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Recomeço: capixabas contam como é viver de novo após a Covid-19

Recomeço: capixabas contam como é viver de novo após a Covid-19

A Gazeta ouviu histórias de quem superou a doença, mas convive até hoje com os efeitos deixados pelo vírus, sejam físicas, sejam emocionais

Publicado em 13 de março de 2021 às 08:08- Atualizado há 4 anos

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Recomeço: capixabas contam como é viver de novo após a Covid-19
Recomeço: capixabas contam como é viver de novo após a Covid-19. (Arquivo pessaol/Arte Geraldo Neto)

A rotina agitada da técnica de enfermagem Nelcileia Viana, 42 anos, deu uma reviravolta há 10 meses, após ser diagnosticada com Covid-19. A doença deixou sequelas que perduram até hoje, mas o pesadelo de quase perder a vida trouxe uma nova forma de viver, mais perto da família e em um novo emprego.

Mãe de uma jovem de 23 anos e uma adolescente de 15, Nelcileia chegou a ficar sem memória após sair do coma. Internada no  Hospital São Camilo, em Aracruz, ela só foi reconhecer a filha mais nova, Maria Luisa, dias depois. 

Recomeço: capixabas contam como é viver de novo após a Covid-19
Nelcileia Viana: mais próxima da família após doença . (Arquivo Pessoal/Arte Geraldo Neto)
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Foi como se eu fosse dormir e acordasse 12 dias depois, sem saber nada o que tinha acontecido. Eu não lembrava de ninguém, não conseguia falar e nem sabia onde eu estava. Somente quatro dias depois de sair do coma foi que lembrei que eu tinha uma filha de 15 anos.

Nelcileia Viana
Técnica de enfermagem
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A filha, até então, não morava com Nelcileia, que saía para trabalhar às 5h30 e retornava pra casa por volta das 20h.  "Minha vida mudou depois dessa doença. Minhas irmãs mais velhas viraram mães, cheias de cuidado comigo. Minha caçula passou a morar comigo e tive coragem de pedir demissão da empresa que nada me apoiou durante a doença", conta. 

Ao sair do hospital, Nelceileia não conseguia andar, já que a perna esquerda estava paralisada por causa de uma trombose causada pela doença. Foram várias fisioterapias pagas com dinheiro do próprio bolso.  As dores permanecem até hoje em dias alternados, quando anda mancando.

"Como não podia andar, passei a fazer cursos on-line, procurei outros empregos e consegui uma vaga. Hoje, trabalho mais próximo de casa, minha filha está comigo e minhas irmãs e familiares muito mais unidos pelo amor. Também passei a sonhar mais", conta, radiante. Com licença para sonhar, ela agora quer fazer viagens quando a pandemia terminar. O primeiro destino será a Grécia. 

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Erlan Delunardo Ferri: "Eu lutei por cada minuto de vida", recorda. (Arquivo Pessoal/Arte Geraldo Neto)

NOIVADO E FORTALECIMENTO DA FÉ

O inspetor rodoviário Erlan Delunardo Ferri, 31 anos, ficou noivo de Bárbara Carneiro Caniçali, 28, no saguão de um hospital, em 2020, quando completaram 10 anos de namoro. Era o fim de um momento extremamente difícil da vida do casal. 

Em junho de 2020, Erlan ficou internado em estado grave devido à infecção do coronavírus. "Eu fiquei na UTI, um rapaz de pouco mais de 30 anos morreu no quarto ao lado. No outro dia, mais um morreu, também de Covid. Não se falava em uma vacina ainda e aquela doença estava matando todo mundo. Meu maior medo era parar de respirar, pois eu puxava o ar e ele não vinha direito. Eu lutei por cada minuto de vida", lembra.

Ao todo, foram 14 dias internado em um hospital particular.  O inspetor rodoviário não pode comemorar o aniversário de namoro, o Dia dos Namorados e  nem o aniversário de Bárbara. A ideia de pedi-la em casamento surgiu quando Erlan começou  a melhorar. Ele não perdeu tempo para organizar, às escondidas, o pedido, que contou com aliança e discurso. 

"Tive minha fé colocada à prova. E não falhou, tinha esperança de que daria certo. Ouvia canções religiosas para me acalmar durante a internação, onde estava eu e Deus, meu companheiro", ressalta.

Depois de passar 14 dias internado na UTI, Erlan Delunardo Ferri, 30, surpreendeu a namorada Bárbara Carneiro Canicali, com um pedido de casamento
Depois de passar 14 dias internado na UTI, Erlan surpreendeu a namorada com um pedido de casamento. (Reprodução)
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Eu tive uma segunda chance de viver. Evoluí muito, passei a valorizar pequenas coisas e a ser compreensivo. Vejo o quanto Deus é presente na minha vida e o sentido de eu existir.

