Pacientes em estado grave da Covid-19 do interior do Espírito Santo podem ter dificuldades em conseguir uma vaga nas Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs), segundo especialistas. Além da falta de leitos fora da Região Metropolitana, o "atraso" de três semanas da onda de contágio no interior pode provocar uma sobrecarga na rede de saúde.
"Não temos só a Covid-19 como doença que precisa de respiradores. Agora, é a época do ano em que ocorrem outras doenças respiratórias, inclusive a Influenza, que causam a síndrome respiratória aguda. Isso já vai pressionar os leitos de UTI. Soma-se a isso a diferença de cerca de três semanas de atraso da disseminação do vírus entre o interior e a região metropolitana", explica a pós-doutora em epidemiologia e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Ethel Maciel.
A epidemiologista acredita que essa situação levará a um estado crítico a ocupação de leitos de UTI no Estado, principalmente para quem mora longe dos centros urbanos. Atualmente, a taxa de ocupação de leitos de UTI na região metropolitana está em 88,6%.
No interior, a pior taxa é o do Norte do Estado, onde 87% dos leitos estão ocupados. Só em Linhares, um dos maiores municípios do Norte, dois hospitais estão com 100% das vagas preenchidas. O município tinha 118 registros de contaminados pelo coronavírus em 19 de maio, número que passou para 934 um mês depois.
Em toda a região Norte, há apenas 10 vagas disponíveis para atender a população de todos os municípios. Na região Central, há 15 vagas, no Sul são 17 e na Região Metropolitana há 60 leitos de UTI, segundo dados do Painel Covid-19 desta segunda-feira (06).
O motivo para o crescimento está diretamente ligado ao comportamento da população, segundo Ethel Maciel. "Pouco isolamento social contribuiu. O interior não tinha muitos casos, mas houve a flexibilização do comércio, as barreiras sanitárias não ocorreram de forma efetiva, as pessoas infectadas se mobilizaram de um lugar para outro, o vírus foi sendo se deslocando", observou.
O infectologista Lauro Ferreira disse que essa demanda do interior e as poucas vagas - são 199 no interior e 494 na Grande Vitória - geram uma necessidade de melhor remoção dos pacientes. "Por haver menos leitos no interior, os pacientes vão ser removidos. Porém, necessitam de uma remoção adequada. Essa concentração de vagas na área metropolitana é um problema de atendimento no Brasil inteiro", observa o médico.
Lauro Ferreira observa, porém, que o fato do Espírito Santo ter um território relativamente pequeno colabora com as transferências de pacientes entre hospitais. " Nesse aspecto é positivo, pois é possível atingir qualquer ponto do interior do estado em menos de 10 ou 12 horas", pondera.
A preocupação sobre a transferência de pacientes é compartilhada por Ethel Maciel. "O paciente da Covid-19 que evoluiu muito rápido para o estágio grave, esse transporte dele da remoção precisa ser especializado e com rapidez, mas não é o ideal para um paciente intubado, pois corremos o risco de perder o paciente", destaca.
Na tentativa de reduzir a taxa de transmissão, o atendimento básico deveria ser priorizado no interior, segundo Ethel Maciel. "O atendimento de casa em casa por um médico, uma enfermeira e um assistente social, com troca de EPIs frequentes, é uma estratégia mais barata que respiradores", pontua a epidemiologista.
Com isso, a professora da Ufes acredita que seria possível atender rapidamente casos graves, já que estariam sendo monitorados, para que fossem levados até um hospital com vagas.
"As pessoas que moram no interior não estão a 15 minutos de um hospital. A Covid-19 leva a 50% de comprometimento do pulmão rapidamente. Além disso, é necessário aumentar a testagem das pessoas para que elas saibam que estão doentes", explicou Ethel. Para ela, não adianta mais abrir leitos de atendimento. "Há um limite, pois leitos precisam de profissionais capacitados, a demanda está muito maior para eles, que estão sobrecarregados", destacou.
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