O índice de assassinatos aumentou em 21,7% na Região Metropolitana do Espírito Santo em 2020. De acordo com dados da Secretaria de Estado da Segurança Pública e Defesa Social (Sesp), apenas o município de Vitória teve uma queda nesse tipo de crime, de janeiro a agosto deste ano, se compararmos com o mesmo período de 2019.
Em contra partida, Vila Velha foi o município onde mais aumentou o número de casos de um ano para outro. A Gazeta conversou com especialistas em segurança para entender porque a Grande Vitória teve um acréscimo de mortes violentas.
A cidade onde houve mais homicídios foi Cariacica, com 121 casos de janeiro a agosto de 2020, 23% a mais do que no mesmo período de 2019, quando houve 98 crimes desse tipo. Em seguida, vem o município da Serra, com 121 homicídios. O aumento foi de 25%, pois nos primeiros oito meses de 2019 a cidade teve 97 ocorrências.
Já em Vila Velha, foram registrados 113 assassinatos de janeiro a agosto de 2020 e 86 no mesmo período de 2019. O acréscimo representa 31%.
Guarapari registrou 25 homicídios nos primeiros oito meses de 2020 e 20 no mesmo período de 2019, representando um aumento de 25%. Enquanto Viana registrou 14 assassinatos de janeiro a agosto de 2020 e 13 no mesmo período de 201 - ou seja, 8% de acréscimo.
Já em Vitória foram 44 assassinatos nos primeiros oito meses de 2020 e 46 de janeiro a agosto de 2019, uma redução de 4%.
Um dos fatores que podem ter influenciado no aumento de assassinatos em 2020 é que no ano passado o Espírito Santo apresentou o menor número de homicídios em 24 anos, de acordo com o secretário de segurança pública Alexandre Ramalho.
"Em 2019, as estatísticas foram as melhores da história, em 24 anos, com menos de mil homicídios no Estado. Isso também foi refletido na Grande Vitoria. Então qualquer variação para cima, em 2020, faria uma diferença. Em março deste ano tivemos 95 homicídios, destoando dos outros meses. Esse número foi diminuindo nos meses seguintes, até que fechamos agosto com 38 casos, mesmo número de agosto do ano passado", afirma.
Ramalho completou que 80% dos assassinatos no Espírito Santo estão ligados ao tráfico de entorpecentes, com a utilização de armas de fogo. Ele acredita que no mês de março o conflitos de gangues rivais foi acirrado, influenciando no número de homicídios.
"A gente percebe que em determinado momento acirra esse conflito entre grupos rivais, movidos a desde motivos fúteis - como brigas em redes sociais, até um acerto de contas e disputa por um ponto de venda. Março é um mês que destoa, mas ainda é cedo pra falar se teve relação com a pandemia, se pessoas deixando de circular nas ruas pode ter contribuído na busca de pontos mais visíveis. Vimos muitas mortes seguidas na mesma região, o que aponta um crescimento de uma guerra do tráfico de forma localizada", disse.
Embora Ramalho afirme que ainda é cedo para relacionar o aumento de assassinatos de 2020 com a pandemia, Daniel Cerqueira, diretor-presidente do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), acredita que o isolamento social é uma hipótese plausível para o acréscimo.
"Uma hipótese que precisa ser aprofundada, mas é plausível, é que com a pandemia as pessoas se retiraram das ruas e as vendas do trafico drogas diminuíram. Em função dessa diminuição, houve a briga para dominar pontos rivais e expandir os negócios", disse.
Outra hipótese apontada por Daniel Cerqueira que pode ter influenciado no aumento de homicídios na Grande Vitória tem relação com a nova legislação armamentista do Governo Federal.
"Houve uma série de mudanças administrativas permissíveis ao acesso à arma de fogo e munições. Além disso, há um movimento Governo Federal de colocar obstáculos no rastreamento de munições, em uma ação política que revogou portarias. Ou seja, a legislação armamentista representa uma maré a favor dos homicídios no Brasil", disse.
O secretário Alexandre Ramalho informou que após os altos números de homicídios em março, a Secretaria de Segurança (Sesp) fez um mapeamento dos locais mais críticos e intensificou os mandados de busca e apreensão, os mandados de prisão, e as operações.
"Tivemos 11.298 mil pessoas detidas, além de 1.107 homicidas e 1.320 armas retirados das ruas em 2020. Desarticulamos muitas quadrilhas e prendemos muitas lideranças, como no caso da Piedade, no Centro de Vitória, onde prendemos o Rafael Batista Lemos, o 'Boladão', responsável por vários assassinatos na região. Mas não tem como diminuir o número de homicídios apenas com a polícia. Por isso o programa Estado Presente tem trabalhado também a questão social, com a Secretaria de Direitos Humanos, para permitir outras visões de mundo para esses jovens", disse.
Enquanto em 61 cidades ocorreram homicídios dolosos no Espírito Santo em 2020, 17 municípios não registraram assassinatos nos primeiros oito meses do ano: Água Doce do Norte, Alfredo Chaves, Governador Lindenberg, Ibitirama, Jerônimo Monteiro, João Neiva, Marilândia, Mucurici, Muqui, Ponto Belo, Presidente Kennedy, Rio Bananal, Santa Leopoldina, São Domingos do Norte, São José do Calçado, São Roque do Canaã e Venda Nova do Imigrante.
Inclusive, caso permaneça sem assassinatos até o dia 16 de outubro deste ano, Alfredo Chaves vai atingir a marca de seis anos sem homicídios registrados na região.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta