Uma nova subvariante da cepa ômicron, do coronavírus, preocupa autoridades de saúde nos Estados Unidos e na Inglaterra pelo alto potencial de transmissão e acende um alerta para o resto do mundo, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). Trata-se da subvariante XBB.1.5, que é uma mutação da ômicron XBB, descoberta pela primeira vez na Índia em agosto de 2022.
A cepa XBB — uma fusão de BA.2.10.1 e BA.2.75 — fez os casos de Covid-19 quadruplicarem em apenas um mês em alguns países.
Atualmente, ela é responsável por quase 41% dos casos confirmados da doença no território norte-americano: na semana do Natal, o percentual era de 21%, segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC).
No Reino Unido, uma em cada 25 ocorrências da enfermidade são causadas por essa versão, ainda não identificada no Brasil. Além disso, especialistas temem que a XBB 1.5 seja mais resistente às vacinas contra a covid-19.
Veja o que se sabe sobre os riscos dessa nova subvariante.
A XBB.1.5 foi identificada pela primeira vez nos Estados Unidos e é uma derivada da XBB, subvariante que provocou uma alta de casos em setembro do ano passado em Cingapura e na Índia e já foi registrada no Brasil. A sublinhagem é resultado de uma recombinação de outras versões da Ômicron.
A XBB.1.5 cresceu e se tornou predominante em Cingapura e na Índia, ao mesmo tempo em que a BQ.1 crescia em outros lugares, como os EUA e o Brasil. Isso porque ambas surgiram em períodos semelhantes e apresentam mutações que aumentam o seu potencial de escapar dos anticorpos conferidos pela infecção prévia e pelas vacinas, e consequentemente de provocar casos de reinfecção.
Um estudo de dezembro, publicado na revista científica Cell por pesquisadores da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, mostrou que essas duas versões da Ômicron (BQ e XBB) são as com maior escape identificado até o momento, com a XBB tendo uma resistência maior às defesas, até 49 vezes superior à da linhagem BA.5, que predominou durante boa parte de 2022.
Em uma apresentação do grupo técnico da OMS nesta quarta (4), a epidemiologista e responsável pelo grupo de Covid da entidade, Maria van Kerkhove, disse que "a variante é a mais transmissível até agora devido às mutações que acumulou" e que possui um escape imunológico, isto é, ela consegue fugir da imunidade conferida por vacinas e infecção prévia.
A comunidade científica desconfia que a XBB.1.5 nos EUA possa ser a causa de mutações que geram maior impacto no organismo. O professor Lawrence Young, virologista da Warwick University, disse que o risco é maior em função da queda de eficácia da imunização e da ausência de proteção, como o uso de máscaras, no dia a dia.
"A variante XBB.1.5 é altamente infecciosa e está gerando um aumento nas internações hospitalares em Nova York, principalmente entre os idosos”, diz. Segundo ele, “a diminuição da imunidade [com o tempo de aplicação das vacinas], clima frio e a falta de outras mitigações, como o uso de máscaras faciais, também estão contribuindo para esse surto de infecção nos EUA”.
Para Paul Hunter, professor e epidemiologista na Universidade de East Anglia, a maioria das novas variantes “desaparecem em algumas semanas”. Ele considera, no entanto, que o crescimento acentuado na prevalência de XBB.1.5 é "certamente preocupante" e sugere "uma vantagem de crescimento bastante dramática e suficiente para gerar uma nova onda de infecções".
Em outubro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou que a XBB, da qual a nova versão descende diretamente, não causa doença mais severa, embora apresente um risco mais elevado de reinfecções que todas as anteriores. Segundo Shan-Lu Liu, professor de virologia da Universidade Estadual de Ohio, nos EUA, a XBB tem uma "resistência extraordinária" aos anticorpos neutralizantes produzidos tanto por vacinação quanto por infecções anteriores.
Um estudo do periódico New England Journal of Medicine mostra que pessoas vacinadas com a nova geração de imunizantes, chamados de bivalentes por contarem com uma parte da ômicron em sua formulação, apresentaram uma melhor resposta imunológica à XBB – ainda que a versão da variante utilizada na dose seja da BA5.
“Por enquanto, temos observado que a proteção clínica continua adequada com as vacinas atuais, com menos casos severos mesmo com essa variante XBB envolvida. No contexto atual, não só para ela, como para a BQ.1, é importante que tenhamos o advento das vacinas bivalentes, que contam com uma parte mais similar a essas novas versões do vírus”, diz Fernando Spilki, virologista da Universidade Feevale, no Rio Grande do Sul.
A preocupação com a XBB.1.5 vem, principalmente, do crescimento de casos nos EUA e no Reino Unido, mas outros países também já detectaram a subvariante — caso da França, Alemanha, Holanda, Espanha, Irlanda, Austrália, Cingapura e Índia.
Enquanto Estados Unidos e Inglaterra lidam com o aumento de casos associados à XBB.1.5, a explosão de novas infecções na China após o cancelamento da política de "zero covid" levanta a preocupação do surgimento de novas variantes. Não se sabe ao certo a situação epidemiológica no país asiático — os testes obrigatórios encerraram no mês passado, impossibilitando rastrear a escala do surto.
Oficialmente, desde 7 de dezembro, houve 15 óbitos, mas há desconfiança de que o número seja subestimado, pois hospitais e crematórios, especialmente nas áreas rurais, registram um aumento de pacientes e cadáveres, segundo a agência France-Presse de notícias
Com informações de agências
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta