Na última segunda-feira (12), um atleta de jiu-jítsu desapareceu depois de mergulhar em uma cachoeira, em Castelo, no Sul do Espírito Santo, e o caso gerou um alerta para quem frequenta cachoeiras e rios. Isso porque durante as buscas, o Corpo de Bombeiros divulgou que no local acontece o fenômeno chamado refluxo, que dificulta o trabalho dos mergulhadores.
Apesar de o termo não ser muito conhecido da população em geral, o fenômeno é bem mais comum do que as pessoas imaginam. O refluxo acontece em qualquer fluxo de água, como explica o comandante do Corpo de Bombeiros de Cachoeiro de Itapemirim, Herbert Carvalho.
“O refluxo é um comportamento comum em qualquer fluxo de água. Imagino o curso de água indo reto e encontrando uma barreira. Uma parte da água vai contornar para a direita, outra parte para a esquerda e outra parte para baixo. Se a parte de baixo for rasa, aquele fluxo vai naturalmente encontrar o fundo, mas se o fundo for profundo, ele gira um redemoinho para baixo. Como um moinho para baixo, tipo um liquidificador. Parte vai desviar para esquerda e direita, mas vem mais água e o redemoinho continua, porque tem o movimento da água o tempo inteiro”, explicou Herbert.
Ainda segundo o comandante, o que torna o refluxo perigoso é a profundidade do fundo e a velocidade da correnteza. A força do refluxo está totalmente ligada à força da correnteza e ao volume de água e o fundo. Em um córrego, por exemplo, o fenômeno acontece da mesma forma, mas de forma bem fraca. O local onde o refluxo é mais intenso e perigoso, é em foz de rio.
“Esse fenômeno ocorre 100% do tempo que a água está descendo a corredeira abaixo. Se tiver raso, ninguém nem percebe, mas se vier de uma cachoeira, é mais forte. Porque ela vem, cai, gera uma energia cinética muito forte pra baixo e, dependendo da fundura, se reflete lá embaixo e desenvolve o movimento de redemoinho”, disse.
O que o comandante destaca é que o refluxo não é visto da superfície e isso pode ser uma armadilha. “Por isso que 90% das pessoas que morrem em água, é em água doce, porque o que está embaixo não está em cima. Todo mundo vê em cima, tudo calminho ou não vê onda batendo, acha que embaixo está do mesmo jeito, mas não está", alerta.
O banhista deve ficar atento, porque quando o refluxo é forte, acaba segurando a pessoa embaixo, levando ao óbito. “O refluxo pode jogar a pessoa lá pra baixo e ela colidir com alguma coisa, ficar desnorteada e ficar embolado tempo suficiente para se afogar. E dependendo da força, ela pode até se prender lá por baixo. Para sair do refluxo é sorte, não tem o que fazer. É muito perigoso”, falou Herbert.
Sobre o trabalho dos Bombeiros em locais com refluxo, o comandante explicou que é complexo e que existe risco para o profissional. “O mergulhador não consegue trabalhar num refluxo forte porque ele fica ali a mercê daquela energia, girando. Não consegue se manter totalmente imóvel e perde a direção. Não consegue fazer a varredura no trecho que queria", destaca.
Outra característica do refluxo é que ele não é fixo. Pode aparecer ou sumir com o passar do tempo. “Hoje pode estar perigoso e amanhã pode estar tranquilo. Uma enxurrada, por exemplo, pode aumentar ou diminuir o fundo de uma corredeira. Se ela trouxer areia e aterrar o fundo, vai diminuir. Se for o contrário, pode varrer o fundo e aumentar a profundidade. Entrar com cautela é a melhor orientação. A orientação da água no umbigo é a melhor para todo mundo”, disse o comandante.
Na manhã desta quinta-feira (15), as buscas por Felippe Gussão continuam de forma superficial. De acordo com o protocolo do Corpo de Bombeiros, este é o último dia previsto de buscas. No início da tarde desta quinta, militares do Corpo de Bombeiros e tripulantes do Núcleo de Operações e Transportes Aéreo (Notaer), com apoio do helicóptero Harpia, dão continuidade às buscas.
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