Há 34 anos era inaugurado um dos principais cartões-postais do Espírito Santo: a Terceira Ponte. Tão antigo quanto essa via que liga Vitória a Vila Velha é o problema do gargalo no trânsito que acabou sendo criado na Praça do Cauê, na Praia de Santa Helena. Ao longo das últimas décadas, várias propostas foram discutidas e apresentadas para resolver a questão do fluxo de veículos na região. Agora, a atual gestão da Prefeitura de Vitória bateu o martelo e resolveu que irá reduzir o tamanho praça e aumentar o número de pistas no entorno para tentar acabar com os constantes engarrafamentos no acesso à ponte.
Assim, foram descartados projetos estudados nos últimos anos, como túnel para veículos passarem por baixo da praça; elevado para que os carros passem por cima; e até cortar a praça no meio para que a Reta da Penha fosse prolongada de forma direta até a Terceira Ponte. Dessa vez, a Prefeitura de Vitória pretende fazer uma intervenção menor do que as propostas anteriores. Segundo o secretário municipal de Obras, Gustavo Perin, dois cantos da praça serão retirados permitindo a criação de uma terceira faixa de trânsito na pista que fica no entorno do espaço de lazer.
"Fizemos um estudo de microssimulações de tráfego, mostrando o que melhora e o que piora com as intervenções. Na praça, vamos fazer uma modificação simples, passando de duas faixas para três no entorno dela, com uma modificação geométrica, retirando os cantos da praça", explica.
Segundo Perin, o estudo feito pela atual gestão não constatou benefícios no projeto que previa cortar a praça no meio . "A gente já tinha muito claro que, para a comunidade, já está solidificado aquele equipamento de lazer. Nas simulações que fizemos, não haveria ganhos para justificar cortar a praça", afirma.
A atual gestão da Capital não é a primeira a estudar e apresentar uma possível solução para o tráfego intenso no entorno da Praça do Cauê, em direção à Terceira Ponte. Outras gestões municipais e estaduais já elaboraram projetos.
No caso do governo do Estado, houve propostas em discussão para a melhoria do tráfego na região, no lançamento das obras ampliação do número de faixas e de construção da ciclovia da Terceira Ponte. A Gazeta demandou a Secretaria de Estado da Mobilidade e Infraestrutura (Semobi) a respeito do novo projeto para o trânsito na Praça do Cauê, mas não houve retorno até a publicação deste texto.
A reportagem de A Gazeta fez um levantamento das ideias para o trânsito na região ao longo de quase duas décadas.
Em julho 2007, a Rodosol, que ainda era concessionária da Terceira Ponte, propôs fazer uma ligação direta da Reta da Penha com a Terceira Ponte. Na época, o então prefeito de Vitória, João Coser, chegou a dizer que estava disposto a "encarar o desafio" proposto pela empresa.
"Podemos elevar a praça para manter suas características ou fazer com que a via passe por baixo dela“, disse Coser, em uma coletiva de imprensa, onde chegou a afirmar que o projeto já estaria orçado e custaria R$ 30 milhões.
A reportagem de A Gazeta — ainda em jornal impresso — procurou a Prefeitura de Vitória, em novembro de 2008, para saber se havia projetos de ampliação da entrada da Terceira Ponte para minimizar os efeitos do trânsito no acesso. As assessorias de imprensa das secretarias de Transportes (Setran) e de Desenvolvimento da Cidade (Sedec) disseram que, em 1999, foi realizado um estudo sobre uma possível intervenção no final da Reta da Penha, passando pela Praça do Cauê, para dar passagem em direção à Terceira Ponte, mas destacaram que, naquela época, em 2008, não havia nenhum projeto a esse respeito.
Em setembro daquele mesmo ano, no entanto, em uma sabatina com candidatos à eleição, João Coser disse que tinha, sim, um estudo. "Nós estamos trabalhando também um estudo de acesso à Terceira Ponte, passando ali pela Praça do Cauê", afirmou na ocasião, sem dar detalhes.
Naquele ano, um estudo para a implantação da primeira etapa de um projeto de corredores exclusivos para ônibus na Grande Vitória previa algumas intervenções, como a construção de passarelas, mergulhões e um túnel próximo à Praça do Cauê.
O acesso à ponte pela Praça do Cauê era alvo de reclamação de moradores da região, principalmente por causa do barulho. Na época, Fábio Damasceno, que hoje é secretário de Mobilidade e Infraestrutura do governo do Estado, era secretário municipal de Transportes e foi procurado para responder às queixas. Uma nota foi enviada sobre o assunto dizendo que um "novo" projeto para a Praça do Cauê estava em estudo.
No mesmo ano, Damasceno deu uma entrevista confirmando que o acesso à ponte pela praça seria definitivo, sem intervenções na área. Mas as reclamações fizeram a prefeitura desenvolver um projeto.
Dessa vez, o secretário de Desenvolvimento da Cidade naquele ano, Kléber Frizzera, descartou os planos que haviam sido feitos até então, dizendo que não existia a possibilidade de o trânsito passar por cima ou por baixo da praça e enfatizou que o tamanho da área de lazer não seria alterado.
Durante seu primeiro governo, Renato Casagrande anunciou o Programa de Mobilidade Metropolitana, que previa um investimento de R$ 3 bilhões. Entre as obras previstas, estava a abertura da Praça do Cauê.
Quando havia a intenção de ter um sistema BRT em Vitória, o edital de obra com uma via cortando a praça em duas foi lançado em março de 2013. A previsão era de que as obras começassem em 90 dias e havia até projeção, que pode ser vista abaixo.
O projeto chegou a ser apresentado pelo então prefeito Luciano Rezende no programa Bom Dia ES, da TV Gazeta. Nessa proposta, os ônibus não passariam por cima da praça.
O projeto anunciado em 2013 não foi para frente. Em 2017, a ideia de fazer uma pista passando por cima da praça foi retomada e a prefeitura anunciou que havia começado um novo estudo de viabilidade. A previsão era que as mudanças ficassem prontas apenas no ano seguinte, 2018.
A ideia da pista passando no meio da praça foi mais uma vez retomada. Dessa vez, com um projeto que pretendia ampliar as laterais da área de lazer. A esperança da Prefeitura de Vitória era fazer parcerias com o governo de Renato Casagrande, que retornaria ao Palácio Anchieta no ano seguinte, depois de um mandato de Paulo Hartung.
"Estamos amadurecendo o projeto e vamos retomar a discussão com o governo eleito já nos primeiros meses de 2019. Com a mudança, esperamos novas parcerias e que sejam retomadas obras e ações paradas em Vitória há muito tempo", disse o prefeito Luciano Rezende na época.
À frente da Secretaria de Mobilidade e Infraestrutura (Semobi), Fábio Damascendo falou sobre as obras na Terceira Ponte — ciclovia e ampliação do número de faixas — e citou o projeto de "corte" para a Praça do Cauê. “No momento, a Prefeitura de Vitória está discutindo os detalhes com a comunidade. Tudo estando resolvido, o Estado faz a nova Praça do Cauê”, disse, na ocasião.
No ano passado, o empresário, que também já foi conselheiro da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário do Espírito Santo (Ademi-ES), e colunista de A Gazeta Luiz Carlos Menezes defendeu a ideia de fazer uma ligação entre a Reta da Penha e a Terceira Ponte.
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