As circunstâncias que levaram ao corte no abdômen do rapaz de 21 anos em Guarapari ainda são investigadas pela Polícia Civil, mas, pelos depoimentos e registros das câmeras de videomonitoramento, estima-se que ele ficou mais de três horas com a barriga aberta entre o momento do pedido de socorro e a chegada do resgate. O caso ocorreu na madrugada de 16 de janeiro na Praia do Ermitão, onde ele estava acompanhado da namorada.
Nessas condições, o risco de morte era iminente, por hemorragia, assim como a possibilidade de infecção. Mesmo superadas essas situações, o rapaz pode ter sequelas devido ao tipo de ferimento, segundo especialistas ouvidos por A Gazeta.
O professor do Departamento de Cirurgia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e cirurgião de aparelho digestivo da Rede Meridional, Gustavo Peixoto, esclarece que não é médico do caso, mas pelas informações divulgadas é possível afirmar que o corte abdominal submeteu o jovem a múltiplos riscos.
A hemorragia decorrente da agressão também poderia ter levado o jovem à morte. Questionado sobre o fato de o rapaz ter sobrevivido por horas sem atendimento, com a barriga aberta e sangrando, Gustavo Peixoto explica que o organismo encontra mecanismos de defesa contra o choque hemorrágico (perda de sangue).
"Um deles é o espasmo espontâneo de vasos, o outro é que a queda do volume sanguíneo baixa a pressão e a pressão menor nos vasos diminui a perda sanguínea. Por isso, alguns doentes conseguem sobreviver muitas vezes a traumas complexos", pontua.
Gustavo Peixoto aponta que, naturalmente nesses casos, logo no resgate os profissionais adotam as medidas necessárias para conter o sangramento e limpar o ferimento até que o jovem chegasse ao hospital, minimizando os riscos, e também o atendimento dispensado pela equipe médica na unidade de saúde está contribuindo para sua recuperação.
Segundo ele, os traumas abdominais são frequentes nos hospitais e os cirurgiões estão habituados a lidar com essa condição, mas, ainda assim, os danos à saúde não estão descartados.
O professor observa que o caso tem a particularidade de o intestino do rapaz ter sido cortado. Como sobrou uma parte pequena do órgão, a possibilidade de ter sequelas a longo prazo é grande, segundo Gustavo Peixoto. O jovem pode desenvolver uma insuficiência intestinal, exigindo um acompanhamento multidisciplinar de profissionais de saúde, como nutrólogos e cirurgiões.
O pedido de ajuda para o jovem foi feito por volta das 2 horas da madrugada do dia 16, segundo depoimento da mãe de sua namorada à polícia. A informação foi compartilhada pelo advogado da família, Lécio Machado.
O socorro, do Samu e Corpo de Bombeiros, chegou às 5h16, conforme registro de videomonitoramento na área do Parque Morro da Pescaria, que dá acesso à praia do Ermitão. Assim, estima-se mais de 3 horas em que o rapaz ficou com a barriga aberta e aguardando.
Ainda segundo o advogado, a mãe da namorada contou à polícia que ligou para a filha e que ela estava bastante aflita. "A jovem estava muito desesperada, pedindo socorro. Mas a mãe conseguiu ouvir a voz do rapaz informando que eles estavam no Parque Morro da Pescaria. Ele gritou a localização umas três vezes."
Ainda com a filha ao telefone, diz Machado, a mãe foi ao parque, que estava fechado. No local, encontrou alguns jovens e pediu ajuda para tentar localizar a garota. Juntos rodaram nas imediações do parque, mas não tiveram sucesso.
Até que por volta de 4h20 a jovem chegou até a guarita do vigia do parque e juntos foram ao encontro do namorado dela, que estava deitando na areia da praia aguardando por socorro. O videomonitoramento registra movimentações e, às 5h16, a chegada de Samu e Bombeiros.
Câmeras de segurança próximas à entrada da Praia do Ermitão mostram o casal de namorados entrando na trilha de acesso à praia pelas pedras, na noite de 15 de janeiro, porque no horário o Parque Morro da Pescaria já estava fechado.
Depois, por volta das 6h do dia 16, outra câmera de segurança do local mostra o rapaz já sendo conduzido pela equipe do Samu que o levaria para o Hospital Estadual de Urgência e Emergência (HEUE) - São Lucas, em Vitória.
Nesse intervalo de tempo, o jovem foi ferido no abdômen, ficando com um corte profundo na barriga que deixou parte do intestino exposto. Outra parte do órgão, que supostamente seria dele, foi encontrada na areia da praia. A namorada dele também sofreu ferimentos, mas já teve alta.
O objeto usado para o corte, as circunstâncias da agressão, e em que momento houve o ataque são alguns dos questionamentos que a investigação da Polícia Civil pretende esclarecer. As famílias do casal afirmam que eles foram atacados numa tentativa de latrocínio.
O título e o texto foram atualizados para deixar mais clara a informação de que o rapaz de 21 anos ficou por mais de 3 horas com a barriga aberta, do momento do pedido de socorro até ser resgatado na Praia do Ermitão, em Guarapari.
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