O quão longe você já se imaginou chegar? Esse foi um dos principais pontos discutidos na roda de conversa “Coisa de Preto: a presença afro-brasileira muito além do que contam os livros de História”, que propiciou debates sobre representatividade de pessoas negras nos mais diversos espaços.
No evento, promovido pela Rede Gazeta nesta segunda-feira (20), que marca o Dia da Consciência Negra, os convidados contaram sobre suas experiências de vida e, principalmente, no mercado de trabalho. Em todas as vivências, algo em comum: a falta de representatividade de pretos e pardos ocupando profissões de destaque foi um obstáculo na trajetória de todos.
Para o especialista em Inovação Ângelo Santos, a pessoa negra tem total capacidade e perfil para alcançar cargos de destaque, porém, por não enxergarem semelhantes, não chegam nem a sonhar com essa possibilidade.
“Eu mesmo nunca pensei em me tornar gerente de projeto de inovação, porque não havia pessoas como eu na área. Hoje, atuando nesse mercado, percebo que a pessoa negra tem o perfil exato para atuar em inovação e desenvolvimento, pois tem habilidades como criatividade e adaptabilidade que foram desenvolvidas pelas experiências de sobrevivência em uma sociedade cruel e racista”, ressaltou Santos.
Ser uma minoria em determinados espaços, como faculdades, cargos de tomada de decisão, lugares de alta classe, é uma rotina na vida de pessoas pretas e pardas. Luiz Cláudio Pereira, coordenador de Políticas dos Direitos da População Negra (CPDPN) da Secretaria de Cidadania, Direitos Humanos e Trabalho (Semcid), contou que, por muitas vezes em sua trajetória, ele era o único negro no local.
Como professor universitário, acrescentou ele, muitas vezes os alunos acharam que a aula era algum tipo de 'pegadinha', que ele não podia ser o educador.
"Isso mostra o quão desacostumada a sociedade está de ver pessoas negras em cargos de destaque”, constatou Luiz Cláudio, que também é diretor do Instituto Oportunidade Brasil.
Para garantir igualdade de oportunidades, políticas públicas têm que ser pensadas para esse público. Mas, atualmente, entre os 513 deputados que compõem a Câmara Federal, apenas 107 são pardos e 27, pretos. No Senado, dos 27 que se elegeram para a Casa em 2022, seis se autodeclaram negros. No total, pretos e pardos representam apenas 25% dos 81 senadores do país.
Nos cargos de representação política capixaba, o Espírito Santo não conta com um governador negro há 28 anos — o total de seis mandatos. Na Assembleia Legislativa, pretos e pardos são apenas um terço dos deputados estaduais eleitos.
Mas a baixa representatividade vai além da política. Na avaliação da comunicadora e influenciadora Bryce Caniçali, na mídia, na medicina, no direito, na educação superior, entre outros espaços, a presença de pessoas negras ainda é uma excepcionalidade.
“Precisamos lembrar que ‘a favela ainda não venceu’. Todos nós que estamos aqui somos exceções à regra. Muitas pessoas negras, além de não terem oportunidades de empregos que fujam do serviço e da submissão, não têm sequer perspectiva de algo melhor. Não podemos esquecer deles em prol de poucos que alcançaram algum lugar de poder”, ressaltou a influenciadora.
Compreendendo o quão desaminadora pode ser a experiência de ser única pessoa negra em qualquer espaço, sem referências de iguais para seguir, a advogada Hellen Tiburcio comentou sobre a importância da rede de apoio para qualquer pessoa que busca novas oportunidades para mudar de vida.
Ela lembra que, quando entrou na faculdade, era recém-casada, jovem, mãe e a primeira da família a fazer uma graduação em Direito.
A roda de conversa, aberta à comunidade, foi mediada pela repórter Elis Carvalho, do Em Movimento, da TV Gazeta.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta