A Prefeitura da Serra demitiu uma médica que trabalhava na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Serra Sede, no município serrano, após a morte de um jovem de 27 anos. Melvin Aquirrame Ferreira Lourenço chegou ao local no sábado (5) sem conseguir andar e com fortes dores, conforme a família, mas recebeu alta. O nome da profissional não foi informado.
O homem então seguiu para um hospital estadual na cidade e depois para a UPA de Castelândia, onde morreu esperando atendimento, de acordo com parentes. Ele deixa esposa e uma filha de dois anos.
A administração central da cidade confirmou também ter afastado os demais profissionais diretamente relacionados à ocorrência preventivamente, até a completa apuração dos fatos. A família de Melvin contou que foram oito horas entre ele procurar o primeiro atendimento no Upa da Serra e morrer na de Castelândia.
O cunhado de Melvin, o gerente de vendas Denilson Pires, reclamou por Melvin ter recebido a classificação de risco na cor laranja - muito urgente - e não vermelha - emergência absoluta. A causa declarada para a causa da morte são: edema cerebral, choque cardiogênico, edema agudo do pulmão, tromboembolismo pulmonar.
O familiar contou que tudo começou na madrugada de sábado (5). Melvin acordou já se sentindo mal, mas o quadro se agravou no banheiro, quando ele começou a não conseguir mais andar e caiu. O patrão dele o levou à UPA.
“Ele entrou de cadeira de roda e o médico fez a triagem, perguntas e pediu exames. Nesse tempo trocou o plantão da unidade e outra médica prosseguiu com atendimento dele. E essa médica reavaliou, aplicou medicação para dor, porque ele ainda estava com dor. Depois de um tempo diagnosticou uma lombalgia, deu um atestado de dois dias para ele, passou uma medicação para ele seguir para casa e deu alta”, contou Denilson.
Mesmo com a liberação, o jovem continuava passando mal. Conforme Denilson, ele ainda relatou uma piora no quadro clínico ao sentir os braços ‘formigando’. O patrão – que ficou de o buscar – aconselhou a ir direto para o Hospital Jayme dos Santos Neves, no município serrano, onde o encontraria.
No local, Melvin já não conseguia sair do carro de aplicativo devido a condições físicas. O cunhado dele explicou que a enfermeira do Jayme avaliou o paciente dentro do veículo. “Lá ele olhou a pressão, olhou a saturação, fez essa uma avaliação prévia e identificou que ele tinha sintomas cardiovasculares”, contou.
A profissional da saúde explicou a Melvin que o hospital conta com um protocolo: atender pessoas encaminhadas por médicos ou que chegam de ambulância.
“A própria enfermeira falou: "Volta para a UPA e pede o encaminhamento, explica os sintomas, ele pede o encaminhamento e aí você volta para cá, porque aqui eu tenho um neurocirurgião para te atender, eu tenho uma vaga, tenho um leito, tenho tudo disponível", disse o parente.
Por volta das 11h, já há quase sei procurando a causa das dores, Melvin se encaminhou até a UPA de Castelândia. O familiar dele disse que o motorista de aplicativo e a mãe dele que chegou na unidade o ajudaram a entrar. O parente conta que ele recebeu novamente a pulseira amarela ao passar pela triagem. Foi solicitado o encaminhamento, mas informaram que passaria por avaliação.
Na informação de pré-consulta registrada no prontuário de Melvin feito na unidade está que ele relatou sentir dores nos membros inferiores há 10 dias e que apresentou paralisia no mesmo local com perca da força motora em membros superiores e inferiores no sábado. Logo depois, colocaram o jovem em uma maca no corredor em espera para ser chamado a sala do médico. Enquanto aguardava, Melvin pediu para falar com a esposa e a filha por videochamada e conseguiu conversar com elas por um tempo.
Pouco depois, o cenário piorou, de acordo com Denilson. Outros pacientes que estavam no corredor afirmaram que Melvin começou a reclamar de dor no peito e falta de ar.
“O pessoal disse que a enfermeira levou ele correndo para o sala e começaram a reanimar. O médico que socorreu ele até tentou entender também o que tinha acontecido antes, porque ele chegou na sala do médico já tão grave. Ele relatou que eles tentaram reanimá-lo por 45 minutos, que é até um período acima do normal do protocolo, que é 30 minutos, mas por ele ser um paciente mais jovem, eles tentaram com mais tempo”, contou.
