Roseane do Carmo, conhecida como Sargento Do Carmo, decidiu seguir a carreira policial depois de um gesto especial de um policial militar, quando ainda era uma criança. Ela, que foi morar com a mãe e os irmãos em Itacibá, Cariacica, fugindo de uma situação de violência doméstica, viu o barraco em que moravam ser alvo de uma ação de reintegração de posse. Naquele momento, em 1992, foi tocada pela solidariedade de um policial da PM que tentou ajudar naquela situação difícil que a família dela enfrentava.
Em reportagem conduzida por Poliana Alvarenga, para a TV Gazeta, a sargento conta que o policial a viu chorando e tentou ajudar como podia. "Quando começaram a derrubar os barracos de madeira, eu comecei a chorar copiosamente. Um policial veio até a mim, perguntou porque eu estava chorando e se podia ajudar em alguma coisa. Eu falei para ele que a gente só tinha aquele barraco. Ele foi lá, pediu autorização de alguém, retornou e disse que podíamos tirar (o barraco). Enquanto estávamos retirando, ele voltou com pão e leite e nos deu. Aquilo me marcou bastante. A partir daquele dia era isso que eu queria fazer, ser policial militar e contribuir com a sociedade", contou.
A história do despejo chegou a ser capa de A Gazeta, em uma edição de dezembro de 1992, quando um total de 35 famílias foi obrigado a deixar o local onde morava. Uma imobiliária que era dona do terreno conseguiu uma liminar para retirar as famílias que diziam estar ali com autorização da prefeitura. Diante de tudo o que passou, a sargento contou que não foi fácil realizar o sonho de se tornar policial. "Eu tive que me dedicar muito mais", revelou.
A mãe da agente, de quem ela tanto se orgulha, foi quem colocou a divisa de sargento na farda de Rosane no dia da nomeação oficial para o cargo na PM. "Naquele dia eu percebi que não tinha outra profissão que eu poderia seguir, percebi que nasci para ser policial militar. Ver minha mãe ali, observando o que eu estava falando, sabendo que eu consegui, que ela conseguiu, é uma conquista mais dela do que minha. É a conquista de uma mulher guerreira, doméstica, que trabalhou em cerâmica, em lavoura de café, para sustentar quatro filhos", narrou.
Roseane também tem história no extinto Grupo de Apoio Operacional da PM (GAO), hoje Força Tática, tendo sido a primeira mulher a integrá-lo. A trajetória dela orgulha quem a acompanha de perto e já serve de inspiração para a filha Helena, de apenas 4 anos, que já se encanta com a farda.
Depois de quase 30 anos, Do Carmo esteve pela primeira vez no local onde o sonho de ser policial nasceu, para reviver a história repleta de vitórias. Chegando lá ela revelou um desejo: ela ainda quer conhecer o policial que foi solidário a ela e à família, enquanto cumpria a dura missão de tirar deles e de tantas outras pessoas o pouco que tinham.
A policial diz que gostaria de ter a oportunidade de agradecer, porque gratidão é o que ficou para ela sobre o gesto que está na lembrança. "É só o que eu queria, queria dar um abraço nele, agradecer, levar na minha casa para tomar um café, conhecer minha filha, meu esposo, para ele ter ideia do que fez. Hoje eu posso dar para minha filha o que eu não tive. Eu diria muito obrigada por ter sido essa pessoa essencial. Ele não mudou a vida da Do Carmo, ele mudou a vida da família da Do Carmo. Ele talvez não tenha ideia do que ele tenha feito, mas fez um bem tão grande, tirou mais alguém da marginalidade, conseguiu mostrar que tinha condições sim de seguir uma carreira nobre, de ser trabalhador, honesto, ter integridade. Eu sou só gratidão".
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