Após dois anos, o Sambão do Povo será recoberto pela alegria a partir desta quinta-feira (7) com o início do Carnaval de Vitória. Até sábado (9), 19 escolas vão desfilar na avenida, distribuídas em três grupos - especial, A e B - e cada qual prometendo um espetáculo para o público.
Os portões serão abertos às 20 horas e a primeira agremiação a desfilar será a Unidos de Barreiros, às 22h. Com o enredo “Nzinga, Guerreiras, Rainhas, Negras", a escola da comunidade de São Cristóvão, em Vitória, resgata a história da mulher que foi rainha de Angola, na África, e resistência contra a colonização portuguesa. A partir dela, a agremiação viaja por grandes civilizações até chegar ao Brasil e exaltar personalidades negras, como a cantora Elza Soares e a atriz Ruth de Souza.
Na sequência, vai se apresentar a Independente de Eucalipto, da região da Grande Maruípe, também na Capital. A escola de quase 40 anos ficou um longo período afastada dos desfiles e, agora em 2022, volta com o enredo "Pássaro de Fogo", lenda indígena de um amor proibido. A agremiação vai retratar a riqueza cultural e histórica do Espírito Santo, sem deixar de apostar no sentimento que move a humanidade.
Depois, a festa será com a União Jovem de Itacibá, agremiação de Cariacica que vai apresentar um enredo que, em resumo, é uma "Ode sublime às forças da natureza, à cultura e à vida." Usando obras clássicas do repertório nacional, a escola vai cantar elementos das quatro estações do ano, valorizando aspectos lúdicos e líricos de poetas.
Também vai para a avenida, já na madrugada, a Mocidade Serrana, agremiação fundada em José de Anchieta, mas que reúne foliões de vários outros bairros da Serra. Com o enredo "Favela, berço do samba e da Imperatriz", a escola se propõe a valorizar a cultura dessas comunidades e a refletir sobre o preconceito contra a sua população.
A Tradição Serrana será a última a entrar na avenida. A escola de Feu Rosa, também na Serra, vai apresentar o enredo "A mágica do saber, a Tradição conta pra você", com elementos da fantasia e da literatura infantil.
Uma grande expectativa gira entre as sete agremiações que vão desfilar no "grupo A" a partir das 22 horas desta sexta-feira (8). Muitas já fizeram parte da elite do Carnaval de Vitória, e querem voltar para lá, e mesmo quem está dando os primeiros passos no Sambão espera fazer um grande desfile para garantir o título e, assim, entrar em um novo patamar na disputa da folia.
A abertura ficará por conta da Independentes de São Torquato, escola de Vila Velha que desceu para o grupo de acesso, após o desfile de 2020, e quer voltar para o especial. Com o enredo "Atlântida: Lendas ou mistérios. Será?", a agremiação propõe voar nas asas da imaginação, uma vez que, de todas as lendas sobre civilizações perdidas, esta parece ser a que mais desperta curiosidade. E é sobre esse universo que a vermelho e branco vai cantar no Sambão.
O diretor Jonas Schinneider conta que a escola está praticamente toda pronta; os carros alegóricos já serão levados para a avenida nesta quinta-feira. Sem poder revelar muitos detalhes, ele diz que uma das alegorias terá uma tartaruga gigante, de cerca de 7 metros. "Além disso, nosso samba vai levantar a avenida", assegura.
A Chega Mais vem logo depois, com um enredo que já é de domínio público "Eu quero botar meu bloco na rua". Escola que reúne as comunidades do Quadro, Cabral e Santa Tereza, em Vitória, usa como referência a música do capixaba Sérgio Sampaio, que em 2022 celebra 50 anos de seu lançamento, e aproveita para retratar o carnaval no país, do samba ao frevo, passando pela marchinha e todas as outras referências nacionais da folia.
Já virando a madrugada, Chegou o que Faltava vai ditar o ritmo do Sambão. A escola da comunidade de Goiabeiras, também em Vitória, traz o enredo "Chegou a realeza dos campos dourados que alimentam a história. Sustento de vida" para falar do milho, alimento de relevância econômica e social.
Rafael Cavalieri, presidente da agremiação, afirma que os carros alegóricos também já serão levados nesta quinta para o Sambão e ressalta que a escola vai apresentar um carnaval muito bonito.
