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Professores de escola atacada em Aracruz cobram apoio do governo do ES

Professores de escola atacada em Aracruz cobram apoio do governo do ES

Docentes da Escola Estadual Primo Bitti divulgaram uma carta aberta na qual expõem a falta de assistência da Sedu após o ataque. Secretaria diz que as reclamações são improcedentes

Publicado em 17 de dezembro de 2022 às 13:49

Ícone - Tempo de Leitura 7min de leitura
EEFM Primo Bitti
A Escola Estadual Primo Bitti, em Aracruz, que foi invadida por um adolescente armado. (Fernando Madeira)

Os professores da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio (EEEFM) Primo Bitti divulgaram uma carta aberta ao governo do Espírito Santo e aos capixabas em que expõem falta de assistência da Secretaria de Educação do Espírito Santo (Sedu) após o ataque as duas escolas em Aracruz. A Sedu diz que as reclamações são improcedentes.

O ataque aconteceu no dia 25 de novembro, quando a escola estadual e outra particular foram invadidas por um adolescente que matou quatro pessoas e deixou outras 12 feridas. O assassino é um atirador de 16 anos que estudou até junho deste ano em uma das escolas atacadas. Ele foi apreendido horas após o crime.

Na carta divulgada, os professores dizem se sentir "abandonados e lançados à própria sorte" por diversos motivos, como a falta de contato individualizado da pasta com os profissionais da escola e de assistência com assistência inicial às famílias que estavam com entes hospitalizados e com dificuldades para se deslocarem às unidades de internação.

Segundo informações do portal G1 ES, os professores também relataram a ausência de um plano de atendimento psicológico e contínuo para os membros da unidade escolar o não registro imediato de acidente de trabalho devido à tragédia.

Aspas de citação

Apesar da gratidão pelo que tem sido feito, não podemos deixar de nos sentir abandonados como seres humanos. Até este momento, a Secretaria de Estado de Educação não realizou nenhum contato individualizado com a equipe de profissionais da escola, tão pouco, acionou outros setores do Governo do ES para que o fizesse; não orientou as empresas terceirizadas responsáveis pelas equipes de limpeza, merenda escolar e vigilância a dar assistência a seus funcionários

Trecho da carta
Professores da EEEFM Primo Bitti
Aspas de citação

A carta continua: "Não prestou assistência inicial às famílias que estavam com seus entes hospitalizados e com dificuldades para se deslocarem às unidades de internação; não elaborou um plano de atendimento psicológico individualizado e contínuo para os membros da escola; não registrou de imediato a Comunicação de Acidente de Trabalho; não enviou profissionais colaboradores para gerenciar a parte administrativa da escola; não garantiu a seguridade dos empregos dos profissionais em designação temporária que fazem parte da equipe escolar e que estão passando pelo trauma; não garantiu o direito ao luto aos professores que trabalham em mais de uma escola ou rede de ensino".

Ainda segundo a carta, a Sedu teria solicitado que "a própria equipe atingida se responsabilizasse pelo fechamento do ano escolar, incluindo o trabalho de fechamento de diários dos amigos perdidos ou impossibilitados".

Entre as reivindicações dos docentes está a reforma da unidade escolar, para melhorias das condições físicas de segurança do prédio, além de apoio financeiro para as vítimas e famílias atingidas para o custeio de remédios, equipamentos, cuidadores e psicólogos, além da contratação de uma equipe externa.

Eles afirmam ainda ser necessário providenciar uma equipe de apoio para o próximo ano escolar, "que inclua trabalhadores para as vagas em aberto na secretaria, diretor adjunto, aumento da equipe de professores, coordenadores e pedagogos. Assim como é necessário providenciar uma equipe de atendimento social e psicológico que atenda às demandas dos profissionais".

Solidariedade às vítimas

O texto também prestou solidariedade às família das professoras Cybelle Passos, Flávia Amboss e Maria da Penha Pereira, vítimas do ataque na primeira escola; e também a da aluna Selena Sagrillo, que foi baleada na segunda escola invadida.

A solidariedade, segundo o corpo docente, também se estende aos ''alunos e profissionais presentes no dia do ataque, e àqueles que fazem parte da comunidade escolar e foram impactados pela trágedia''.

O documento também agradeceu ao trabalho da equipe de Ação Psicossocial e Orientação Interativa Escolar (APOEI) da Sedu que, em parceria com instituições e empresas públicas e privadas, objetivam renovar a imagem da escola para recepcionar as famílias e os alunos durante a reabertura.

Motivação

A professora de Língua Portuguesa Leilany Campos Moreira, 49 anos, trabalha na Primo Bitti desde 2019 e contribuiu na confecção da carta. Ao G1 ES, a educadora disse que o conteúdo apresentado teve a aprovação coletiva do corpo docente da unidade e evidenciou a uma série de angústias dos profissionais da escola após o ataque à instituição.

"Com o passar dos dias, percebemos que os colegas que foram atingidos diretamente, sejam aqueles que estavam internados ou não, estavam desassistidos, assim como os familiares. Um caso, por exemplo, foi de um marido de uma professora internada, que mora em Aracruz e precisava se deslocar para a Grande Vitória. Ele não tinha ajuda de custo e inicialmente fizemos uma vaquinha para ajudá-lo. Depois que a Sedu providenciou um carro", disse a professora.

