Um estimulante, descrito como natural, proveniente do mel de abelhas, que aumenta o prazer e não tem efeito colateral. Esta é a promessa de anunciantes sobre o "melzinho do amor" ou "melzinho da revoada" — produto que tem sido consumido, principalmente pelos jovens, em busca de melhor desempenho sexual. Apesar de ser facilmente encontrado em plataformas de vendas on-line e com pontos de distribuição no Espírito Santo, a substância não possui registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e é proibida no Brasil. Em algumas amostras, inclusive, foram encontrados o cloridrato de sildenafila, princípio ativo do Viagra.
Em rápida pesquisa realizada pela reportagem, três marcas foram achadas, todas comercializadas em sachês individuais, com preços que variam de R$ 20 a R$ 25. As unidades podem ser compradas pelo WhatsApp ou até mesmo retiradas em pontos físicos, em Vitória, como constatado nos anúncios.
Esses são apenas três dos rótulos proibidos pela Anvisa de serem comercializados no Brasil. Desde maio, o órgão tem recebido denúncia sobre o produto e, no dia 27 do mesmo mês, a agência proibiu a comercialização, distribuição, fabricação, propaganda e uso, além de determinação de apreensão das unidades encontradas no mercado.
Segundo a Anvisa, a proibição aconteceu após investigação sobre o produto, em que foi avaliada a composição no rótulo, com a indicação, para determinar o enquadramento do produto como medicamento. Não foi encontrado, porém, registro ou cadastro de medicamento com a denominação em epígrafe e nem pedido de regularização dos produtos. Desta forma, por não possuir nenhum tipo de registro, a mercadoria não tem a chancela da Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
"Para produtos registrados, a Anvisa pode realizar análises fiscais para verificar se a composição (teor do princípio ativo) está adequada com as informações do registro/cadastro. Nesse caso, identificamos que se trata de produto irregular, sem registro na Anvisa", disse o órgão em nota.
"Já os produtos sem registro são passíveis de determinação de retirada imediata do mercado conforme Lei 6360/77 e Lei 9782/99 e às Infrações Sanitárias, após a devida instauração do Processo Administrativo Sanitário, tais como são passíveis de pena, conforme artigo 10, inciso IV, Lei 6437/77", complementou a assessoria do órgão.
O uso indiscriminado de produtos não registrados pode trazer riscos à saúde de quem o consome. Recentemente, no Estado, um casal da Serra morreu após um quadro grave de contaminação e intoxicação por dietilenoglicol contido em um produto descrito como óleo de semente de abóbora natural.
No caso do "melzinho do amor", a ingestão também é arriscada, mas por outro fator. Segundo a endocrinologista Queulla Garret, o afrodisíaco feito à base de mel de abelha pode, sim, ser estimulante, mas não naturalmente.
"Pelos estudos já realizados em relação à composição do 'melzinho do amor', não há apenas substâncias naturais, mas também o cloridrato de sildenafila em doses superiores ao que está presente no comprimido do Viagra — usado para disfunção erétil. Essa substância é vasodilatadora, podendo provocar queda na pressão arterial", salienta a especialista.
A médica explica que o cloridrato de sildenafila não deve ser usado por mulheres e pessoas menores que 18 anos. Além disso, por ser um vasodilatador, o mesmo deve ser consumido com cautela por pessoas com algumas comorbidades, como, por exemplo, hipertensão e diabetes.
O uso desenfreado do estimulante pode até mesmo causar efeito contrário. A médica explica que o "melzinho do amor" não interfere na produção hormonal da pessoa, entretanto, pode gerar dependência e, consequentemente, piorar o desempenho sexual de quem o utiliza. Por isso, a endocrinologista reforça sobre a necessidade de pesquisar sobre qualquer produto antes de consumir.
"Quando não existe autorização da Anvisa, não há como garantir a segurança do produto. Todos os medicamentos liberados são avaliados através de protocolos de pesquisas clínicas. E os resultados destes estudos é que podem comprovar a segurança. A Anvisa sempre avalia estes estudos. Acredito que a ciência deve ser soberana, portanto, todo medicamento precisa ser avaliado para haver segurança e efetividade na dose disponibilizada", destaca Queulla.
A endocrinologista ressalta que no Brasil há vários medicamentos rotulados como naturais que prometem efeitos rápidos, como os criados para o combate à obesidade. Ao invés de buscar por estas fórmulas e receitas milagrosas, a médica orienta que as pessoas procurem por especialistas na doença em questão para receberem orientação adequada e baseada na ciência.
Embora amplamente encontrado em anúncios no Espírito Santo, a Polícia Civil, informou, em nota, que até o momento nenhuma denúncia sobre o produto foi registrada na delegacia especializada para casos do tipo.
Ainda em nota, a Polícia Civil explicou que essa fiscalização de produtos compete à Vigilância Sanitária que, ao constatar alguma irregularidade, aciona a Delegacia Especializada da Defesa do Consumidor (Decon). "Até o momento, não há investigações na Decon relacionadas ao produto citado", finalizou a PC.
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