Nem precisar esperar dar 8 horas da manhã para ouvir a sargento Mariane Guarnier, de 31 anos, dando ordens aos alunos-soldados no Centro de Ensino e Instrução do Corpo de Bombeiros Militar do Espírito Santo, na Serra. É dela a voz de comando que ensina disciplina e hierarquia para os 186 futuros bombeiros.
"Trabalhamos com a parte da doutrinação, ensinar e mostrar que há uma ruptura do mundo civil para o militar. O aluno chega cheio de vícios, mas aqui só temos os pilares da hierarquia e disciplina. Isso é um choque para quem está chegando. Aqui é seguir o que é determinado. Eu tenho contato direito com os alunos e me encontrei nesta função", descreve Guarnier, que longe do posto de comando tem prosa calma e baixa.
Há 12 anos no Corpo de Bombeiros, a sargento é a primeira mulher a integrar o grupo de coordenadores do Centro de Ensino e Instrução. Nesse tempo, ela já viveu muitas ocorrências marcantes, como fazer um parto no meio da rua e até retirar quatro ocupantes de um carro envolvido em um acidente grave.
"As maiores felicidades que tenho como bombeira, certamente, são as oportunidades que temos de ajudar alguém. Mas também enfrentamos dificuldades, como o machismo, de pensarem que somos menos capazes e que podemos menos, até mesmo na posição de chefia. Mas hoje em dia há uma aceitação muito maior", conta.
Ela relata situações em que as bombeiras são vistas como "menos 1" em equipes. "Temos que mostrar a todo momento que viemos para somar, que temos as mesmas capacidades. No curso de formação, na semana zero, os alunos homens vendo uma mulher do meu tamanho, na frente da tropa, já fazem uma cara de não muito agrado. É quando tenho uma postura mais forte. Também acabo sendo 'psicóloga', pois eles me procuram para conversar sobre problemas, acredito que talvez pela figura materna que vem atrelada ao feminino", ressalta.
Aos 18 anos, quando fez a prova para integrar a instituição militar, Mariane não sabia bem o que a esperava, já que a escolha da profissão foi feita pela mãe dela, Cleo Guarnier.
"Minha mãe foi quem me inscreveu no concurso, somente entrei. Porém, vi que a profissão me escolheu e me abraçou. E hoje é o que eu vivo 24 horas. A profissão é minha vida", afirma.
Mais que escolher a profissão da filha, Cleo é o exemplo de força e coragem feminina da sargento. "Ela é minha base e é quem me colocou aqui. Ela praticamente formou junto comigo. Era ela quem ia comigo aguardar a condução para ir ao curso, me ajudava a preparar meu material quando o cansaço tomava conta. É o exemplo de dedicação, força e determinação que me norteia", descreve a militar, emocionada.
A bombeira foi a primeira mulher a se formar no curso de especialização em prevenção e combate a incêndios florestais, o que representa uma quebra de paradigmas. "Mais mulheres se inscrevem neste curso depois de mim e três formaram", observa.
Por todo esse orgulho que tem no peito e por saber que ainda há olhares de desconfiança pelo fato de ser mulher, a sargento espera que mais mulheres entrem na corporação. "Eu tento mostrar para as militares, para as alunas, que assim como eu estou na frente do pelotão de alunos, elas também podem estar. Eu procuro ser uma referência para elas. O recado que eu tenho é: venham!. Nós, mulheres, podemos ser quem quisermos e onde quisermos", enfatiza.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta