No dia 11 de março, a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou que o coronavírus tinha alcançado o estágio de pandemia. Na prática, significava que o vírus Sars-Cov-2, que provoca a Covid-19, já circulava em todos os continentes.
O novo coronavírus foi descoberto na China em dezembro do ano passado. Antes dele, o mundo encarou e ainda convive com outras doenças com capacidade de transmissão global. Mas a qual a diferença delas em relação à Covid-19?
Segundo monitoramento da Universidade Jhon Hopkins, mais de 13 milhões de pessoas já foram infectadas pelo coronavírus no mundo. O Brasil se aproxima da marca de 1,9 milhões de casos confirmados e tem mais de 72 mil mortes.
Questionados por A Gazeta, pesquisadores e especialistas em saúde apontaram algumas pandemias que precederam a do novo coronavírus. Uma delas é a do HIV/Aids.
O Unaids, programa da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre HIV/Aids, estima que desde o início da pandemia, em 1981, até o fim de 2018, 32 milhões de pessoas tenham morrido por causa da doença. Outras 37,9 milhões ainda convivem com o vírus da imunodeficiência humana (HIV).
O médico e professor de epidemiologia na USP, Expedito Luna, destacou também o zika vírus, registrado em 2015.
A zika acontecia, principalmente, nas regiões tropicais do planeta, que em geral, são regiões com menor desenvolvimento socioeconômico. Diferente da Covid, a zika teve muito menos interesse da mídia e da comunidade científica mundial, disse.
Entre 2009 e 2010, foi registrada a H1N1 ou gripe A. Com os mesmos sintomas da gripe comum, uma em cada cinco pessoas em todo o mundo pegou a doença. A taxa de mortalidade foi de 0,02%.
No intervalo entre 1968 e 1969, surgiu a Gripe de Hong Kong. Os sintomas eram bem parecidos com os identificados em uma gripe comum. A taxa de mortalidade era baixa. A estimativa é de que cerca de um milhão de pessoas tenham sido vítimas.
Transmitida aos humanos por meio de aves, entre 1956 e 1958 foi a vez da população mundial enfrentar a gripe aviária ou gripe asiática. Uma das pandemias mais mortais, a gripe espanhola atingiu cerca de 30% da população mundial entre 1918 e 1920.
Para a pós doutora em Epidemiologia e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Ethel Maciel, uma das principais diferenças do coronavírus para as outras doenças é a forma de transmissão. Enquanto o zika vírus, por exemplo, é transmitido pelo mosquito aedes aegypti, o contágio do coronavírus é através de uma pessoa para a outra.
As doenças transmitidas pelo ar são mais complicadas de controlar porque elas exigem medidas no nível populacional, quando você vai ter que impedir deslocamento ou diminuir aglomeração. São medidas amplas e difíceis de serem aderidas se as pessoas não têm confiança no poder público, analisou.
A especialista complementa dizendo que as medidas de controle de uma pandemia se baseiam na forma como a doença é transmitida. Na pandemia da Aids, que ainda mata muita gente, o modo de transmissão é pelo sangue, secreção e relação sexual. Por isso, exige medidas de prevenção diferentes, ressalta Ethel.
O enfrentamento ao coronavírus testa a velocidade da ciência dos dias atuais. Para Ethel Maciel, o sequenciamento completo do vírus e o desenvolvimento de vacinas são fortes indicativos do avanço da pesquisa frente às outras doenças.
Estamos conhecendo o vírus há seis meses e já sabemos mais sobre ele do que em relação a muitas outras doenças que estão há mais tempo entre a gente. A realidade é muito diferente do que era observado em outras pandemias. E isso favorece, afirma.
O médico, epidemiologista e professor da USP Expedito Luna compartilha desse pensamento. Quanto à vacina, ambos lembram que só foi possível alcançar a fase 3 após sete meses do surgimento da doença porque os cientistas já estudavam os outros coronavírus presentes.
Outra particularidade do coronavírus é que, segundo as análises médicas desenvolvidas até o momento, até 40% dos infectados são assintomáticos e não sabem que carregam o vírus. Os demais contaminados podem ter um quadro clínico grave capaz de evoluir para insuficiência respiratória, intubação, ventilação mecânica e até a morte.
Nos casos da Covid-19, a mortalidade é maior entre quem faz parte do grupo de risco: quem tem mais de 60 anos ou comorbidades como pressão alta, diabetes, obesidade. No entanto, o vírus também mata jovens saudáveis com peso corpóreo na faixa da normalidade.
A zika era uma doença branda na maioria das pessoas. Tinham muitas infecções assintomáticas e o problema foi observado principalmente para as grávidas. Era uma doença leve que grande parte das pessoas nem se mobilizava para fazer esse diagnóstico, explica Expedito.
Já a H1N1 ou gripe pandêmica vai desde infecções assintomáticas até casos graves e óbitos. No entanto, segundo afirma Expedito, a porcentagem dos pacientes que desenvolviam casos graves é menor que a Covid. Os grupos mais vulneráveis são os mesmos indicados no novo coronavírus.
Curiosamente, a gripe pandêmica de 2009 não foi tão grave nas populações mais idosas como é na Covid-19. Isso está atribuído ao fato de que as pessoas com mais de 50 anos terem vivido a pandemia da gripe asiática em 1957 e talvez essa pandemia tenha gerado algum grau de imunidade cruzada na pandemia de 2009, detalha Expedito.
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