De um lado, rodoviários de braços cruzados com salários e tíquetes-alimentação atrasados. Do outro, uma empresa de ônibus que sofre com as consequências da pandemia do novo coronavírus e não consegue honrar os seus compromissos. No meio disso tudo, o passageiro de Vitória, que enfrenta um transporte público cheio com menos ônibus em circulação.
Assim vem sendo a realidade do usuário do transporte público municipal de Vitória desde que a crise na Viação Tabuazeiro se tornou mais evidente. A empresa é uma das três que operam linhas do sistema municipal de transporte coletivo na Capital, os chamados "verdinhos".
Desde abril, foram registradas pelo menos quatro paralisações dos rodoviários da Tabuazeiro a última delas começou na terça-feira (22) e ainda não terminou.
O motivo é sempre o mesmo: salários, adiantamentos e tíquetes-alimentação que não são pagos em dia. No início da pandemia, quando a circulação de pessoas era bem mais restrita na Grande Vitória, as empresas de ônibus registraram uma redução de 80% no número de passageiros. Essa, inclusive, foi a principal justificativa usada pela empresa na primeira dessa série de paralisações, que ocorreu em abril e durou quase um mês.
Na ocasião, o Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Espírito Santo (Setpes) informou que as viações estavam com arrecadação de apenas 20% do faturamento, o que inviabilizava o pagamento de todas as despesas para a operação das frotas. E acrescentou ainda que as empresas municipais de transporte coletivo não recebem subsídio da prefeitura, ou seja, a arrecadação ocorre com a venda de passagens. O problema não é restrito a Vitória em Vila Velha, a Viação Sanremo citou a pandemia ao abrir um plano de demissão voluntária dos rodoviários.
A crise foi agravada pela pandemia, mas não começou nos últimos meses. Essas empresas municipais já sofrem, muitas vezes, com a concorrência direta do Sistema Transcol, que chega a ter linhas com trajetos semelhantes aos chamados "ônibus verdinhos". A diferença entre os dois sistemas é que, no Transcol, as empresas recebem subsídio do governo do Estado, o que ajuda a equilibrar as contas.
Uma solução apontada para resolver a crise no sistema municipal é a integração dos ônibus de Vitória e Vila Velha ao sistema Transcol. Mas esse processo, que antes estava previsto para ser consolidado no primeiro semestre de 2020, foi atrasado pela pandemia.
"Não adianta nada fazer a integração e ter mais empresas quebrando, mais empresas sem sustentabilidade. A gente precisava recuar um pouco para entender como vai ficar o processo de pandemia, como vai ser a retomada desse novo transporte, como será a retomada dos passageiros para depois voltar a análise da integração, mas é obvio que a integração precisa ser feita e é uma necessidade", explicou o secretário de Estado de Mobilidade e Infraestrutura, Fábio Damasceno, em entrevista para A Gazeta em julho deste ano.
Outra alternativa apresentada por rodoviários foi uma lei, aprovada na Câmara de Vereadores, que autoriza a Prefeitura de Vitória a subsidiar o transporte público municipal durante a pandemia. Como o prefeito Luciano Rezende não vetou nem sancionou o projeto dentro do prazo, a lei foi promulgada pela Câmara.
Procurada pela reportagem, a Prefeitura de Vitória disse que fez várias ações para garantir a operação e a manutenção do sistema, como proposta de isenção do Imposto Sobre Serviços (ISS), parcelamento de dívidas das empresas com o município e até antecipação de crédito de mais de meio milhão de reais relativos aos vales-transporte dos servidores. Por fim, garantiu que, semanalmente, desde o início da pandemia, faz avaliações e ajustes de linhas e horários dos ônibus das empresas como mais uma alternativa para manter a frota em circulação.
Na manhã desta sexta-feira (25), a secretária de Transportes, Trânsito e Infraestrutura Urbana de Vitória (Setran), Ana Elisa Nahas, embora não diga que a pasta descartou essa possibilidade de pagar subsídios às empresas, afirmou que é preciso ter "responsabilidade com o dinheiro público" .
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