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Praia no ES é a segunda com mais microplástico no Brasil

Praia no ES é a segunda com mais microplástico no Brasil

Conceição da Barra, no Norte do Espírito Santo, fica atrás apenas de Mongaguá, em São Paulo. O estudo analisou as praias de Pontal do Sul e de Itaúnas

Publicado em 3 de outubro de 2024 às 13:59

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Praia do Pontal do Sul, em Conceição da Barra: cidade está no ranking das que possuem maior quantidade de microplástico por metro quadrado no país
Praia do Pontal do Sul, em Conceição da Barra: cidade está no ranking das que possuem maior quantidade de microplástico por metro quadrado no país. (Redes sociais)

Uma praia da cidade de Conceição da Barra, no Norte do Espírito Santo, é a segunda mais poluída por microplásticos de todo o Brasil. Ela ficou atrás apenas de Mongaguá, em São Paulo. Essa poluição se refere a partículas de plástico de até 5 milímetros consumidas pelos animais marinhos.

O estudo analisou as praias de Pontal do Sul e de Itaúnas. Segundo os resultados, a cada metro quadrado da Praia do Pontal do Sul, foram encontrados 44 pedacinhos de microplásticos, o que está acima da média do país, que é de 4,5 microplásticos por metro quadrado.

Entre o material mais encontrado pelos pesquisadores foram identificados em maior quantidade pedaços de plástico duro e linhas de nylon. O estudo foi divulgado pela ONG Sea Shepherd Brasil em parceria com o Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP). Foi realizada uma análise a partir de amostras coletadas em cada uma das 306 praias visitadas em todo o Brasil.

Retrato do Brasil

Conforme o relatório, a poluição do oceano causada por plásticos é descrita pela Organização das Nações Unidas (ONU) como um dos maiores problemas ambientais da história. Segundo o estudo, 100% das praias analisadas do Brasil contêm resíduos plásticos.

O plástico chegou até áreas mais afastadas da ação humana. Em 2023, cientistas e pesquisadores identificaram rochas que estão sendo formadas por plástico na Ilha da Trindade, um paraíso quase inabitado que fica a 1.140 quilômetros de Vitória, no Espírito Santo. Esta é a ilha brasileira mais distante do continente.

O novo estudo divulgado agora mostra também que microplásticos foram encontrados em 97% dos locais analisados. Do total de poluentes, 91% são plásticos, sendo 61% itens descartáveis, como tampas de garrafa. Entre os macros resíduos, o maior volume encontrado foi o de bitucas de cigarro.

A pesquisa foi divulgada na quinta-feira (19). Foram 16 meses de expedição, 7 mil quilômetros percorridos, 306 praias e 201 municípios visitados. No Espírito Santo, 17 praias em 13 municípios foram analisadas pela pesquisa. Confira a lista:

Praia no ES é a segunda com mais microplástico no Brasil

Entenda a pesquisa

A expedição seguiu uma metodologia científica rigorosa, seguindo o protocolo da Unep para a coleta de dados, com amostras analisadas em laboratório para identificar a origem dos microplásticos. O estudo mapeou as regiões mais e menos afetadas pela poluição, destacando áreas críticas. Cidades do Sul e Sudeste estão entre as mais impactadas.

Ong Sea Shepherd Brasil realizou pesquisa que analisou 17 praias em 13 municípios do Espírito Santo e também coletou amostrar em outras praias de todo o Brasil
Ong Sea Shepherd Brasil realizou pesquisa que analisou 17 praias em 13 municípios do Espírito Santo e também coletou amostras em outras praias de todo o Brasil. (Lucas Amorelli/ Sea Shepherd Brasil)

Embora o estudo apresente um ranking de praias e cidades mais poluídas, a presidente da Sea Shepard, Nathalie Gil, destacou que é importante considerar com cautela os resultados dessas análises mais focais, devido à menor representatividade do tamanho das amostras em algumas áreas.

"Esses dados fornecem uma fotografia indicativa relevante para gestores locais, ajudando a orientar ações de limpeza e preservação. Foi feita apenas uma leitura por praia. O estudo tem a intenção de mostrar uma fotografia nacional da situação dos resíduos no país e não tem a intenção de confirmar ranking de praias. Nossa intenção de mostrar os resultados em níveis de praias é para entender a variação máxima e mínima de cenários, e como estes são presentes em diversos estados do país e não isolados", pontuou.

Pesquisadores da Sea Shepherd coletaram amostras da Praia do Pontal do Sul, em Conceição da Barra, no Norte do Espírito Santo
Pesquisadores da Sea Shepherd coletaram amostras da Praia do Pontal do Sul, em Conceição da Barra, no Norte do Espírito Santo. (Lucas Amorelli/ Sea Shepherd Brasil)

Ao longo das 306 praias analisadas foram encontrados 16 mil fragmentos de microplástico e 72 mil macros resíduos. Em média, as praias brasileiras contêm 4,5 deles por metro quadrado e 0,5 macro resíduo por metro quadrado, ou seja, 1 resíduo a cada 2 metros quadrados.

