O médico Bernardo Santos Carmo, envolvido em uma ocorrência policial ao apontar uma arma contra um funcionário de um shopping em Vitória, após recusar o pedido do vendedor de colocar a máscara de proteção contra a Covid-19 de forma correta, é o psiquiatra que atendeu os policiais militares após a greve da Corporação, realizada em 2017.
Ele ainda presta o mesmo tipo de serviço aos militares, por intermédio de uma parceria com a Associação de Cabos e Soldados da PM e Bombeiro Militar do Espírito Santo (ACS).
Em janeiro de 2018, em entrevista para A Gazeta, Bernardo relatou que começou a atender os militares duas semanas após o término do movimento de paralisação. Mas somente em junho de 2017 é que começou a oferecer o serviço por intermédio da ACS. Na ocasião relatou que chegou a atender, em um só dia, mais de 200 policiais.
“Após duas semanas do início do movimento, me chamaram para prestar atendimento na Associação de Cabos e Soldados (ACS). Mas, na entidade, só comecei mesmo em junho. Até lá, atendia nas clínicas. Em um dia, recebi 34 militares, no outro 123. Houve um dia com mais de 200, e tivemos que fechar a clínica porque não havia mais espaço para acomodar e não iria conseguir realizar todos os atendimentos”, relatou o médico, na ocasião.
O cabo Jackson Eugenio Silote, presidente da ACS, explica que a instituição possui um Núcleo de Apoio Psicossocial, e que o médico presta o atendimento aos militares, oferecendo um desconto aos associados. “É um serviço oferecido desde outras gestões da ACS, incluindo o período após a greve. Ele não trabalha ou tem vínculo com a associação, mas oferece um desconto aos associados, assim como outros médicos, dando ao associado a oportunidade de escolha do profissional. Não pagamos a ele um salário”, explica.
O militar, assim como a diretoria da Associação, ficou sabendo do envolvimento do médico na ocorrência policial do shopping pela imprensa. “Quando aconteceu, não sabíamos ser o médico Bernardo, até por se tratar de um evento pessoal”, disse.
Ele relata que nunca recebeu nenhuma reclamação, por parte dos associados, em relação ao médico. “Foi um ato na vida particular e não interfere no serviço prestado aos associados, policiais que enfrentam dificuldades no âmbito da saúde mental e cujo tratamento vem apresentando resultado", destacou.
A ACS pretende acompanhar o desenrolar das investigações envolvendo o médico. Mas o presidente destaca que não compactua com atos de violência. “Compreendemos a situação que estamos vivenciando, em decorrência da pandemia de Covid-19. E repudiamos quaisquer atos de violência contra quem quer que seja. Não abonamos a atitude dele”, destacou.
No site da Transparência do Governo do Estado, aparecem seis vínculos temporários com o médico, o último deles de 2013. A maioria é com a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) e um com atendimento para o serviço penitenciário, sob a tutela da Secretaria de Estado da Justiça (Sejus).
O Conselho Regional de Medicina (CRM) foi procurado pela reportagem da TV Gazeta para comentar o caso. Em nota, afirmou que "o Conselho de Medicina trata de questões éticas relacionadas ao exercício profissional".
No último dia 10, um funcionário de um shopping em Vitória ficou sob a mira de uma arma após um cliente se recusar a colocar a máscara de proteção contra a Covid-19 de forma correta.
O cliente era o psiquiatra Bernardo Santos Carmo. Em entrevista para o “Fantástico”, da TV Globo, neste domingo (20), ele afirmou que não usa arma e sim um simulacro. “Eu não uso arma, eu uso simulacro de arma. Não há necessidade de porte de arma para airsoft”, contou.
Airsoft é um tipo de arma de pressão com balas de plástico. Elas são produzidas de forma idêntica a armas de fogo. Quando perguntado se ele apontou uma arma para o vendedor da loja, ele disse que tem uma airsoft e que fez isso em defesa, pois estava em uma situação de perigo. Além disso, confessou que estava utilizando a máscara abaixo do nariz.
"Meu Deus, eu tenho uma airsoft. Eu usei isso em estado de defesa, porque eu estava quase sendo linchado. Eu estava com máscara abaixo do nariz. E pouco abaixo", disse Bernardo.
Em nota, a defesa de Bernardo diz que ele é um cidadão consciente que segue seus deveres, inclusive quanto às regras sanitárias. Confira a nota na íntegra:
“A defesa do Dr. Bernardo dispõe que os fatos veiculados não ocorreram da forma como vem sendo narrados. A defesa apregoa que até a presente data não teve acesso ao procedimento em trâmite na Polícia Civil, pelo que torna limitada qualquer manifestação quanto às alegações das supostas vítimas. O Dr. Bernardo é um profissional renomado, respeitado e ético, sendo ainda cidadão consciente e cumpridor de seus deveres e das disposições legais, inclusive quanto às regras sanitárias decorrentes da Pandemia da Covid-19, sendo que suas manifestações de vontade não tem nenhum caráter político. Após o devido acesso ao procedimento policial não serão furtados quaisquer esclarecimentos perante as autoridades e esferas competentes para a apuração do ocorrido.”
"A Polícia Civil informa que o caso segue sob apuração no 3º Distrito de Polícia de Vitória, localizado na Praia do Canto. Testemunhas foram intimadas e prestaram depoimento. A oitiva do suspeito está marcada para esta semana. Todas as medidas legais foram adotadas e estão tramitando dentro do prazo legal. Para que a apuração seja preservada, nenhuma outra informação será repassada."
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