Um ano atípico, diferente, difícil. Todo adjetivo que cabe para 2020 é percebido, de uma maneira ou outra, por quem não está alheio aos impactos da pandemia da Covid-19. Na educação, o reflexo da crise sanitária pode ser descrito também de variadas formas, mas é no professor que se revela um dos sentimentos mais intensos: saudades dos alunos.
Os longos meses de atividades remotas, sem interação presencial, pesaram na relação professor-aluno. Por outro lado, o período também se mostrou de muito aprendizado, com o uso mais sistematizado das ferramentas tecnológicas para as aulas. De tudo, a certeza de que ninguém terminará o ano de 2020 como começou.
Professora de Língua Portuguesa, Mara Paixão retomou esta semana as atividades presenciais na Escola Estadual Renato Pacheco. O reencontro com as turmas foi emocionante, segundo ela, mas ainda não aplacou toda a saudade do tempo em que ficaram longe uns dos outros.
"Escola é sinônimo de interação, afetividade, contato físico. A distância desses meses foi um complicador fora do comum. E, mesmo agora que voltamos, ainda precisamos ficar distantes", observa.
Mara Paixão conta que, devido ao protocolo de prevenção e controle da Covid-19, existe uma faixa que delimita o espaço de circulação do professor na sala. Para ela, que gostava de passear entre as carteiras para dar suas aulas, interagindo com os alunos, é mais um desafio. "Não dá para ter noção do esforço que estamos fazendo para respeitar esse distanciamento. É uma das minhas angústias mais fortes porque é muito triste estar perto e não poder tocar, dar aquele carinho", comenta.
Na volta às atividades presenciais, a escola promoveu uma roda de conversa com os alunos para um momento de acolhimento. Mara diz que muitos estudantes também relataram sobre a falta que sentiram de estar no ambiente escolar, ter contato com os professores e ressaltando quanto os profissionais são insubstituíveis no processo de ensino-aprendizagem.
Com 33 anos de magistério, Sonali Caçador Brum já viveu muitas experiências nesta trajetória. "Eu fui do mimeógrafo para o on-line. Já passei por todas as etapas da educação ao longo destes anos, mas nada parecido com este momento", compara a professora do ensino fundamental da Escola da Ilha.
Sonali observa a capacidade de adaptação dos alunos ao ensino remoto, e até mesmo dela que, em mais de três décadas de Educação, nunca havia precisado deixar a sala de aula. O uso dos recursos tecnológicos ou a preparação de atividades temáticas, como no período das festas juninas, não foram obstáculos.
"Mas essa coisa do emocional, do toque, da referência professor-aluno, de poder chegar e dar um abraço, é algo insubstituível. A gente sente falta", ressalta.
Para a professora Silvana Peixoto de Araújo Fagundes, do ensino fundamental I do Colégio Renovação, o sentimento é semelhante. "Sentimos falta do dia a dia da escola, de estar junto, conversando, abraçando. Estamos com os alunos de outra forma, nas atividades pelo computador, mas não é a mesma coisa", sustenta.
Silvana frisa que, por mais que a tecnologia seja um facilitador, auxiliando neste momento da pandemia, jamais ficará no lugar do professor ou terá condições de substituir o carinho desse relacionamento com os estudantes.
"Eu, Silvana, na minha forma de educar, em primeiro lugar está o afeto, a conquista daquele aluno. Então, quando essa relação afetiva está construída, estamos preparados para a troca de conhecimentos", conclui.
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