Erlan Delunardo Ferri
Inspetor ferroviário
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Após vencer a doença, Erlan tomou anticoagulante por seis meses e passou a ter problemas de pressão arterial, passando até mesmo a necessitar de remédio constante. 

"O psicológico também ficou abalado, sou mais preocupado e passei a ter ansiedade, o que não tinha antes da doença. Vejo as pessoas saindo e acho isso um desrespeito com quem está lutando pela sobrevivência nos hospitais e quem está trabalhando lá.   Cumprir o isolamento e as medidas de segurança é o mínimo que podemos fazer por nós e pelos outros", desabafou. 

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Karlairy Pereira de Assis: aproveitando as coisas simples da vida. (Arquivo Pessoal/Arte Geraldo Neto)

SIMPLICIDADE E NOVA VIDA

"Ela ficou ao meu lado o tempo todo, ela é muito importante pra mim". A declaração de amor é do engenheiro agrônomo Karlairy Pereira de Assis, 38 anos, para a esposa. Foi ao amor dela e ao filho de 4 anos que ele se apegou quando precisou ficar 15 dias internados após ser diagnósticado com Covid-19. 

A doença atingiu a vida do engenheiro em novembro do ano passado. Morador de Barra de São Francisco, Karlairy passou dias  confinado em um apartamento de 58 metros quadrados, no Centro da cidade, pois não podia ir à campo. No entanto, quando o estado de saúde piorou, precisou ir para um hospital em Colatina.

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Eu coloquei na cabeça que precisava sobreviver pois eu tenho um filho que precisa de mim, tenho que criá-lo ainda. Não podia morrer, refleti muito sobre a minha vida.

Karlairy Pereira de Assis
Engenheiro agrônomo 
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Já são cinco meses desde que tudo aconteceu, mas o tempo não fez passar os problemas deixados pelo coronavírus. "Como sou engenheiro agrônomo, percorro grandes extensões de terra. Hoje não consigo mais, fico muito cansado, pois o comprometimento que houve do pulmão talvez nunca se reestabeleça", detalha.

O dano pulmonar também inviabilizou a atividade da apicultura, ramo que Karlairy também atuava. Ele  não consegue mais mexer nas abelhas por não conseguir lidar com a fumaça necessária na atividade. No dia a dia, até subir escadas se tornou uma ação de grande força para ele. 

E não só o corpo de Karlairy mudou. O jeito de ver a vida já não era o mesmo de antes da doença.  "O valor à vida se potencializou. Como é importante ter as pessoas ao nosso redor, ter pai, mãe e família. Me questionei porque eu trabalhava tanto. Hoje, vejo minha vida totalmente diferente. Vejo até as formiguinhas que antes não observava. Descobri que uma volta de bicicleta com meu filho é melhor que qualquer Ferrari. O mínimo me faz mais feliz agora", conta.

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Aurélio Dallapicula passou 41 dias internado por causa da Covid-19. (Arquivo Pessoal/Arte Geraldo Neto)

NOVOS HÁBITOS PARA RECOMEÇAR 

Dono de um ritmo de vida acelerado, o advogado e corretor de imóveis Aurélio Dallapicula, 48 anos, teve que parar tudo quando encarou a Covid-19. Foram 41 dias internado, sendo 15 deles em coma e intubado, entre 22 de setembro e 7 de novembro do ano passado.

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Eu morri e nasci de novo. Os médicos chegaram a dizer para a minha esposa que eles tentaram de tudo e que não tinham mais o que fazer. Mas eu sempre acreditei em Deus. Sou católico e mantive a fé.

Aurélio Dallapicula
Advogado e corretor de imóveis 
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Com um filho de 2 anos que havia sido adotado pouco tempo antes de ser infectado, Aurélio achava que não seria lembrado pelo menino depois de tanto tempo internado. 

"Quando estive com minha esposa de novo, ela disse que meu filho ficava me procurando pela casa. Quando voltei, ele se lembrou de mim, fiquei imensamente feliz. Também percebi o quanto sou amado quando recebi de carinho e orações. Até hoje não consegui ler todas as mensagens que recebi e diariamente recebo ligações de pessoas querendo saber de mim", lembra. 

Além de sentir-se mais amado e poder ter a oportunidade de exercer a paternidade, Aurélio teve que conquistar novos hábitos para a saúde, já que retornou do hospital para casa em uma maca, sem conseguir sequer mexer os braços. 

"Eu fiquei até sem falar. Contratei um fisioterapeuta e fui lentamente evoluindo. Com uma semana, já dava passinhos, falando, e hoje em dia está quase normal. Faço natação e musculação para fortalecer e acompanhar o meu pulmão, que durante a doença chegou a ter 100% de comprometimento", lembrou. 

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