A Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) e o Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal (Idaf) investigam quatro casos de varíola bovina em humanos no Espírito Santo; 24 vacas também foram identificadas com a doença. Questionada pela reportagem de A Gazeta, a Sesa não informou em qual município os casos são investigados, apenas identificou o local como "Região Central".
Em nota, a Sesa informou que os casos investigados na Região Central se tratam de varíola bovina, um tipo de zoonose em que a fonte primária é o gado. "É importante ressaltar que a varíola humana foi erradicada no mundo há mais de 40 anos", ressaltou.
As equipes estão realizando a investigação e orientando as vigilâncias da Atenção Primária dos municípios vizinhos sobre o manejo clínico e epidemiológico relacionados à doença. "É importante ressaltar que a transmissão ocorre principalmente por contato direto do ordenhador com úbere do animal. Apesar de pequena gravidade, traz transtornos para o trabalhador, que fica impedido de atuar", informou.
Por fim, a Sesa esclareceu que não há necessidade de sacrifício dos animais nem restrições para a comercialização do leite, entretanto a inspeção sanitária do alimento em estabelecimento devidamente registrado no serviço de inspeção oficial é obrigatória.
A varíola bovina é diferente da varíola humana. Segundo o professor do Departamento de Patologia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Breno Salgado, o último caso de varíola humana foi registrado no final da década de 1970, com a doença sendo considerada erradicada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1980.
Os casos investigados agora são de varíola bovina. "Existem outros vírus semelhantes que afetam animais, especialmente roedores em ambientes rurais. Onde existem roedores silvestres/selvagens é comum o contato com esses animais. Até mesmo gatos, cachorros caçando e tendo contato, acabam por se infectar", disse.
O professor explica que o ser humano, ao ter contato com os animais com a doença, acaba se infectando também. "Como consequência, especialmente nesses ambientes rurais, ao tratar de animais que são utilizados na pecuária, como os bovinos, acaba passando", detalhou.
Breno acrescenta dizendo que, geralmente, durante a ordenha, no caso de rebanho leiteiro, uma pessoa pode adquirir o vírus do animal e acabar repassando para outros animais. Ele ressalta que não há registro de transmissão de pessoa para pessoa.
Breno explica que, ocasionalmente, ocorrem alguns surtos, e cita que casos já foram registrados no Brasil em outras décadas como, por exemplo, em Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Goiás.
"No fim das contas, o ser humano funciona somente como hospedeiro acidental. Não é impossível que tenha ocorrido também varíola bovina verdadeira, ou seja, o vírus da varíola dos bovinos foi o primeiro que depois foi transmitido aos seres humanos", explicou o professor.
Apesar dos casos investigados, Breno ressalta que isso tem ficado cada vez menos frequente, e que dependerá das análises em laboratório para saber realmente qual o tipo de vírus em questão. "Definir se são dos roedores inicialmente, dos bovinos... Existe até varíola de macaco, todas menos agressivas nos humanos que funcionam como hospedeiros acidentais", concluiu.
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