A última das árvores que dão nome à Praia das Castanheiras, na Ilha do Frade, em Vitória, foi cortada nesta quarta-feira (23). A informação foi confirmada pela Prefeitura da Capital, que explicou que o corte não foi feito pela administração municipal. No entanto, autorizou a remoção após reivindicações dos próprios moradores da ilha.
A Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semmam) destacou, por meio de nota, que o corte está inserido no projeto de recuperação da restinga da Ilha do Frade, executado pela Associação dos Moradores Proprietários e Amigos da Ilha do Frade (Samifra), com financiamento da mineradora Vale.
“Neste projeto, que conta com o financiamento da empresa Vale, uma das etapas consta a remoção de espécies exóticas (não nativas) que possam afetar negativamente o desenvolvimento das espécies endêmicas”, diz um trecho da resposta da pasta municipal.
Um ofício foi encaminhado à Associação de Moradores, solicitando a manifestação da comunidade sobre a implementação do projeto, sobretudo, considerando a remoção das espécies exóticas, incluindo a castanheira.
Ainda segundo a Semman, a associação manifestou-se com o acordo da comunidade na execução do projeto, frisando que as espécies não nativas da área “detém grande capacidade de se multiplicar e dominar o espaço, pois se desenvolvem bem em ambientes desequilibrados e têm vantagens competitivas sobre as espécies nativas. Além disso, essas espécies não exercem funções como fornecer frutos para a fauna local, e estrutura de raízes que garanta a estabilidade das dunas", complementa.
O texto encaminhado pelos moradores também apontou que o controle de espécies exóticas é determinado na Lei nº 11.428/2006 como uma prática preservacionista imprescindível à proteção da integridade da vegetação nativa.
Além da remoção das espécies exóticas à área, o Projeto Restinga prevê plantio de espécies nativas, cercamento da vegetação, comunicação social e atividades de educação ambiental.
Em conversa com a reportagem, a presidente da Associação dos Moradores Proprietários e Amigos da Ilha do Frade (Samifra) Talita Guimarães confirmou as circunstâncias que levaram ao corte da castanheira, e destacou que, apesar da memória afetiva trazida pelas árvores, questões técnicas deram embasamento à solicitação de remoção.
“Durante os últimos anos, conversei com vários engenheiros florestais, agrônomos, tanto da Vale quanto da prefeitura, especialistas de institutos diversos e, fomos entendendo sobre a importância da retirada das (espécies) exóticas, inclusive as castanheiras. Era importante para a praia, para o solo e também para o mar a retirada delas. Acho que o que mais pesa é a questão afetiva, que muita gente tem, mas tenho que ir de acordo com os argumentos técnicos. Tenho que atender o que os estudiosos, que entendem do assunto, têm para me dizer. E já temos visto diferença", pontuou.
Ainda segundo a presidente, nos últimos cinco anos, desde que o projeto foi retomado na Ilha do Frade, diversas aves voltaram a aparecer nos entornos, como pica-pau, que não era comum, e houve um aumento na chegada de corujas e gaviões.
“E aí você começa a entender o quanto é importante ter árvores diferentes e não apenas uma espécie que acaba matando o solo, que você consegue ter apenas um tipo de ave e, embaixo, vira barro. Acreditamos que vai ser melhor. Da mesma forma que fizeram em Manguinhos, foi feito em Camburi, a gente acredita que vai ser melhor para as nossas praias e o nosso mar", apontou.
Procurada pela reportagem, a assessoria da mineradora informou que "a Vale não tem comentários".
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