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Projeto da Ufes recolhe doações para venezuelano agredido com barra de ferro em Vitória

Projeto da Ufes recolhe doações para venezuelano agredido com barra de ferro em Vitória

Campanha está sendo liderada pela Comissão de Direitos Humanos da Ufes. Família da vítima tem mais seis pessoas além do marido, sendo três crianças, e todos estão desempregados e morando de aluguel

Publicado em 14 de fevereiro de 2022 às 16:05

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Agressão a venezuelano em posto
Agressão a venezuelano em posto. (Câmeras de monitoramento do porto)

Uma campanha está sendo realizada nas redes sociais pela Comissão de Direitos Humanos da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) solicitando doações para a família do venezuelano que foi agredido com uma barra de ferro na cabeça em Vitória. A família da vítima tem seis pessoas - além do marido internado -, sendo três crianças, sendo que todos estão desempregados e moram em uma casa alugada em um bairro da periferia da Capital.

A agressão, praticada por um morador de rua, aconteceu no dia 30 de janeiro. O venezuelano, de 29 anos, que está no Espírito Santo com visto humanitário, foi agredido na área de atendimento de um posto de gasolina, em Vitória. Ele segue internado, em estado grave, na UTI do Hospital Estadual de Urgência e Emergência (HEUE) - o antigo São Lucas.

A ação solidária está sendo liderada pelo Projeto Ninho, que atua como imigrantes e refugiados e a Comissão de Direitos Humanos da Ufes. A presidente, Brunela Vincenzi, coordena ainda o projeto de pesquisa e extensão em parceria com a Organização das Nações Unidas (ONU), chamado Cátedra Sérgio Vieira de Mello, voltado para o acompanhamento de refugiados em situações de catástrofe e casos humanitários.

Ela destaca que a família está em situação de vulnerabilidade social. “O marido está internado em estado grave. Todos na casa estão desempregados”, observa.

O projeto está recebendo doações em dinheiro e alimentos, via contato pelo Instagram, ou por PicPay ou Pix. Brunela explica que para doar outros materiais é preciso entrar em contato com o projeto.

Venezuelano espancado
Venezuelano segue internado na UTI do HEUE. (Arquivo família)

AGRESSÃO NA NOITE DE DOMINGO

O venezuelano de 29 anos foi agredido com uma barra de ferro por um morador de rua na área de atendimento de um posto de gasolina, em Vitória. O fato aconteceu na noite do dia 30 de janeiro e ele segue internado na UTI, em estado grave.

As imagens das câmeras de monitoramento mostram o momento em que o venezuelano (com camisa e bermuda preta) deixa a loja de conveniência do posto. Logo em seguida, a discussão entre os dois fica mais acalorada e ele desfere um soco no rosto do morador de rua (que está sem camisa e com uma mochila nas costas). Confira:

O encarregado do posto (de camisa branca) tenta apartar a briga, sem sucesso. Na sequência, eles continuam a discussão e há uma nova tentativa para de evitar o confronto. É neste momento que o morador de rua promove a agressão que leva o venezuelano ao chão, onde ele permanece caído.

As informações são de que eles estavam em uma conversa e houve um desentendimento que levou a discussão. Os fatos aconteceram a partir das 21h05 do dia 30. Os funcionários do posto acionaram o Samu, que socorreu o venezuelano para o Hospital Estadual de Urgência e Emergência.

O laudo médico aponta que ele teve traumatismo intracraniano. “O médico informou que o estado dele é bem grave. Ele teve afundamento de 2 centímetros no crânio. Há uma grande possibilidade dele ficar com sequelas”, relatou a esposa, de 24 anos.

O nome do casal não está sendo divulgado a pedido da família e também por ele ter sido vítima de uma agressão.

Projeto da Ufes recolhe doações para venezuelano agredido com barra de ferro em Vitória

CASAL TRABALHAVA NO POSTO E FOI DEMITIDO

De acordo com a esposa, naquela semana o marido estava trabalhando à noite e era comum ele não retornar para casa por falta de ônibus. “Ele me esperava chegar no dia seguinte e às vezes seguia para a praia. Ficava por aqui até o próximo turno. No dia da agressão ele estava de folga e resolveu ficar lá para esperar o turno da manhã de segunda, quando eu trabalharia”, relata.