"Estamos muito esperançosos, animados. O crescimento da escola nos últimos anos é motivo de orgulho. Mas este é um momento de superação para todos. Passamos dois anos fazendo projetos sociais, envolvendo a comunidade e, graças a Deus, à vacinação e aos profissionais de saúde, teremos esta retomada. No desfile, vamos comemorar a vida. Vai ser lindo!", ressalta o presidente, acrescentando que seis ônibus lotados com moradores de Goiabeiras vão ser levados pra avenida.
Um dos destaques na apresentação da escola será uma sanfona para embalar o samba com uma pegada de forró. O instrumento, segundo Cavalieri, será pela primeira vez usado em um desfile no Sambão. Além disso, o promotor de eventos David Brazil será muso da agremiação. "O público pode ter certeza que vamos fazer um desfile maravilhoso, respeitando as coirmãs, mas abalando o Sambão. Vamos chegar com tudo para disputar o título e ir para o grupo especial."
Na sequência, a Mocidade da Praia vai apresentar "Solis: o alvorecer da humanidade", um enredo cuja proposta é falar do sol e, mais que isso, fazer um paralelo com a vida cotidiana, pois a cada amanhecer as pessoas podem reescrever os capítulos da própria história. O tema, na avaliação do presidente Luciano de Paula, é bastante contemporâneo.
O dirigente assegura que a escola da região da Praia do Canto, em Vitória, vai levar muitas surpresas para a avenida, começando pela comissão de frente que, segundo ele, terá uma coreografia para chamar bastante a atenção.
"A Mocidade é uma escola de gente feliz que conta com o apoio do Sambão. Esperamos surpreender de forma positiva todos que vão prestigiar o Carnaval de Vitória", destaca Luciano.
Tradicional nos desfiles do Sambão, a Rosas de Ouro, de Serra Dourada III, na Serra, vai apresentar o enredo "Gênesis - momentos da criação". A bíblia será o fio condutor dessa história, tratando ainda da evolução da humanidade e da civilização.
"Abayomi" é o enredo da Pega no Samba, escola da comunidade de Consolação, em Vitória, que está na disputa para voltar ao grupo especial. O nome é uma referência a uma boneca, que surgiu do movimento negro no Rio de Janeiro na década de 1980, e carrega a perspectiva da criadora, uma mulher preta, fazendo uma analogia às suas raízes.
Lorena De Bona, diretora de carnaval da agremiação, diz que a segunda alegoria vai levar para a avenida a maior surpresa, com uma homenagem a dois artistas capixabas. "Com muita dificuldade, mas com muita garra e alegria, vamos voltar com a maior manifestação cultural do mundo. A locomotiva da Consolação vai contar uma linda história na avenida. Somos resistência, o carnaval resiste!"
Para finalizar o desfile que começa na sexta, mas termina já na manhã de sábado (9), a Império de Fátima vai cantar "Uma índia, um negro, diferentes crenças, costumes e rituais: um conto tupi yorubá." A narrativa apresenta um conto de amor entre um quilombola e uma indígena.
Originada no Bairro de Fátima, a escola é a mais jovem a desfilar. Foi fundada há menos de 10 anos, em março de 2013, e já no primeiro desfile competitivo no Sambão, em 2018, foi a campeã do grupo B e pôde subir um degrau no rol de escolas que disputam o Carnaval de Vitória. Em 2019 teve problemas técnicos e desceu, mas no ano seguinte ficou em primeiro lugar novamente e ganhou o direito de voltar ao grupo A, onde agora disputa a chance de subir para o especial.
Hélder Ludovico, fundador e um dos diretores da Império de Fátima, conta que, devido ao longo translado da Serra até o Sambão com os carros alegóricos, os últimos retoques são feitos antes de a escola entrar na avenida. Mas ele garante que as alegorias estão muito bonitas e vão surpreender, inclusive por suas dimensões que, segundo afirma, estão próximas do que costuma ser apresentado pelas agremiações do grupo especial.
Para as alas de chão, as fantasias coloridas e com bastante adereço também se destacam, afirma Hélder, mais conhecido como Gugu na comunidade carnavalesca. "Estamos com muita expectativa de levar nossa alegria, da comunidade e de todos os munícipes da Serra. Mostrar nosso trabalho e a cultura popular brasileira que é o samba", finaliza.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta