Quem frequenta as praias da Grande Vitória já deve ter visto que, em alguns pontos, a areia apresenta cor preta, diferente do tom dourado que predomina na maior parte do litoral. À primeira vista, essa tonalidade escura desperta preocupação em alguns. Será que é esgoto? Tem minério de ferro? Pode fazer mal à saúde? Ou são areias monazíticas?
Para responder essas e outras perguntas, pesquisadores do Departamento de Geologia da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), a convite da ArcelorMittal, realizaram coletas únicas desse material escuro a cada dois meses, entre 2018 e 2019, em 22 pontos da faixa litorânea que vai de Aracruz a Guarapari, para saber o que compõe esse tipo de areia.
Entre as praias onde foram feitas coletas estão algumas das mais conhecidas de Vitória – Camburi, Ilha do Boi e Ilha do Frade – e Vila Velha – a Praia da Costa.
E o resultado constatou que há, sim, minério de ferro em alguns trechos do litoral, mas, em outros, a maior parte desses “grãos pretos” são naturais.
O relatório aponta que a maior parte da areia escura nas praias do Estado vem de rochas da região serrana, que foram se decompondo ao longo do tempo. De acordo com os pesquisadores, esse material foi trazido pelas águas correntes dos rios até a linha da costa. Com a ressaca do mar, os componentes mais pesados acabaram se depositando na areia.
Na Ilha do Boi, por exemplo, foi constatado que 13% da areia escura é formada por minerais de ferro não industriais e outros 17% são de ilmenita, mineral que costuma ser encontrado em grandes concentrações na areia das praias. Na Praia da Costa, foram detectados 43% de ilmenita e 57% de outros componentes.
Porém, há praias onde foram encontrados minerais não-naturais. Em um trecho de Camburi, 13% do material existente nas areias coletadas foram minério de ferro, advindo de atividades industriais ou de transporte marítimo. Outros 27% referiam-se a minerais de ferro não industriais, além de 60% de ilmenita.
De acordo com o pesquisador e professor do Departamento de Geologia da Ufop, Paulo de Tarso, durante a amostragem de um ano, a Praia do Tanque, localizada na Serra, foi identificada com a maior porcentagem de minério industrial.
“Na Praia do Tanque, que fica nas proximidades da ArcelorMittal Tubarão, somente uma das amostras deu 17%, o que não é uma concentração muito grande. A maioria são minerais escuros que chegam comumente nas praias do Espírito Santo” explica o professor.
Em outras regiões, também houve coletas, como nas praias de Itapuã (Vila Velha), Santa Mônica (Guarapari) e Jacaraípe (Serra). Contudo, apenas o resultado de alguns locais foram divulgados. Confira na tabela abaixo.
Com a descoberta de que boa parte das areias escuras em algumas praias do Estado são naturais, surge outra dúvida: esse material tem alguma propriedade que faz bem à saúde, como a areia monazítica? Ou são diferentes do material encontrado na Praia da Areia Preta, em Guarapari, e não trazem benefícios?
“Nem toda areia que é escura tem o mesmo benefício. Isso vai depender dos minerais que estão presentes naquela região. No caso de Vitória e Vila Velha, não têm uma concentração que seja benéfica, mas também nada que traga algum malefício. Simplesmente são areias escuras, formadas por minerais escuros. Apenas por conta de uma estética humana, por ter uma material escuro, pode ser associada ao esgoto e outras coisas. Contudo, não é o caso. A areia é naturalmente assim”, destacou o professor.
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