Para garantir uma análise mais precisa e comparável entre as diferentes regiões, a ONG utilizou uma abordagem que considera a densidade de resíduos por unidade de área, o que permite uma comparação mais justa entre as áreas mais e menos poluídas.

Perfil da praia

Segundo o secretário de Meio Ambiente de Conceição da Barra, José Otávio Malta, o município tem 10 praias. A praia de Pontal do Sul possui proteção parcial, dentro da APA de Conceição da Barra e é uma área de desova de tartarugas. A prefeitura não soube afirmar se o local está próprio para banho.

É uma praia de difícil acesso, no distrito do Cricaré. Do Centro da cidade até a praia são 40 minutos de carro e, para chegar lá, é necessário pegar a BR-101 e passar por outro município. A outra praia da cidade analisada pela pesquisa é a de Itaúnas. Mas a grande concentração de plástico encontrada na praia de Pontal do Sul foi o que fez com que ela entrasse no ranking.

Segundo a presidente da Sea Shepard, a maioria dos resíduos de microplásticos que foi encontrado em Pontal do Sul é proveniente de embarcações de pesca, de modo geral.

"Cerca de 40% das amostras coletadas eram de polipropeno e polietileno de alta densidade, que é conhecido como plástico duro. E esse tipo de plástico é reciclável e não deveria estar sendo descartado nas praias. Cerca de 17% do material que encontramos era de derivados de cordas e cabos náuticos, embarcações no geral", destacou a presidente.

A população de Conceição da Barra, segundo o Censo de 2022 do IBGE, é de 27.458 pessoas, população bem menor do que a cidade Mongaguá, que aparece em primeiro lugar no ranking de mais poluída com microplásticos.

Mas por que uma cidade pequena e mais afastada apresenta uma quantidade tão grande de microplástico, maior até do que a média nacional? A presidente da Sea Shepard, Nathalie Gil, apontou que para esse resultado, diversos fatores sobre o caminho do microplástico devem ser levados em consideração.

"Podemos dizer que esse resultado se trata de uma anomalia, não é algo normal de ser encontrado. Mas isso pode acontecer por causa da composição de correntes marítimas que levam o microplástico até a praia, por causa da questão geográfica do local, por ser talvez uma rota em que passam muitas navegações, cruzeiros, além da atividade de pesca na região. Às vezes, isso também pode ser reflexo de cidades adjacentes", pontuou.

Panorama no ES

O g1 conversou com o pesquisador Ryan Andrades, que acompanha o cenário de macro e microplástico no estado há alguns anos. Ele é estuda biologia marinha na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Segundo o pesquisador, a posição da cidade capixaba no ranking pode estar atrelada ao fato de o município estar próximo à área de deságue de dois rios: o Itaúnas e o São Mateus.

"Não é surpresa uma cidade com as características de Conceição da Barra estar com uma grande quantidade de microplástico. É uma cidade litorânea que possui uma descarga de água continental, com praias vizinhas da boca do Rio São Mateus. Estudos publicados em 2020 e 2023 mostram que praias que possuem o rio desaguando no mar em seu entorno, tendem a ser mais poluídas por microplástico. As bacias hidrográficas carregam muita quantidade de lixo ao longo do fluxo de água, o que faz com que muito lixo acabe ficando depositado nas praias ao seu entorno", explicou o pesquisador.

Ryan apontou que o maior desafio é conseguir realizar um estudo que acompanhe a situação das praias ao longo do tempo, para ter um entendimento mais completo da poluição.

"Temos poucos estudos sobre micro e macroplástico em praias no estado. Eu coordeno um monitoramento em três praias desde 2018, e a partir disso estamos tentando desenhar para ver se essa poluição varia por estação ou outros fatores. São feitas muitas pesquisas sim, mas que trazem apenas um recorte do tempo em que foram analisadas. O que falta é um monitoramento de médio longo prazo", disse.

O que diz a prefeitura

O secretário de Meio Ambiente de Conceição da Barra, José Otávio Malta, também reitera a tese de que pelo fato de a cidade estar próxima do deságue de dois rios, o volume de lixo encontrado nas praias é maior.

Mas o secretário afirmou que é feita coleta regular de lixo três vezes por semana nas praias da cidade, mas como a praia de Pontal do Sul é de difícil acesso, a coleta acaba sendo mais irregular do que nas outras praias.

O secretário destacou ainda que a cidade vai focar, principalmente, em campanhas de educação ambiental que envolvam levar a comunidade local e alunos para realizar mais coletas na praia.

(Com informações da repórter Viviane Lopes, do g1 ES)

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