"Acho que temos condições de resolver os nossos problemas internos, em vez de ficar esperando que entidades de fora digam o que podemos fazer". Presidente do Conselho Regional de Medicina do Espírito Santo (CRM-ES), Celso Murad usou essa frase para defender protocolos contrários às recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre a pandemia.
Na tarde desta sexta-feira (10), o médico apresentou um estudo baseado na situação observada no Pará, onde a adoção do tratamento precoce de pacientes com prescrição de certos medicamentos assim que eles apresentaram sintomas gripais teria diminuído drasticamente o número de mortes causadas pelo novo coronavírus.
Segundo ele, o objetivo do levantamento é "oferecer uma resposta à sociedade", que está diante de uma questão que "precisa ser resolvida científica e politicamente". "Há evidências que não nos deixam mais desprezar correntes científicas que pregam o tratamento precoce. Pode ser que esse seja um caminho e, se for, devemos segui-lo", afirmou.
Dessa forma, com base em "experiências alheias", segundo ele, seria possível que o Espírito Santo unificasse os protocolos que, atualmente, podem ser definidos por cada prefeitura capixaba. Para tentar chegar a um alinhamento, uma reunião entre o CRM-ES e a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) está marcada para a próxima quinta-feira (16).
O presidente do CRM-ES admitiu que a hidroxicloroquina está entre os medicamentos que podem ser usados no tratamento precoce da Covid-19, conforme o protocolo estudado. "Selecionando bem os pacientes, o tratamento não tem risco praticamente nenhum", alegou.
De acordo com Celso Murad, a afirmação é decorrência de constatações de colegas do Amazonas, que têm mais experiência com o medicamento por causa da frequência de casos de malária na região. "Em tratamentos de longo prazo são necessários vários acompanhamentos, mas quando são poucos dias, os efeitos colaterais são muito discretos", explicou.
No entanto, a Sociedade Brasileira de Cardiologia recomenda avaliações do coração de pacientes que usam o remédio para tratamento contra o novo coronavírus o que tem sido feito pelo presidente Jair Bolsonaro. Questionado sobre os estudos da OMS que apontaram a ineficácia da substância, ele esclareceu que se trata do uso em fases mais avançadas da doença.
Procurada por A Gazeta, a Sesa informou que ainda não tem conhecimento do debate promovido pelo CRM-ES, mas confirmou que irá dialogar sobre o tema com a entidade em uma reunião na próxima semana.
Em nota, a secretaria também ressaltou que não há evidências científicas suficientes sobre tratamentos específicos contra a doença para recomendar o uso de qualquer medicação, e que os pacientes do Espírito Santo são tratados de acordo com a evolução do quadro clínico.
Sobre a cloroquina, a Sesa esclareceu que o uso é permitido mediante avaliação médica, conforme nota técnica elaborada por especialistas, com base em um conjunto de artigos científicos. Bem como reforçou que os pacientes devem consentir a prescrição após serem alertados pelo próprio médico sobre os efeitos adversos.
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