Emocionada e abraçada ao filho Douglas Gottardi, a mãe de Milena, Zilca Gottardi lembrou a dor de outras mães, que também perderam as suas filhas vítimas de feminicídio.
Além de lembrar a dor de outras mães, Zilca pontuou a satisfação da família com a condenação dos réus. “Nós conseguimos o que queríamos aqui: pena máxima. Todo mundo ficou muito envolvido com a gente, sofrendo com a gente, nos ajudando. Com uma equipe maravilhosa, uma equipe unida, conseguimos chegar nesse final e obter justiça”, pontuou.
Quem também falou sobre a sentença foi Douglas Gottardi, irmão de Milena. Abraçado à mãe, ele falou sobre a importância de Milena, a saudade e como as prisões darão paz à família, sobretudo à criação das filhas da médica, que estão sob a guarda dele.
"A justiça foi feita, os réus vão pagar pelo que eles fizeram, mas a gente vai embora agora (do fórum) e ela não vai estar lá mais (em casa). Nunca mais a gente vai vê-la. A justiça está sendo feita, mas realmente o coração vai ficar magoado, machucado, para sempre", disse.
A sentença de condenação das seis pessoas responsáveis pelo assassinato da médica Milena Gottardi também traz uma homenagem às suas duas filhas. Em um trecho o juiz Marcos Pereira Sanches, que presidiu o Tribunal do Júri, citou Lewis Carroll, autor de “Alice no País das Maravilhas”:
No documento ele observa que, embora as pequenas — de 13 e de 6 anos atualmente — não vivam no país das maravilhas, carregam em si a força e a garra de todas as mulheres. “Hoje representadas na figura da avó materna, dona Zilca Gottardi, e com o amor e apoio dos que as acolheram seguirão seus caminhos na esperança de dias melhores”, pontua o juiz.
É dito ainda que a médica assassinada deixou duas crianças em tenra idade, que, muito cedo, tornaram-se órfãs de mãe. “Justamente em um momento extremamente sensível da vida humana, momento de formação moral, intelectual, religiosa, psicológica e afetiva, deixando-as com uma espécie de vácuo sentimental, que só não foi ainda pior em razão da firme presença e cuidados dispensados pelos familiares da vítima”.
Mas destaca que por mais que os familiares se esforcem, não serão suficientes para substituir a presença e o amor da própria mãe. Observa ainda que o assassinato trouxe consequências incalculáveis para o resto das vidas das crianças.
“Havendo, inclusive, a informação da necessidade de acompanhamento psicológico e que a filha mais nova sempre chamava chorando pela mãe, e tanto se torna mais grave diante da presumível hipossuficiência econômica das incapazes aliado ao desamparo financeiro decorrente da morte da vítima, a qual, antes de ser morta, chegou a escrever uma carta pedindo para que as filhas ficassem sob a guarda do seu irmão”, diz o texto da sentença.
A carta a que o juiz se refere foi escrita por Milena Gottardi e registrada em cartório no dia 6 de abril de 2017, cinco meses antes do crime. Nela a médica relata detalhes do seu cotidiano, as dificuldades que enfrentava para obter a separação de Hilário e o medo de ser morta. E fazia um pedido à justiça: se algo acontecesse a ela, que as filhas ficassem com o seu irmão, Douglas Gottardi. Pedido que foi atendido e hoje ele detém a guarda definitiva das crianças.
Milena foi baleada na cabeça no estacionamento do Hospital Universitário Cassiano Antonio Moraes (Hucam), onde trabalhava, em 14 de setembro de 2017, e teve a sua morte declarada no dia seguinte, deixando duas filhas, que na época tinham um ano e dez meses e nove anos. De acordo com o Ministério Público Estadual (MPES), o motivo do crime foi porque Hilário não aceitava a separação, o que o fez "nutrir um sentimento de ódio contra a médica".
Em um dos julgamentos mais longos da história da Justiça capixaba, que durou oito dias, seis pessoas foram condenadas como responsáveis pelo assassinato da médica Milena Gottardi. O júri decidiu na noite desta segunda-feira (30), que o ex-policial civil e ex-marido da médica, Hilário Frasson, foi o principal mandante do crime.
Todos vão cumprir a pena em regime fechado e não poderão recorrer em liberdade. Os seis condenados, além da prisão, terão que indenizar, juntos, a família de Milena Gottardi em R$ 700 mil. A sentença foi lida pelo juiz Marcos Pereira Sanches.
Como mandantes do crime, Hilário e Espiridião receberam a pena máxima de 30 anos de reclusão, pelos crimes de feminicídio, homicídio qualificado e fraude processual. Na soma das penas, Hilário ficaria com 42 anos de prisão, enquanto Esperidião contabilizaria 34 anos e oito meses. Como o teto penal brasileiro é de três décadas, o tempo de punição foi fixado em 30 anos.
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