O ano de 2021 surpreendeu muita gente com o número de fenômenos naturais no país e no mundo. Entre eles o alerta de tsunami no Brasil por causa de um vulcão entrando em erupção na Espanha, no arquipélago das Ilhas Canárias. O acontecimento reacendeu a curiosidade de saber mais a respeito do assunto e se no país já existiu algum vulcão.
Segundo a doutora em geologia e professora da Ufes, Luiza Bricalli, o Brasil, assim como boa parte da América do Sul, está localizado em cima da placa tectônica Sul-Americana. Como o vulcanismo, ou seja, a erupção de rocha derretida, só ocorre nas áreas de encontro entre as placas tectônicas, o território brasileiro está bem afastado desta região e é justamente por isso que ele não sofre com a ameaça de uma erupção vulcânica.
Porém, há milhões de anos, havia uma grande quantidade de vulcões em nosso território, que sofreram com a ação do intemperismo ao longo do tempo, modificando a paisagem e a transformando como a conhecemos hoje.
Um vulcão criado há 30 milhões de anos, por exemplo, já não tem a forma de um vulcão. Ele foi desgastado pelo tempo e o que sobra são resquícios do que existiu.
No Brasil, com registro oficial, hoje temos a Ilha de Trindade, que fica a 1.200 km da costa capixaba e o vulcão Amazonas, considerado o mais antigo do planeta, formado a 1,9 bilhões de anos.
No Espírito Santo, existem várias lendas a respeito do Mestre Álvaro e Mochuara terem sido vulcões no passado. Luiza explica que ambos são morros que foram formados por uma intrusão magmática ou ígnea, ou seja, formados por rochas magmáticas, mas que não eram vulcões.
A superfície onde hoje fica o Brasil foi formada na Era Mesozoica, entre, aproximadamente, 251 milhões de anos e 65,5 milhões de anos atrás. Neste período, o então supercontinente Gondwana estava se dividindo, separando a América do Sul da África, e houve muito derramamento de magma. Como as Cataratas do Iguaçu (Paraná), onde cada degrau das cataratas é um derrame vulcânico, um fluxo de lava que se solidificou.
A Ilha de Trindade é um cone vulcânico, dos quais 587 metros estão para fora do mar e 5 mil metros estão submersos. Surgida há cerca de três milhões de anos, ela fica no extremo leste de uma cordilheira de montanhas submarinas denominada Cadeia Vitória-Trindade (CVT). Dessa formação, apenas a Ilha da Trindade e o arquipélago de Martim Vaz emergiram.
Pertencente ao nosso Estado, ela está a 1.200 km da costa e possivelmente foi um dos últimos vulcões a entrarem em erupção no Brasil. É o que explica o oceanógrafo e professor da Ufes, Agnaldo Martins.
“Ela faz parte de uma cadeia de montanhas submarinas e todas elas foram formadas por erupções vulcânicas. Estima-se que na faixa de 50 mil anos atrás pode ter tido a última erupção de Trindade.“
Agnaldo ainda destaca que o vulcão está extinto e que desde a última erupção o que restou foi uma cratera de 400 metros de diâmetro e os escombros, que tem sofrido com erosões do mar, do vento e da chuva.
Em outubro de 2019, uma equipe de A Gazeta pôde acompanhar uma expedição e esteve na Ilha da Trindade, onde fez uma série especial de reportagens.
De acordo com Luiza Bricalli, embora hoje o Brasil não abrigue nenhum vulcão ativo, o país possui o vulcão mais antigo do mundo já descoberto. Com 1,89 bilhão de anos, o que sobrou deste antigo vulcão está localizado na Região Amazônica (Pará), especificamente entre os rios Tapajós e Jamanxim.
Ele foi descoberto em 2002, por geólogos da Universidade de São Paulo (USP), enquanto realizavam pesquisas de campo. O vulcão Amazonas chegou a ter 400 metros de altura no auge das erupções e hoje tem uma cratera de aproximadamente 22 km de diâmetro.
Localizado em uma região que é conhecida como Uatumã, a área é formada por rochas vulcânicas que mostram a potência das antigas erupções. A cidade mais próxima é Itaituba, no Pará.
Versão anterior desta reportagem localizava, equivocadamente, as Cataratas do Iguaçu no Rio Grande do Sul. O correto é o Estado do Paraná. O texto foi corrigido.
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