse que “nos últimos dias fora divulgada a informação de que o professor não teria sido localizado pela autoridade policial", o que segundo a defesa não procede, "vez que desde a última terça-feira a defesa do professor fez contato com a assessoria do Ministério Público e com a Autoridade Policial de Laranja da Terra, se colocando à disposição para qualquer esclarecimento necessário".

“Imperioso destacar que o professor sempre desenvolveu seu trabalho com zelo e ética, buscando sempre o melhor caminho para o aprimoramento educacional de seus alunos, sendo profissional da área há pelo menos 13 anos”, disse o advogado, na nota.

A defesa informou que o professor prestou depoimento na quarta-feira (19) à polícia em Laranja da Terra, apresentando o que chamou de “verdadeira narrativa dos fatos”. O advogado confirmou que a demissão do professor se deu de forma unilateral pela Secretaria de Estado de Educação (Sedu).

Segundo a defesa, não será detalhado o teor do que o professor demitido disse à polícia “a fim de não trazer prejuízo ao trabalho investigatório”.

“A aula prática com os alunos não se tratou de realização de exame para identificação do tipo sanguíneo dos alunos e sim de visualização de células em microscópio, tendo o professor se cercado de todos os cuidados necessários (de acordo com os materiais que tinha a sua disposição) para evitar qualquer tipo de prejuízo ou risco aos alunos", informou a defesa do professor.

Por fim a defesa disse que a participação dos alunos no experimento “se deu de forma voluntária, não havendo qualquer imposição ou constrangimento para a participação dos mesmos nas atividades desenvolvidas", que as "atividades se deram em Laboratório de Ciência existente na própria instituição educacional”, e que o professor está à disposição para “qualquer esclarecimento”.

Relembre o caso

Mais de 40 alunos de uma escola de Laranja da Terra chegaram a ser hospitalizados após o professor realizar testes de tipagem sanguínea reutilizando a mesma agulha na última sexta-feira (14).

De acordo com a Secretaria da Educação (Sedu), os alunos fazem parte das turmas de 2ª e 3ª série do Ensino Médio e têm idades entre 16 e 17 anos. Eles participavam da aula de Práticas Experimentais em Ciências, ministrada por um professor de Química que demonstrou como realizar um teste para descobrir o tipo sanguíneo de cada um.

A Sedu informou ainda que os alunos estão bem e frequentando as aulas normalmente. Todos os 44 estudantes foram submetidos a teste rápido de diagnóstico de infecção, que deu negativo para todas as doenças testadas. Quanto ao professor, o contrato foi encerrado e o caso encaminhado à corregedoria da Sedu.

Na segunda-feira (17), ocorreu uma reunião entre a Secretaria municipal de Saúde e a Secretaria Estadual de Saúde para alinhar o protocolo a ser adotado no acompanhamento dos estudantes, que vão refazer os testes em 30 dias. Ainda na segunda-feira, a escola se reuniu com pais e alunos. Eles informaram à TV Gazeta que a reunião teve o objetivo de "acalmar" os pais e orientá-los sobre como proceder com os filhos.

A Secretaria municipal de Saúde respondeu que se prontificou rapidamente a atender os adolescentes no dia do ocorrido e que segue acompanhando o caso.

Em nota, a Prefeitura de Laranja da Terra informou que "está prestando todo apoio e acompanhamento aos alunos e seus familiares, garantindo assistência e amparo necessário". 

Na íntegra | Nota da Prefeitura de Laranja da Terra

Considerando a repercussão nacional do ocorrido na escola da Rede Estadual de Ensino, viemos reafirmar que a Secretaria Municipal de Saúde está prestando todo apoio e acompanhamento aos alunos e seus familiares, garantindo assistência e amparo necessário. 

Foi montada força tarefa para atendimento dos adolescentes na sexta-feira e refeito testes na presente data. Vale ressaltar que cabe à Secretaria Estadual de Educação, juntamente com outros órgãos estaduais, esclarecer os detalhes sobre o ocorrido dentro da unidade escolar, uma vez que se trata de uma instituição da Rede Estadual de Ensino. 

Estamos consternados com o ocorrido e acompanhando medidas que estão sendo devidamente tomadas pelos órgãos estaduais. 

Atenciosamente, 

 Assessoria de Comunicação Prefeitura Municipal de Laranja da Terra

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