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Quem já teve Covid não pode se julgar livre da doença, dizem médicos

Quem já teve Covid não pode se julgar livre da doença, dizem médicos

Casos de reinfecção já foram registrados no mundo e no Brasil; no Estado, apesar de ainda não confirmados, há pacientes com mais de um diagnóstico positivo

Publicado em 11 de dezembro de 2020 às 06:01

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Uso de máscara de proteção contra o coronavírus
Uso de máscara continua sendo uma medida indispensável, mesmo por aquelas pessoas que já foram infectadas pelo coronavírus. (Carlos Alberto Silva)

Muitas pessoas que foram infectadas pelo coronavírus (Sars-CoV-2) estão relaxando nas medidas de segurança por acreditar que se livraram da Covid-19. Entretanto, casos de nova contaminação já foram registrados no mundo e no Brasil, e, portanto, não há garantias de imunidade permanente. Embora ainda não confirmada, a reinfecção também é investigada no Espírito Santo, e 58 relatos de pessoas com dois diagnósticos positivos, em intervalo superior a 90 dias, são analisados. Por isso, especialistas alertam sobre a necessidade de manter os cuidados para prevenção da doença.

Pós-doutora em Epidemiologia e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Ethel Maciel diz que os casos de reinfecção de Covid-19 relatados até o momento ainda são uma exceção, mas nem por isso podem ser ignorados.

A especialista avalia que o número reduzido pode estar relacionado ao fato de a doença ainda ser muito recente, e não ter havido um intervalo temporal suficiente para novas infecções, ou ainda porque, em um primeiro momento, não se fazia o armazenamento de cepas dos vírus para poder fazer a comparação. Além disso, observa Ethel, há também as pessoas que desenvolvem a doença sem sintomas, mascarando uma eventual reinfecção.

"Avaliando o cenário hoje, é possível que a doença permaneça entre nós e talvez os casos de reinfecção sejam registrados como os de gripe. O problema é se houver mutação do vírus, com transmissão por cepas mais virulentas", pontua.

Paulo Peçanha, infectologista e professor da Ufes, reforça que, no momento, a reinfecção é um caso raro, mas não impossível de ocorrer. Dessa maneira, ressalta o médico, a população não pode perder de vista as medidas de segurança, como uso de máscara, distanciamento e higienização frequente das mãos, e para quem puder, também ficar em casa.

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É importante que todos mantenham a proteção. Não dá para sair sem máscara, ou pensar: 'eu já tive, então posso aglomerar, estou com passaporte para circular à vontade'. Isso não é verdade! A possibilidade de reinfecção deve manter o compromisso de adesão às medidas de proteção por todas as pessoas, independentemente de já terem tido ou não a infecção

Paulo Peçanha
Infectologista e professor da Ufes
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O secretário estadual da Saúde, Nésio Fernandes, em entrevista na última semana, também destacou este posicionamento: "quem teve Covid não pode se considerar protegido."

DOIS TESTES POSITIVOS

Uma enfermeira de 29 anos, moradora da região Noroeste do Estado, conta que testou positivo para a Covid-19 em julho e, novamente, no mês passado. Os dois exames foram realizados em laboratório particular e, ao receber o resultado da segunda vez, uma nova coleta foi feita e confirmada no Laboratório Central do Espírito Santo (Lacen-ES). 

Exame de Covid-19 de enfermeira deu positivo duas vezes
Exame de Covid-19 de enfermeira deu positivo em julho e, depois, em novembro. (Reprodução)

Da primeira vez, a enfermeira, que prefere não ser identificada, sentiu muita dor de cabeça, garganta irritada, diarreia, náusea e fraqueza. Os cuidados para se recuperar foram realizados em casa mesmo, porém, três meses depois, ela apresentou uma miocardite (inflamação no coração) que a manteve internada por uma semana. "Não podemos garantir que foi sequela da Covid, mas tem sido bem comum em pacientes infectados", ressalta a jovem. 

Após o problema cardíaco, para o qual ainda faz tratamento, a enfermeira conta que o segundo diagnóstico de Covid-19 foi ainda mais assustador que o primeiro. "Fiquei com muito medo. Foram oito dias de diarreia, a saturação (do oxigênio) caiu, tive taquicardia, perdi o olfato. Os sintomas foram mais fortes", descreve. 

Apesar de não ter recebido a confirmação de reinfecção, a enfermeira se preocupa com a possibilidade de ser contaminada pela terceira vez. Ela não relaxou nos cuidados, mas avalia que, como profissional de saúde, está mais suscetível ao contato com o vírus. 

"Já perdi colegas de trabalho, amigos para a doença; é bem complicado. Muitas pessoas não acreditam que possam contrair o vírus, ou que possam agravar, caso contaminadas. Mesmo depois que peguei, e pensei que não teria novamente, continuei com os cuidados. Ainda assim, fui contaminada. Descobri que não tinha criado imunidade, e pegar novamente pode agravar o meu problema no coração. Por isso, faço acompanhamento com cardiologista e tomo medicação", revela. 

Uma operadora de 23 anos, que também pediu para não ser identificada, recebeu o primeiro resultado positivo em 15 de julho.  Há um mês, voltou a apresentar um quadro de congestão nasal, similar ao de sinusite, mas não imaginou que pudesse ser novamente a Covid-19. Quatro dias depois do início dos sintomas, a perda do olfato e do paladar sugeria o retorno da doença. Entrou em contato com o médico, fez novo exame e mais uma vez o diagnóstico indicava infecção pelo coronavírus.

Exame de Covid-19 de operadora deu positivo duas vezes
Operadora fez exame de Covid-19 e, em duas vezes, testou positivo. (Reprodução)

"E olha que tomei todos os cuidados, aliás, redobrei. Meu marido é grupo de risco e eu só saio para trabalhar. Sempre tive preocupação, perdi pessoas para a Covid-19, mas quase não acreditei quando vi o novo resultado. Como eu fiz em laboratórios diferentes, estou agora tentando ver se é possível comparar e dizer se meu caso é de reinfecção", afirma. 

Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) informa, por nota, que estabeleceu investigação sobre casos de reinfecção por Covid-19 no Espírito Santo, conforme os critérios estabelecidos na nova Nota Técnica 52/2020, do Ministério da Saúde. Para justificar a investigação, é necessário que os casos sejam de indivíduos com dois resultados positivos de RT-PCR em tempo real, e as duas amostras precisam estar disponíveis para análise dentro de um intervalo igual ou superior a 90 dias.

"Se enquadram nos critérios, atualmente, 58 casos no Estado. As amostras ainda estão em processamento para definir se seguirão para análise da referência nacional", informa a nota. Na quarta-feira (9), foi confirmado o primeiro caso de reinfecção no Brasil, de uma médica do Rio Grande do Norte. 

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