Para especialistas ouvidos por A Gazeta, o tema da Redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2023 — "Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil” —, surpreendeu. A maioria apostava em assuntos como inteligência artificial ou conflitos globais. Mas os professores acreditam que o aluno que tenha se preparado bem para a prova conseguirá fazê-la sem problemas.
“Não é um tema que é trabalhado frequentemente pelos professores de Redação na sala de aula. Neste ano, as apostas foram conflitos globais e inteligência artificial, por exemplo. Mas a tradição do Enem mostra que o exame nunca seleciona temas da moda” explica o professor de Língua Portuguesa Thalles Zaban que ensina na EEEM Doutor Francisco Freitas Lima.
Segundo ele, mesmo que o tema tenha sido inesperado, alunos que tenham estudado eixos temáticos como desigualdade social, diferença salarial entre homens e mulheres e questões de gênero, sobretudo sobre um suporte teórico da Sociologia, serão capazes de desenvolver uma boa Redação.
A professora Rafaela Arpini, que tem um curso chamado Laboratório de Linguagens, achou o tema desse ano incrível, apesar da surpresa. Ela recordou que o eixo temático da mulher já foi assunto da prova em 2015, só que com outro recorte: violência contra a mulher. Para Rafaela isso mostra a importância do assunto na sociedade.
“Só nisso aí a gente já percebe que o assunto é muito importante. Porque temos outras lacunas a serem resolvidas. A questão da invisibilidade do trabalho de cuidado precisa ser debatida pelos nossos alunos. Não foi um tema super esperado, mas tenho certeza de que os alunos estavam preparados” disse a professora.
Ao analisar os textos motivadores do exame, a professora explica que o aluno poderia abordar em sua tese o legado histórico, o legado cultural, a desigualdade social e a omissão estatal. "Por exemplo, eles poderiam falar sobre o legado cultural, que o ato de cuidado é associado às mulheres desde a antiguidade, enquanto os homens saiam para caçar, as mulheres cuidavam da casa e dos filhos".
Já a professora Isabella Colmanetti, da escola Madan, explica que para ganhar uma boa nota o aluno poderia refletir sobre as consequências da invisibilidade do trabalho de cuidado, seja para a mulher, seja para a sociedade em geral. “Tendo em vista que as demandas cotidianas de trabalho e lazer são, em maior parte, gerenciadas pelas mulheres” explica Isabella.
Ela destacou que a pertinência do tema vêm da situação atual da mulher na sociedade. Apesar dos avanços em questões de liberdade e escolhas, a imagem da mulher ainda sofre vários preconceitos e estereótipos, como a questão de serem as cuidadoras. “Ainda enfrentamos questões para que elas não sejam estereotipadas como aquelas que são e devem ser as cuidadoras e gerenciadoras únicas ou principais de núcleos familiares” explica a professora.
*Carla Nigro é aluna do 26º Curso de Residência em Jornalismo. Este conteúdo teve edição e supervisão de Fernanda Dalmácio.
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