O governador Renato Casagrande (PSB) anunciou medidas mais restritivas de isolamento social para tentar conter o avanço do coronavírus sobre o Espírito Santo, que valem a partir desta quinta-feira (18). As ações, que possuem duração de 14 dias e serão válidas até 31 de março, foram classificadas pelo governador como uma quarentena.
Durante a coletiva de imprensa virtual realizada nesta terça-feira (16) para divulgar as medidas adotadas pelo Governo do Estado, Casagrande ressaltou que o conjunto de ações trata-se de uma quarentena e não um lockdown, uma vez que não haverá restrição da circulação das pessoas.
Dentre os principais motivos para a adoção desse período de restrições maiores, Casagrande citou a taxa de ocupação de leitos de UTI para tratamento de pacientes que contraíram a Covid-19. Segundo o Painel Ocupação de Leitos, ferramenta da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), 91,05% das vagas de tratamento intensivo no Estado estão ocupadas. Um percentual acima de 90% já havia sido delimitado pelo governo estadual como gatilho para a adoção de medidas mais restritivas e o lockdown chegou a ser ventilado.
"Estamos com um número de pessoas internadas muito grande. Vamos chegar a 900 leitos de UTI até o final de abril, mas chegamos hoje à 91% de ocupação dos leitos de UTI. Nunca tínhamos ultrapassado os 90%. Pela primeira vez disparou o gatilho. Temos que adotar medidas no Estado todo: quarentena de 14 dias", afirmou o governador.
Para explicar melhor a diferença entre lockdown e quarentena, a médica infectologista Rubia Miossi utiliza três conceitos que vêm sendo oficialmente adotados. Eles são, em ordem de menor para maior isolamento imposto: distanciamento social seletivo, distanciamento social ampliado (quarentena) e bloqueio total, ou lockdown em inglês.
Para que aconteça o distanciamento seletivo, a especialista afirma que é preciso haver número de testes suficientes para verificar o máximo de pessoas com sintomas. "Sabemos que ainda não temos essa disponibilidade", disse.
Outro aspecto a ser considerado é que a casa onde estas pessoas estejam seja adequada, por exemplo com quartos separados. "Não é a realidade social brasileira, já que há muitas residências pequenas com muitas pessoas. A situação brasileira complica a aplicação deste tipo de distanciamento, que também já foi chamado de isolamento vertical. O nome mais adequado é distanciamento social seletivo", recomendou.
Também é necessário que as pessoas sigam à risca. "As pessoas têm muita dificuldade de cumprir isso, então acaba sendo um mecanismo muito frágil para controlar a doença. O Reino Unido, por exemplo, adotou por um tempo e não deu certo, explodiu o número de casos", relatou.
Também pressupõe o cumprimento. "Este método é mais efetivo, já que reduz a circulação de pessoas e consequentemente o contato e o contágio. O distanciamento social ampliado diminui a velocidade da propagação da doença. O maior problema desta modalidade é o fator econômico, que vem sendo tão debatido", explicou.
Apesar de mais extremo, o bloqueio total não se apresenta como melhor opção em curto prazo, segundo a especialista Rubia Miossi. Além da situação econômica, que é bastante atingida, os primeiros resultados do lockdown aparecem a partir da terceira semana de aplicação. "As pessoas adoecem e acabam contaminando quem está com elas no domicílio", relatou.
A proposta de bloqueio funcionaria adequadamente caso partisse de um distanciamento ampliado em que o número de casos confirmados da Covid-19 já tivesse esgotado o sistema de saúde. "Neste caso o bloqueio funcionaria, porque as pessoas já estariam em casa mesmo", ressaltou a médica.
De acordo com Miossi, o mais importante é saber que nenhum dos três conceitos precisa seguir a sequência para ser aplicado. Existem lugares que, por exemplo, não necessitam de lockdown, que tenham sistema de saúde muito bem equipado. "Acredito que nenhum país tenha essa condição, acabou que todos acabaram correndo atrás do prejuízo depois", opinou.
Na visão da médica, não é apenas uma autoridade que define a medida mais eficaz a ser tomada, mas devem ser levadas em consideração as várias áreas de conhecimento. "Não é uma decisão que o governador toma sozinho, ele deve ser assessorado por experts de várias áreas", disse.
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