Ela informa que soube da agressão sofrida por seu marido no dia seguinte, momento em que acabou sendo demitida. “Foram os colegas de trabalho que me falaram da agressão. No mesmo dia eu fui demitida. Dois dias depois eles me informaram que meu marido, que está no hospital, também tinha sido demitido”, relatou.

A esposa está há quatro meses no Espírito Santo. Veio de Manaus com os filhos de 2 e 4 anos. Há dois meses também veio o marido. Ela chegou a trabalhar em um restaurante por um mês, depois conseguiu o emprego no posto. No mesmo local ela conseguiu uma vaga para o marido, que atuava como frentista.

A família morava em Ciudad Bolívar, mas de lá fugiu há 4 anos em decorrência da crise econômica e política vivida pela Venezuela. Fugiram para Manaus. O marido veio primeiro e, posteriormente, ela veio com os filhos e a  sogra.

POLÍCIA CIVIL PRENDE AGRESSOR

Na quinta-feira (10), a família procurou a Divisão de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP) de Vitória para fazer a denúncia. A esposa e a mãe do agredido foram acompanhadas pelos advogados Gilberto Passos e Murilo Carpaneda.

Na manhã da sexta-feira (11), o titular da Divisão da DHPP de Vitória, delegado Marcelo Cavalcanti, abriu inquérito e realizou operação policial na Praia do Canto que resultou na prisão temporária de Gleydson Balbino Regosino, 37 anos.

Delegado Marcelo Cavalcanti
Delegado Marcelo Cavalcanti. (Isaac Ribeiro)

“A tentativa de homicídio atingiu um cidadão venezuelano, o qual foi covardemente espancado com uma barra de ferro, estando internado em hospital deste município. A motivação do crime seria uma discussão entre a vítima e o suspeito”, informou o delegado, que contou com o apoio da delegada Fernanda Diniz.

Em interrogatório, o investigado afirmou que teria sido agredido pela vítima, e que esta se lesionou por conta própria em um material reciclado que estaria com ele no momento da infração. O acusado foi encaminhado ao Centro de Triagem de Viana, onde permanece à disposição da Justiça.

Gleydson Balbino Regosino, 37 anos, acusado de agredir um venezuelano na praia do canto
Gleydson Balbino Regosino, 37 anos, agrediu o venezuelano. (Foto leitor)

DONO DO POSTO INFORMA QUE AGREDIDO CONHECIA O MORADOR DE RUA

O proprietário do posto de combustível onde ocorreu a agressão, Anderson Basílio, informa que os fatos aconteceram na área do posto, mas nega que o venezuelano estivesse trabalhando naquele momento.

Ele explica que o rapaz começou a trabalhar como frentista no dia 9 de dezembro de 2021, mas a sua contratação enfrentou dificuldades porque seu cadastro não era aceito no E-Social - plataforma do governo federal que unifica o envio das informações fiscais, previdenciárias e trabalhistas. “Acusava que ele precisava fazer a carteira de registro nacional, e sem ela não conseguimos fazer a contratação”, explica Basílio.

Eles informaram o problema ao venezuelano, que chegou a ir à Polícia Federal para buscar uma solução. “Fizemos um novo contrato e aguardamos do dia 9 ao dia 16 de janeiro, mas o problema não foi solucionado e ele foi dispensado no dia 29, um dia antes da agressão”, relata Basílio.

Em relação a esposa do venezuelano, ele informa que o contrato dela venceu no dia 31 e que ela foi dispensada em decorrência do seu desempenho profissional. “Não tem nenhuma relação com os fatos. Já contratamos vários venezuelanos e ainda temos dois trabalhando no posto. Todos os funcionários recebem o mesmo tratamento, independente de sua nacionalidade”, destacou Basílio.

Em relação a agressão, ele informou que o morador de rua vive nas imediações do posto. “O morador de rua não vive no posto ou toma banho aqui, até porque não temos instalações para isto. Nosso encarregado tentou evitar a agressão, mas infelizmente não foi possível”, pontuou Basílio.

Entre os funcionários, o relato é de que o casal de venezuelanos teria se desentendido e que ela o pôs para fora de casa. Em função disto, ele estaria vivendo nas ruas e por isto estava no posto fora do seu turno de trabalho. A esposa nega esta versão dos fatos.

O advogado Gilberto Passos avalia ser nula a rescisão do contrato de trabalho do rapaz. “Vamos mover uma ação trabalhista porque ele tem seus direitos, inclusive agora que não poderá retornar ao trabalho”, explica. Ele também acompanha o desenrolar das investigações da Polícia civil.

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