Uma das principais medidas para evitar o novo coronavírus é o isolamento social. Mas após quatro meses de quarentena, muita gente já está frequentando calçadões, praias e parques para fazer atividades físicas. Segundo especialistas, é possível praticar os exercícios nas ruas desde que isso seja feito de forma responsável, tomando precauções - como, por exemplo, evitar os horários de pico, usar máscaras e manter o distanciamento. Entenda os riscos e os cuidados necessários ao decidir sair de casa.
A prefeitura de Vila Velha, por exemplo, já retirou barreiras da ciclovia e liberou o acesso ao Morro do Moreno, flexibilizando o ingresso a esses locais. A cidade lidera o número de casos de Covid-19 em todo o Espírito Santo, com mais de 10 mil notificações.
Sobre o assunto, a epidemiologista Ethel Maciel incia afirmando que o ideal seria que ninguém saísse de casa e permanecesse fazendo exercícios dentro da própria residência. Porém, sabendo que existem pessoas que irão se expor de qualquer forma e aquelas que precisam sair para manter a saúde mental, ela diz que é mais seguro fazer os exercícios ao ar livre do que em uma academia, por exemplo.
"Pelos riscos, o ideal seria não sair. Mas considerando que a pessoa precise disso, ela deve adotar algumas estratégias como: manter a maior distância possível dos outros, usar a máscara da forma correta (cobrindo o nariz e a boca, sem colocar as mãos no tecido, falar muito ou usar a mesma por muitas horas), evitar locais que não possuem ventilação de ar, eleger horários e dias que não são concorridos, evitar esses exercícios em barras e academias populares ou usar o álcool em gel nos aparelhos e evitar colocar as mãos no rosto", afirmou.
Dentre as principais orientações para fazer atividades ao ar livre com segurança, o distanciamento social é um dos mais importantes, segundo o médico infectologista Lauro Ferreira Pinto. Ou seja, não adianta sair de casa sozinho e fazer aglomerações durante os exercícios ao ar livre. Nesse momento, os especialistas pedem que as pessoas deem uma nova rotina aos velhos hábitos.
"Entendo que as pessoas estão exaustas e que a atividade física faz bem à saúde. Mas é preciso escolher os horários de menos movimentação no calçadão, por exemplo, e manter a distância segura. Eu reforço, ainda, a importâncias das máscaras - principalmente em locais fechados, como o transporte público e as academias. Tem gente que se sente desconfortável com as máscaras, então deve priorizar ficar isolado para retirar o utensilio e colocá-lo de volta quando perceber a presença de alguém. Mas jamais deixá-la pendurada, porque aí você acaba contaminando", disse.
O médico completou que é preciso um cuidado a mais com as máscaras, pois se o tecido ficar úmido de suor ou saliva, não irá funcionar. Com isso, a melhor forma é ter uma segunda opção para trocar a máscara ou não usá-las nos exercícios mais pesados, desde que a pessoa esteja sozinha. A indicação vale até mesmo para pessoas que estão no grupo de risco.
"O desafio é desacelerar o efeito platô na curva de contágio, para assim diminuir os números de mortos. Se a pessoa seguir todos esses cuidados para manter o isolamento social até mesmo ao sair - como escolher horários com menos gente na rua, por exemplo, acho que qualquer pessoa pode ir ao calçadão ou à praia, até as do grupo de risco, se ela estiver sentindo-se triste, sozinha... Mas se a pessoa está bem em casa, o ideal é permanecer", alertou.
Em meio essa discussão, um estudo que aponta um alto risco de contaminação pelo ar durante os exercícios físicos nas ruas tem causado preocupação para alguns especialistas. Pesquisadores da Bélgica e da Holanda realizaram uma simulação computadorizada que recomenda que, dependendo da atividade física ao ar livre, as pessoas mantenham distância de até 20 metros umas das outras durante a pandemia da Covid-19.
Os cientistas fizeram simulações em computador de movimentos de caminhada, corrida e pedalada, concluindo que as gotículas de saliva emitidas pelas pessoas durante esses exercícios ficam no ar logo atrás delas enquanto elas se movimentam. Enquanto uma caminhada aponta risco com distância inferior a cinco metros, esse espaço entre as pessoas deveria ser maior quando trata-se de corrida (10 metros) ou pedalada (20 metros).
Os pesquisadores não analisaram o vírus da Covid-19 em si, mas a forma com que as gotículas de saliva viajam pelo ar. O estudo, porém, não foi publicado em revistas científicas, sendo divulgado apenas pelas universidades responsáveis a Universidade de Tecnologia de Eindhoven, na Holanda, e a Universidade Católica de Leuven, na Bélgica.
Com tantas incertezas, a epidemiologista Ethel Maciel acredita que é válido seguir uma distancia mais segura que dois metros. Ela também alerta sobre a importância em evitar grupos de atividades físicas. "Sempre será melhor fazer isso sozinho ou com quem mora com você. Quem gosta de beber água de coco, por exemplo, é melhor levar a bebida para casa, onde será possível fazer uma higienização da superfície e sem risco de aglomeração", afirma.
Na hora de decidir se irá ou não sair para ir ao calçadão, praia ou parque, o momento atual exige bom senso. O médico cardiologista Henrique Bonaldi explicou que se toda a população entender a importância do distanciamento, será possível realizar a atividade com segurança.
"Como cardiologista, eu sou o mais interessado em que as pessoas se exercitem. Mas como um jogo, as regras mudaram e quem decide onde vamos, quando e como, não somos mais nós e sim o coronavírus. E ele (o vírus) diz que quanto mais encontrarmos pessoas, pior será para a população. Uma partida de futebol, por exemplo, não é recomendado. Pois além de vários jogadores e reservas, sempre tem alguém da família. Agora é o momento de escolher outras atividades menos danosas, como nadar e andar de bicicleta - sempre sem aglomeração, com distanciamento e máscara", orienta.
O médico completa que o bom senso deve-se valer não apenas na escolha da atividade e medidas de segurança já conhecidas, mas também no local e horário que ela será realizada. Devido estudos que mostram que durante as atividades físicas as gotículas lançadas pelo corpo humano podem ultrapassar dois metros, ele afirma que é mais seguro manter a maior distância possível nesses momentos, além de usar as máscaras - que ele define como uma forma de respeito ao próximo.
"O ideal é escolher lugares e locais diferentes daqueles escolhidos pelos aglomerados. Enquanto o calçadão de Camburi está cheio, não vejo a mesma quantidade de gente na BR 262 e Manguinhos, por exemplo. Enquanto às 7h ou 18h vemos um pico na movimentação, o mesmo não ocorre no meio da tarde ou após às 22h. Quem quer sair para lazer, pode fazer isso uma ou duas vezes na semana, evitando os feriados e fins de semana. Eu vou em uma praia vazia de Manguinhos toda segunda-feira com minhas filhas. Aí as pessoas perguntas: Você? Um médico saindo? Sim, não tem ninguém lá. Aí chega o fim de semana e nos trancamos em casa porque sei que terá aglomeração naquele local. Se houver esse cuidado, a chance de infecção é mínima", diz.
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