Há quase dois anos aguardando a realização de obras que vão transformá-lo em moradia popular, o Edifício Getúlio Vargas, mais conhecido como prédio do antigo IAPI, no Centro de Vitória, está em situação de abandono. Uma visita ao local, feita por nossa equipe, mostra o cenário de destruição, acentuado pelo lixo que se acumula e pelas infiltrações que tomam conta do imóvel.
Percorrer os seus andares foi uma verdadeira aventura, como relata o fotógrafo Fernando Madeira, que esteve no local na quarta-feira (13). Além de muito lixo acumulado, o imóvel está sem energia.
O acesso foi fechado com tapume e cerca de arame para impedir invasões. A entrada é controlado por uma pessoa de confiança da Associação Habitacional Comunitária do Estado do Espírito Santo (AHabitaes), a quem o prédio foi cedido em 2018, e que autorizou o nosso acesso.
A antiga recepção e térreo nem de longe lembram o passado do imóvel, que por anos foi a sede de diversos serviços de atendimentos à saúde, desde consultas a entrega de medicamentos. Local que sempre registrou muita movimentação de público.
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Os antigos elevadores já não funcionam. Parados no último piso, nunca mais desceram. O fosso de cada um deles está alagado, com as estruturas enferrujadas e entulhos foram jogados no local.
A subida aos andares superiores tem que ser feita pelas escadas, que acumulam entulhos, pássaros mortos e muita sujeira. Nas paredes ainda há vestígios da última ocupação, ocorrida em 2017, com pichações e marcas de incêndio.
O subsolo, onde no passado funcionava a garagem, lavanderia e vestiários, está alagado, situação que perdura há quase sete anos. As paredes já foram tomadas por plantas e musgo.
Pelos andares superiores, locais que antes abrigavam consultórios e salas de espera, o cenário é de completa destruição. Salas, banheiros, varandas, portas, janelas e até móveis antigos, nada sobrou. Alguns ambientes guardam marcas das muitas infiltrações
CENÁRIO DE FILME DE TERROR
Há 29 anos, o fotógrafo Fernando Madeira entrou pela primeira vez no prédio do IAPI. Estava em companhia de sua mãe, que o levava a uma consulta com um pneumologista.
Uma experiência que o marcou. “Lembro como se fosse agora, quando fiquei sentado num banco de madeira aguardando ser chamado. O local era muito movimentado, com várias pessoas buscando tratamento em diversas áreas”, recorda.
Retornar ao local foi como fazer uma viagem ao passado. “Ao entrar no saguão deste mesmo prédio, não consegui deixar de fazer uma viagem no tempo e resgatar na memória daquilo que um dia teve vida”, relata.
A sensação foi de tristeza. “Os corredores, antes ocupados por pessoas, hoje dão lugar ao lixo. Nos consultórios, móveis destruídos; nos guichês de atendimento só vi poeira e paredes com buracos. No teto, muitas infiltrações. O local seria um cenário perfeito para um filme de terror. Para onde se olha só há destruição”, conta.
SEM DINHEIRO PARA MANUTENÇÃO
A Associação Habitacional Comunitária do Estado do Espírito Santo (AHabitaes) é a responsável pela manutenção do Edifício Getúlio Vargas. Segundo a presidente da instituição, Maria da Penha de Souza, é um trabalho que vem sendo feito com dificuldade.
O grande problema é a falta de recursos. “Nos entregaram o prédio, mas não liberaram recursos. É difícil manter a estrutura”, desabafa Penha, que conta com o apoio de uma pessoa para tomar conta do local e impedir invasões.
Um dos riscos constantes tem sido os vidros das janelas, que ameaçam cair e podem atingir quem passa pelas imediações do prédio. "É uma luta e estamos muito preocupados. Quando começa a ventar forte, reunimos algumas pessoas e vamos ao prédio retirar os vidros”, relata.
Um trabalho difícil já que as janelas de madeira estão apodrecidas. “Já tive que correr para o prédio às 23 horas e passar parte da madrugada retirando vidro, com muito jeitinho. Estamos muito preocupados com esta situação”, conta Penha.
PROJETO SUSPENSO POR FALTA DE RECURSOS
A proposta para o Edifício Getúlio Vargas, localizado na Praça Costa Pereira, no Centro de Vitória, é que ele fosse convertido em moradia popular para 106 famílias. Para esta finalidade o prédio foi cedido pela União para a Associação Habitacional Comunitária do Estado do Espírito Santo (AHabitaes).
A instituição fez o projeto e seu licenciamento urbanístico e ambiental, mas ainda não conseguiu o financiamento para as obras. Segundo a Caixa, a contratação de empreendimentos do Programa Minha Casa Minha Vida - Entidades, com recursos do Fundo de Desenvolvimento Social (FDS), foi suspenso em setembro de 2018.
Maria da Penha de Souza, presidente AHabitaes, relata que sem os recursos não têm como tocar a obra.“Estamos com tudo pronto e aprovado, até com licença de obra. Só falta o financiamento”, conta.
Outro complicador são os prazos estabelecidos no contrato de cessão firmado com a União. A meta para a instituição é de que em até dois anos fosse viabilizado, inclusive, o financiamento da obra. Sem o cumprimento desta exigência, a União pode retomar o imóvel a partir de novembro, quando vence o prazo. “O que paralisou os trabalhos foi a falta de financiamento. Cumprimos a nossa parte”, observou Penha.
Numa tentativa de impedir a perda do imóvel, a AHabitaes já enviou à SPU-ES um ofício solicitando a prorrogação da cessão por mais dois anos. Argumentam que o contrato que está vencendo foi rigorosamente cumprido, mas que a reforma não foi feita por conta da suspensão do financiamento. Ainda não houve resposta.
O superintendente de Patrimônio da União, Márcio Furtado, informou que o contrato será respeitado, mas que se não houver a verba prevista para a reforma, no prazo, o imóvel poderá ter outra destinação. “Não pode um imóvel no Centro de Vitória ficar abandonado, havendo demanda por ele. Poderá ter outra destinação”, explicou.
A União anunciou, no final mês de julho, que irá vender no Estado um total de 12 imóveis. Dentre eles os galpões do IBC, campo de futebol, casas, salas comerciais e terrenos.
HISTÓRICO DE PERDAS
Localizado na Praça Costa Pereira, no Centro de Vitória, o Edifício Getúlio Vargas, com 14 pavimentos, começou a ser construído no final da década de 50. Mais conhecido como prédio do IAPI, chegou a abrigar alguns dos principais serviços de atendimentos à saúde.
Por volta de 2007, o prédio foi desocupado. Desde então enfrenta situação de abandono e sofre com a ação do tempo. Até árvores e grama já nasceram em suas janelas.
Em 2017, o prédio chegou a ser ocupado por mais de 300 famílias, que foram de lá retiradas por decisão judicial. Em 2018, foi decidido que ele seria convertido em moradia popular. Agora, em 2020, corre o risco de ser retomado pela União para outra destinação.
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