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Professores criticam mudanças "impostas" nas escolas de Vitória

Professores criticam mudanças "impostas" nas escolas de Vitória

Prefeitura afirma que mudanças trarão mais igualdade de oportunidade aos estudantes, enquanto profissionais da educação relatam que não houve diálogo com a comunidade escolar

Publicado em 24 de novembro de 2021 às 20:09

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As mudanças na educação municipal de Vitória anunciadas nesta semana pela prefeitura da Capital, e que já entrarão em vigor em 2022, foram criticada pelos professores. Uma das principais alterações é o acréscimo de 30 minutos por dia na carga horária dos alunos. Também foram incluídas mais disciplinas no currículo, como inglês desde os anos iniciais e matérias como música e educação financeira.

Os profissionais reclamam que as alterações não foram discutidas com eles e com a comunidade escolar. Segundo o Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Espírito Santo (Sindiupes), muitos professores têm dois vínculos, ou seja, trabalham na prefeitura de Vitória e em outra cidade da Região Metropolitana. Com a saída do turno matutino sendo ampliada de 11h30 para meio-dia, eles ficariam impossibilitados de chegar a tempo na outra escola onde trabalham.

“A carga horária dos alunos era de 4h30 e o professor usava a última meia hora como oportunidade de deslocamento de uma escola para outra. A maioria está em Vitória e em outro município. Eles precisam desse intervalo, até 13 horas, para almoçar, se deslocar e chegar a tempo. Se ele sai meio-dia de uma escola em Vitória e precisa chegar na Serra às 13h, ele não consegue”, afirma o diretor do Sindiupes Aguiberto Oliveira.

Além disso, as famílias já estariam organizadas em suas rotinas pessoais e profissionais para buscar os alunos às 11h30.

PLANEJAMENTO

A meia hora final de cada dia era, até esse ano, classificada como tempo de planejamento de aula para o professor. Contudo, como esse tempo era usado no deslocamento, os professores faziam as atividades de planejamento em sábados alternados, compactando esse tempo que não tinha sido feito ao longo da semana, segundo o sindicato.

Sala de aula; ensino fundamental; Vitória; rede municipal
Sala de aula; ensino fundamental; Vitória; rede municipal. (Jansen Lube/PMV)

O diretor aponta que a criação de matérias optativas é positiva, assim como a redistribuição equalizada de disciplinas. Atualmente, cada escola faz o próprio currículo, o que significa que algumas oferecem seis aulas de matemática por semana, e outras, quatro, por exemplo.

“Hoje, cada escola tem seu currículo, o que é muito difícil para todos. Ter padronização de grade curricular para nós do Sindicato é positiva. Mas quando dentro dessa mudança a prefeitura insere outras questões que alteram as relações de trabalho não só é ilegal como é perverso”, diz o diretor.

Professores criticam mudanças impostas nas escolas de Vitória

Ele afirma que, caso não haja diálogo com o executivo municipal sobre essas questões, o sindicato vai procurar a Justiça.

Outros grupos de professores apontam ainda que, com a mudança, o horário de planejamento foi incluído dentro do cronograma diário dos profissionais do magistério, inclusive durante o período de recreio dos alunos. Com isso, os professores ficariam sem tempo de lanche.

O Sindiupes lembra que a categoria está sem aumento há oito anos e, diferente de outras cidades da Região Metropolitana, não receberá abono este ano. “Os salários ficaram congelados oito anos da gestão passada e continua congelado agora. É o município que mais tem dívida financeira de recomposição de perda salarial com magistério e esta adoecendo os professores. Tem um tratamento truculento, de não dialogar, não manter debate”, aponta Oliveira.

O QUE DIZ A PREFEITURA

Segundo a prefeitura de Vitória, as mudanças na educação básica visam melhorar os indicadores do município nessa área, garantindo mais igualdade entre os alunos. A secretária municipal de Educação, Juliana Rohsner, afirma que não há nenhuma escola da Capital entre as 50 melhores do Estado, mas há 4 entre as 50 com piores resultados.

Sobre a meia hora adicional por dia que será acrescida à carga horária dos alunos e a dificuldade que isso acarretará aos professores com múltiplos vínculos de emprego, ela ressalta que não há mudança no horário contratual do professor.

“É uma reclamação que fica incoerente. O professor sai meio-dia. A meia hora final é o horário de planejamento. Se precisa se deslocar, como fazia ate hoje? O ponto dele é assinado até meio-dia. Eles têm falado isso (sobre a dificuldade no deslocamento), mas se estão dizendo que não vão conseguir chegar, como faziam ate agora, assinava o ponto de maneira irregular? Porque o livro de ponto é ate meio-dia (para o turno da manhã).”

Juliana Rohsner, secretária municipal de educação de Vitória
Juliana Rohsner, secretária municipal de educação de Vitória. (Vitor Jubini)

Em relação ao tempo de planejamento, ela diz que será ampliado e incorporado à carga horária do professor.

“No caos do professor do fundamental, hoje tem 20 aulas e cinco de planejamento. Eles passarão a ter 18 aulas e sete planejamentos. Os 25 minutos diários, que é o recreio do estudante, é contabilizado como hora planejamento. Isso porque somente a partir de seis horas (de expediente por dia) ele tem direito a pausa para o lanche”, diz. Atualmente, os professores têm vínculos de cinco horas diárias.

Já na educação infantil, o lanche é acompanhado pelo professor, então conta como hora de “aula”. Por isso, eles terão a partir do ano que vem 16 aulas e nove planejamentos.

VITÓRIA NÃO DARÁ ABONO

Já sobre a falta de abono aos professores, Rohsner diz que não há sobras do Fundeb e, por isso, os professores não terão o benefício.

Segundo o Tribunal de Contas do Espírito Santo (TCES), em 2019 a Capital gastou 100% do recurso do fundo no pagamento dos profissionais do magistério. Em 2020 houve aumento no montante recebido pelo município através do fundo, o que fez com que esse percentual caísse para 82%.

A secretária municipal apontou que, ainda assim, a proporção utilizada para o pagamento dos salários está abaixo do mínimo determinado pelo novo Fundeb, que é de 70%.

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“Estamos fazendo outros investimentos. Para garantir esse planejamento na educação infantil temos que contratar mais professores, principalmente de artes e educação física. No fundamental estamos contratando mais professores de inglês, por exemplo, para suprir esse tempo de planejamento”, afirmou.

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