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"Quero voltar para a escola, mas não sei como", diz professora vítima de atirador no ES

"Quero voltar para a escola, mas não sei como", diz professora vítima de atirador no ES

A professora Bárbara Arrigoni, de 37, foi ferida por dois tiros durante atentado na escola  Primo Bitti, em Aracruz. Uma semana após os ataques, o trauma ainda assombra as vítimas

Publicado em 2 de dezembro de 2022 às 14:20

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EEFM Primo Bitti
Adolescente armado invade escolas em Aracruz. (Fernando Madeira)

Uma semana depois, as cenas da manhã de 25 de novembro trazem terror aos sobreviventes dos ataques a duas escolas em Aracruz, Norte do Espírito Santo. Nesta sexta-feira (2), também de jogo do Brasil na Copa do Mundo, gatilhos de memória são disparados e ferem novamente as vítimas.

Um adolescente de 16 anos invadiu a Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio (EEFM) Primo Bitti e o Centro Educacional Praia de Coqueiral (CEPC), atirou contra professores e alunos, matando quatro pessoas e deixando outras 12 feridas, sendo sete baleadas. 

Hoje, quatro pessoas seguem internadas em hospitais da Grande Vitória. Em conversa com a reportagem de A Gazeta, a professora de química Bárbara Arrigoni, de 37 anos, não conseguiu segurar as lágrimas ao relembrar o momento e as professoras que foram mortas no ataque.

Ela foi atingida por dois tiros no braço e ficou internada em um hospital particular, onde recebeu alta na segunda-feira (28). Além das cicatrizes das balas, ela conta que as lembranças daquele dia são marcas e dores que levará para toda a vida. 

“Nós, professoras, tínhamos uma amizade e uma rede de apoio. Eu quero voltar para a escola, mas eu não sei como. Eu amo ser professora, tenho amor pelo que faço, mas não sei como vai ficar.”

Ataque a escolas
Bárbara Arrigoni, professora de Química ferida em Aracruz. (Ronaldo Rodrigues)

Ela contou que estava almoçando, na sala dos professores, quando o atirador invadiu o local. Bárbara se escondeu debaixo da mesa ao ouvir os tiros. 

Aspas de citação

Eu estava deitada embaixo da mesa, até que ele chegou perto de cada uma de nós e atirou em cada uma. Ficamos com muito medo de sair de lá. Medo que ele retornasse.

Bárbara Arrigoni
Professora de química
Aspas de citação

Suas amigas e colegas de trabalho, Cybelle Passos Bezerra, de 45 anos, Maria da Penha Pereira de Melo Banhos, 48, e Flávia Amboss Merçon Leonardo, 38, morreram no ataque. A aluna Selena Sagrillo Zuccolotto, de 12 anos, do 6° ano da escola particular, também foi assassinada no atentado.

“A gente tinha planos, a gente tinha pessoas, uma escola, um lugar de trabalho. Agora não tem nada. Foi tudo tirado da gente. É até difícil de falar”, relatou a educadora.

Bárbara afirmou que seu único pedido no momento é por orações. "Orações por quem se foi, por quem ficou, por quem ainda precisa superar aquela sexta-feira. É só o que me sustenta nesse momento, o que sustenta as famílias que perderam e estão enlutadas, sustenta a nós que sobrevivemos, aquelas que precisam se recuperar e a nossos colegas. Estamos sem chão. É muito difícil, tudo muito difícil”, acrescentou.

Como estão os sobreviventes

Uma semana após os ataques, a professora de história Sandra Regina Guimarães, de 58 anos, atingida por sete tiros durante o ataque, teve alta.

Ela, que é professora há mais de 30 anos na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio (EEFM) Primo Bitti, primeira unidade de ensino atacada pelo atirador que matou quatro pessoas, disse que vai se aposentar em menos de dois anos.

Como professora de história participa do projeto 'Olhares e saberes', que desenvolve na escola para valorizar a cultura indígena muito presente na região. Aracruz, localizado a 80 quilômetros de Vitória, é o único município capixaba com aldeias indígenas Tupiniquins e Guaranis.

Sandra disse que amigos e familiares estiveram ao lado dela o tempo inteiro. A professora pede orações para todas as vítimas e parentes, além de toda a comunidade que sofreu com o ataque.

A professora de língua portuguesa Priscila Queiroz, de 40 anos, recebeu alta no mesmo dia que Bárbara. Ela foi baleada com dois tiros no ataque às escolas em Aracruz, no Norte do Espírito Santo. A educadora é indígena, da aldeia Tupiniquim de Caieiras Velha no município.

Priscila, que é professora há 17 anos, dá aula na escola estadual desde 2020 e também já foi aluna da instituição. A educadora foi atingida por um disparo nas costas, que atravessou o ombro, e outro que atingiu o braço.

Uma outra professora de Língua Portuguesa, de 51 anos, segue internada no Hospital Estadual Dr. Jayme dos Santos Neves (HEJSN), em Serra, em estado de saúde estável. Além dela, um adolescente de 11 anos, baleado nas costas na escola particular, está em estado estável na enfermaria do Hospital Infantil de Vitória.

Já a adolescente Thaís Pessotti da Silva, de 14 anos, estudante do Centro Educacional Praia de Coqueiral (CEPC), levou um tiro na cabeça, passou por cirurgia e, até a última atualização da Secretaria de Saúde, está na UTI do Hospital Infantil de Vitória, em estado estável.

A professora de inglês Degina Rodolfo de Oliveira Fernandes, de 37 anos, saiu do coma induzido nesta terça-feira (25). A educadora foi baleada por cinco tiros, que atingiram as pernas, quadril, abdômen e tórax. Degina está internada na UTI do Hospital Jayme Santos Neves, na Serra, na Grande Vitória, e sem previsão de alta.

Ataques

Na última sexta-feira (25), um adolescente invadiu duas escolas armado e matou quatro pessoas e deixou 12 feridos em ataques a tiros em Aracruz, na região Norte do Estado. Ele foi apreendido no início da tarde do mesmo dia. Morreram nos ataques duas professoras da escola estadual e uma estudante do sexto ano da escola particular.

Em coletiva de imprensa, o secretário de Estado da Segurança Pública e Defesa Social, coronel Márcio Celante, afirmou que o suspeito entrou primeiramente na Escola Estadual Primo Bitti, quebrando o cadeado e invadindo a sala de professores. Lá, ele atirou em 11 pessoas: duas delas morreram no local.

Segundo informações do Capitão Alexandre, do 5º Batalhão da Polícia Militar, após o primeiro ataque, o atirador entrou em um veículo do modelo Renault Duster, de cor dourada, com as placas cobertas, e foi para o Centro Educacional Praia de Coqueiral (CEPC), onde fez as demais vítimas.

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