A professora de inglês Degina Rodolfo de Oliveira Fernandes, de 37 anos, uma das vítimas do ataque a escolas em Aracruz, no Norte do Espírito Santo, saiu do coma induzido nesta terça-feira (25), segundo informações do esposo, o técnico mecânico Leandro Fernandes.
"O quadro dela deu uma melhora boa, mas ainda é delicado devido às infecções. Ela precisou de transfusão de sangue nesta noite. Ela não está em coma induzido mais", disse o marido da professora.
Segundo Leandro, Degina está consciente e já conseguiu abrir os olhos e mexer as pernas. "Ela está intubada, mas consciente. Ela consegue abrir os olhos, mexer as pernas. Ela deu uma recuperada muito boa. O estado dela ainda é delicado. Ela está vivendo um dia de cada vez e está vencendo, está sendo uma guerreira nesses dias que está se passando. Ela vai viver", disse o marido.
A educadora foi baleada por cinco tiros, que atingiram as pernas, quadril, abdômen e torax. Degina está internada no Hospital Jayme Santos Neves, na Serra, na Grande Vitória, e sem previsão de alta.
Nesta terça, a família e os amigos de Degina começaram uma campanha de doação de sangue para ela. "Como ela precisou de transfusão de sangue no dia 25 e no dia 28 de novembro, o hospital me ligou e pediu que eu conseguisse a doação de dez bolsas de sangue", disse o marido da professora.
Degina tem um casal de filhos gêmeos de 7 anos e um bebê de oito meses que ainda mama. O marido da professora disse que a esposa sofreu ao ser baleada e, posteriormente, com a impossibilidade de amamentar.
"Degina acordava de madrugada para dar de mamar para o nosso filho. Graças a Deus tinha muito leite e os seios ficavam tão cheios de doer. Eu tive que entrar com fórmula para alimentar nosso filho, mas isso não é nada, no tanto que minha esposa deve estar sofrendo", disse.
Até a última atualização desta reportagem, cinco vítimas ainda estavam internadas em hospitais do Espírito Santo. O atentado deixou quatro mortos e 12 feridos.
O técnico mecânico contou que a esposa é professora há 11 anos, destes, cinco foram dedicados à Escola Estadual Primo Pitti, alvo do primeiro ataque do suspeito. O marido estava trabalhando quando soube dos tiros na escola.
"Umas amigas do trabalham começaram a me perguntar se eu estava sabendo dos tiros na escola. Disseram que entraram lá para assaltar. Perguntavam se Degina estava trabalhando e eu disse que sim. Comecei a ligar para ela e o desespero foi aumentando", relatou.
Leandro disse que seu carro não tinha combustível suficiente para se deslocar até o trabalho da esposa e se parasse em um posto de combustíveis perderia mais tempo. A empresa onde trabalha cedeu um veículo para o funcionário buscar informações.
"Ajoelhei, orei e pedi a Deus que protege ela de todo mau. Fui dirigindo, orando e chorando do meu trabalho até a escola. Ao chegar lá, vi muitas ambulâncias e viaturas da polícia. Um grupo de professores, que não estava machucado, me recebeu aos prantos. Pensei que minha esposa tinha sido vítima e morrido ali mesmo. Fui informado que ela estava tão ferida que foi socorrida de helicóptero. Aí me enchi de esperança", relembrou.
O técnico mecânico visitou a esposa pela primeira vez no sábado (26). Disse que ficou impressionado ao encontrar a esposa tão ferida.
Leandro disse que a esposa está sendo muito bem tratada, mas o estado de saúde é muito grave. Degina estava na sala dos professores e foi atingida por cinco tiros. Segundo o marido, a professora levou tiros no tórax, no abdômen e nas pernas. Em uma das pernas, teve fratura exposta.
"A evolução dela está sendo bom, mas o quadro ainda é bem grave. Ela está em coma e intubada. Ela não poder ter infecção de jeito nenhum. O intestino foi muito afetado pelos fragmentos da bala. Minha esposa é uma mulher muito forte e guerreira, está lutando pelos filhos. Vamos seguir firma na Vitória, cada dia é um milagre.
Segundo o último boletim enviado pela Secretaria de Saúde do Espírito Santo (Sesa) na noite de segunda-feira (28), a professora segue internada na unidade em UTI em grave estado geral.
Leandro disse que contou para os gêmeos o que realmente aconteceu com a mãe e depois do ocorrido, a vida da família virou de cabeça para baixo. Os três filhos do casal estão sendo cuidados pelo irmão do técnico mecânico, pela sogra, a irmã e por amigos da igreja.
"Preferimos contar logo e falamos com muito cuidado. Falei de um jeitinho que entendessem. Eles estão sentindo falta da mãe com certeza. O bebê ainda não entende o que estamos passando. Mas sente falta do peito da mãe. ele é muito bonzinho", relatou.
Leandro está afastado do trabalho por 10 dias. Nesse tempo se divide entre os filhos e as visitas à esposa no hospital todas as manhãs.
Ele já está pensando como vai receber a Degina em casa depois de ter alta. "Eu já estou me mobilizando para adequar nossa casa. Sei que a recuperação será demorada, ela vai precisar usar cadeira de rodas. Minha família e os amigos da igreja estão prontos para ajudar no que for preciso", disse.
Ao falar sobre sua visão em relação ao ocorrido, Leandro disse que quer a paz e que justiça seja feita. "Espero que todo mundo fique em paz, mas quero que a justiça seja feita. Que seja tudo muito bem investigado para que os indivíduos que causaram essa tragédia paguem pelo que fizeram", afirmou.
O marido acredita que o pai do jovem também é responsável pelo o que aconteceu e disse que, sozinho, faz vários questionamentos.
"Tenho certeza que o pai dele também é responsável. O filho não iria conseguir dar tiros daquele jeito. Como que aprendeu a dirigir? Eu realmente tenho certeza de que o pai dele deve ter tido uma boa influência. Como pai, eu sei que precisamos ficar de olho em tudo que nossos filhos fazem, como não percebeu que as armas estavam sendo mexidas?
Enquanto as perguntas do marido de Degina Rodolfo de Oliveira Fernandes não são respondidas, a família pede orações para ela, para as professoras e alunos feridos e para a comunidade que ainda sofre com os impactos dessa tragédia.
Durante coletiva de imprensa para detalhar o andamento das investigações sobre o ataque as escolas de Aracruz, no Espírito Santo, na última sexta-feira (25), a Polícia Civil informou que o assassino de 16 anos guardou as armas, almoçou e seguiu para a casa de praia com os pais após invadir as duas escolas.
Ao todo, quatro pessoas morreram e mais de 10 ficaram feridas. O ataque teve início por volta de 9h30, e o adolescente foi apreendido por volta de 14h10. Segundo o superintendente de polícia e delegado João Francisco Filho, o criminoso agiu naturalmente do ataque até a prisão.
"Ele volta pra casa em Coqueiral, pega todos os objetos que usou na ação e guarda para que os pais não desconfiassem que ele tinha usado. Coloca tudo onde estava e fica no interior da casa como se nada tivesse acontecido. Os pais chegam, e ele reage naturalmente", contou o delegado.
A polícia ainda afirmou que os pais comentaram com o filho sobre o ataque e que ele agiu naturalmente. Em seguida, foi com eles até a casa de praia que tinha, onde foi apreendido.
Com informações de Juirana Nobres, do g1 ES
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