Segundo a educadora, em reunião com a pasta, a Sedu informou que algumas demandas deveriam ser tratadas por outras secretarias, como a Saúde e a de Assistência Social.

"Tem gente que se feriu e que não consegue trocar o curativo, mas a família precisa trabalhar, voltar à vida normal e não consegue. Os contratos temporários de alguns profissionais foram cessados como que eles vão garantir assistência médica e psicológica se não têm mais esse vínculo?" desabafou Leilany.

Também ao G1 ES, a professora Sâmella Almeida, que leciona Língua Portuguesa na Primo Bitti, afirmou que com o passar do tempo e falta de assistência da Sedu, a situação está se agravando.

"Temos professores que precisam de cuidados médicos, cuidadores, entre outras coisas. Todos esses gastos tem sido pagos de forma particular. Além disso, tivemos um problema muito grave com os trabalhadores terceirizados, que, por serem terceirizados, não foram considerados membros da escola. São pessoas que estavam no momento, que viram toda a cena e que, inclusive, tiveram que lavar a sala. São condições de desassistência que temos repassados para a Sedu e não temos nenhuma resolução", disse.

A professora explicou ainda que o amparo oferecido pela equipe APOIE, da Sedu, não trata desses cuidados específicos aos profissionais da Primo Bitti.

"A equipe da APOIE está na escola e tem tentado realizar diálogo com as pessoas que chegam na escola, que precisam de atendimento, conversa. Eles estão disponíveis para dialogar na comunidade. Mas isso é muito diferente de um professor que viu seus colegas baleados, e que precisa de atendimento psicológico para curar o trauma causado pela tragédia", destacou Sâmella.

O que diz a Sedu

Questionado sobre o assunto pelo G1 ES, o secretário de Estado de Educação, Vitor de Angelo, disse que as reclamações na carta são improcedentes. De Angelo classificou as demandas apresentadas em dois grupos, àquelas que são de responsabilidade da Sedu e àquelas que devem ser tratados por outras secretarias.

Sobre uma demanda de responsabilidade da Sedu, o secretário citou a oferta de transporte aos familiares das vítimas. "Essa eu sei porque eu mesmo autorizei o uso de carros da secretaria, inclusive do meu gabinete, para atender os familiares", disse. Sobre as demandas que são de responsabilidade de outras pastas, o secretário disse que elas também estão sendo cumpridas.

"Nós aqui na Secretaria de Educação, não prestamos um serviço de assistência e de saúde, ambos necessários neste momento em virtude do que aconteceu na escola não só com professores, mas também com estudantes, equipe de gestores e terceirizados. Mas nós [...] temos feito esse diálogo com as respectivas secretarias. E eu sei que tem acontecido essas ações porque eu mesmo tenho acompanhado. Claro que a gente pode discutir se tem acontecido no formato ou na quantidade, ou na velocidade necessárias e desejadas, mas essa uma discussão mais qualitativa. O que está aqui na carta é uma questão quantitativa, é se existe ou não existe algumas coisas, se foram ou não foram feitas. E eu preciso, até para ser transparente e fiel com a verdade, dizer que as informações que estão aqui são todas improcedentes", disse o secretário.

A Sedu também acrescentou, por meio de uma nota, que, desde a semana seguinte ao ocorrido, está desenvolvendo uma série de ações, integradas com as secretarias estaduais e municipais de Educação, Saúde, Assistência Social e Segurança, no sentido de dar assistência e acolhimento aos familiares das vítimas fatais ou não, estudantes, pais e responsáveis da Primo Bitti.

"Inicialmente, na primeira semana após o episódio, foram oferecidos atendimentos psicológicos e realizadas rodas de conversas com professores, pais, responsáveis e estudantes interessados no acolhimento. Já na última semana, uma extensa programação foi desenvolvida na escola por uma equipe de psicólogos, inclusive especialistas em luto, vindos de outros estados. Atividades como oficinas de expressão de sentimentos, pintura corporal, atendimento individualizado com psicólogos, rodas de conversas sobre as emoções e várias outras ações foram oportunizadas à toda comunidade escolar durante esta semana", informou a nota.

A pasta disse ainda que, em paralelo a essas ações, foi viabilizada a distribuição de cestas básicas aos alunos cujo responsável esteja cadastrado no CadÚnico, além de todo um esforço no sentido de garantir intervenções físicas mínimas na sede da escola, de forma a ressignificar o espaço.

Sobre o luto da comunidade escolar, a secretaria informou que equipes da saúde realizaram a escuta da população enlutada na Unidade Básica de Saúde de Coqueiral de Aracruz, trabalho este realizado por equipes multidisciplinares composta por psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros e médicos de domingo a domingo.

Por fim, a Sedu informou também que a Procuradoria-Geral do Estado (PGE) instaurou, em sua Câmara de Prevenção e Resolução Administrativa de Conflitos (CPRACES), um procedimento para, inicialmente, acolher e tentar auxiliar, naquilo que for possível ao Estado, às famílias das vítimas que foram a óbito, bem como - em momento posterior - àqueles que foram feridos e sobreviveram.

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* Com informações do G1 ES

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