O sentimento da família, além do luto, é de revolta. Para os familiares, a situação poderia ter sido resolvida já na UPA da Serra Sede se os sintomas tivessem sido avaliados de forma correta. Para entender o que aconteceu, um boletim de ocorrência foi registrado. Denilson contou ter anexado 27 provas, entre fotos e mensagens, de tudo o que aconteceu no dia.
"É desgastante e revoltante tentar entender tudo isso, porque quando a minha esposa, irmã dele, soube que ele foi para o hospital sem sentir as pernas e havia caído no banheiro, eu mesmo relatei para ela, falei: "é problema de circulação, de coração, algo do tipo. Ele não passou mal e faleceu. Ficou desde às 5h15 da manhã até uma da tarde sem receber um atendimento que era urgente. Então isso causa uma causa muita insegurança para o futuro", desabafou Pires.
Em nota, a prefeitura ainda disse que o Conselho Regional de Medicina (CRM) foi formalmente notificado para avaliar a conduta médica de forma independente. Já a Polícia Civil informou que a vítima registrou o boletim pela internet, que foi validado pelo 11º Distrito Policial da Serra, localizado em Jacaraípe, que irá investigar o caso.
O Hospital Jayme, por nota, lamentou a morte do paciente Melvin Aquirrame Ferreira Lourenço e se solidariza com os familiares e amigos neste momento de dor. O centro hospitalar reafirmou a explicação da enfermeira. "É importante esclarecer que o Hospital Jayme é uma unidade de referência de alta complexidade e recebe pacientes regulados pela Secretaria da Saúde (Sesa), que chegam por meio de transferências de Prontos Atendimentos, UPA's e outras unidades hospitalares da rede, além de atendimentos classificados como vaga zero pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU 192)", frisou.
A Secretaria de Saúde da Serra (Sesa) informa que, diante da gravidade do ocorrido no último sábado (5) nas unidades de pronto atendimento do município, adotou de imediato medidas administrativas rigorosas. A médica envolvida no caso foi demitida e os demais profissionais diretamente relacionados à ocorrência foram afastados preventivamente, até a completa apuração dos fatos.
Foi instaurada uma comissão específica para a investigação detalhada dos atendimentos prestados nas Unidades de Pronto Atendimento (UPA's) de Serra Sede e Castelândia. Além disso, o Conselho Regional de Medicina (CRM) foi formalmente notificado para avaliar a conduta médica de forma independente.
A Organização Social responsável pela gestão da UPA de Castelândia também foi notificada e está sendo responsabilizada por possível omissão de socorro por parte de seus colaboradores. A Sesa reafirma seu compromisso com a vida, a ética, a transparência e a segurança dos usuários do sistema público de saúde. Assume também o compromisso de adotar medidas para evitar eventuais erros e prevenir a recorrência de casos semelhantes.
A Secretaria lamenta o ocorrido, se solidariza com familiares e está prestando apoio à família, por meio de atendimento pessoal e foi ofertado acompanhamento psicológico e assistente social. A gestão não compactua com qualquer tipo de negligência nos atendimentos médicos e reforça seu compromisso com um cuidado digno, humano e respeitoso à população.
O Hospital Estadual Dr. Jayme Santos Neves, em Serra, lamenta a morte do paciente Melvin Aquirrame Ferreira Lourenço e se solidariza com os familiares e amigos neste momento de dor. É importante esclarecer que o Hospital Jayme é uma unidade de referência de alta complexidade e recebe pacientes regulados pela Secretaria da Saúde (Sesa), que chegam por meio de transferências de Prontos Atendimentos, UPA's e outras unidades hospitalares da rede, além de atendimentos classificados como vaga zero pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU 192).
De acordo com os protocolos da rede de urgência e emergência, os pacientes que buscam atendimento diretamente nas Unidades de Pronto Atendimento (UPA's) são avaliados por equipe médica local. Caso seja identificada a necessidade de encaminhamento para uma unidade de maior complexidade, como o Hospital Jayme, o próprio serviço faz a solicitação de vaga ou aciona o SAMU, quando for o caso. No entanto, isso não ocorreu com o paciente em questão. Reforçamos que o Hospital Estadual Dr. Jayme Santos Neves não nega atendimento em emergências graves e segue todos os fluxos definidos pela rede estadual de saúde para garantir agilidade e segurança na assistência ao paciente.
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