Um Guaiamum, espécie de caranguejo conhecida em Vitória, foi capaz de alterar a rota de um avião, causando uma cena inusitada em que a aeronave precisou contornar a área de pouso do aeroporto da Capital e ficar mais dez minutos no ar na segunda-feira (20) até que uma equipe fosse ao local e liberasse a pista. O vídeo que mostra o aviso do comandante aos passageiros viralizou na internet e deixou ao menos uma dúvida no ar: um animal tão pequeno é suficiente para atrapalhar um avião tão grande?
Na avaliação do gerente de segurança operacional do Aeroclube do Espírito Santo, Marcos Nacif, a mudança na rota, que significou mais tempo no ar, foi uma medida "preventiva, acertada e pontual". Em entrevista à jornalista Fernanda Queiroz, da CBN Vitória, Marcos Nacif, que é certificado pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), pontuou que os animais oferecem riscos e podem até causar acidentes caso estejam na pista no momento da chegada de um avião.
Na última segunda (20), por volta das 23h, o comandante da aeronave da GOL, voo com origem no Rio de Janeiro, reportou a presença de "muitos deles" na pista, fazendo referência ao caranguejo. O comandante disse ainda que a torre de controle recomendou que ele aguardasse mais alguns minutos até o pouso.
Em nota, o Aeroporto de Vitória confirmou o fato e detalhou que apenas uma unidade do animal apareceu na pista, e não "muitos deles", como relatou o piloto do avião.
"A equipe de fauna do aeroporto foi acionada. Este é o procedimento padrão previsto para esses casos. Logo após a retirada do animal, as operações seguiram regularmente", informou o aeroporto.
Para Marcos Nacif, é comum e esperado que, em casos como esse, o piloto reporte o problema à torre de controle e receba alguma recomendação. Neste caso, o pedido foi que o piloto esperasse 10 ou 15 minutos até que houvesse uma vistoria na pista.
O especialista explicou que o voo não arremeteu, ou seja, não estava descendo quando percebeu a presença do Guaiamum. "Ele estava em aproximação e foi orientado a manter o tráfego, ficar dez minutos a mais no ar", relata.
De acordo com o gerente de segurança operacional do Aeroclube do Espírito Santo, a colisão com animais é "um dos problemas mais sérios" enfrentados por aviões em todo o mundo, o que, segundo Marcos Nacif, gera "prejuízos exorbitantes".
Na manhã desta quarta-feira (22), a assessoria da GOL respondeu, em nota, a reportagem de A Gazeta e informou que o piloto agiu conforme as recomendações de segurança da companhia aérea para situações que envolvam a presença de animais na pista quando na aproximação.
A GOL informa que o voo 2094, entre o aeroporto de Santos Dumont (SDU), no Rio de Janeiro, e a cidade de Vitória (VIX), realizado na noite de segunda-feira (20/03), efetuou uma arremetida durante o seu processo de aterrissagem na capital capixaba devido à presença de animais na pista. Todo o procedimento seguiu os protocolos de Segurança, valor número 1 da Companhia. Depois de liberada a pista, a aeronave retomou sua posição e pousou em Segurança às 23h06, hora local, sem nenhum atraso em relação à previsão inicial do horário de pouso.
A Companhia reforça que uma arremetida é o ato de descontinuar um procedimento de aproximação. Ela ocorre quando, após análise, o comandante verifica que o pouso não pode seguir cumprindo todos os requisitos de Segurança ou por determinação da torre de controle do aeroporto, como neste caso. A arremetida é uma manobra normal e segura e que permite que os pilotos iniciem nova aproximação em condições mais favoráveis de pista, nesta situação, sem a presença de animais na área de pouso.
A situação em que um caranguejo atrapalhou o pouso de uma aeronave não é para amadores, como diz a máxima popular. Inicialmente, foi divulgado que seria um caranguejo, mas sem detalhes sobre a espécie que apareceu no Aeroporto de Vitória. De acordo com a professora da pós-graduação em Oceanografia Ambiental da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Mônica Maria Pereira Tognella, pela região onde o animal apareceu e analisando uma foto tirada pelo responsável pela vistoria na área de pouso, é possível afirmar que o caranguejo é da espécie Guaiamum.
A especialista explica que o Guaiamum é associado ao ambiente de restinga, enquanto o Caranguejo-Uçá está ligado ao manguezal.
Segundo a professora da Ufes, as duas espécies não são as únicas existentes, mas despertam maior interesse comercial. A espécie Guaiamum é protegida de captura por conta do risco de extinção, explica Mônica Maria.
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