A pandemia causada pela Covid-19 trouxe mudanças, em maior ou menor medida, na vida de toda a sociedade, que aos poucos começa a retomada da vida social e dos reencontros com pessoas queridas. Mas, para milhares de pessoas, as marcas dessas transformações impostas há quase dois anos serão ainda mais difíceis de curar. São familiares e amigos dos 12.922 mortos pela doença no Espírito Santo, que relatam a dor e a saudade por tantas perdas, sentidas ainda mais nesse 2 de novembro, Dia de Finados.
É o caso da Débora Pereira dos Santos, de 45 anos, que sente a dor pela morte da mãe Almiracy Pereira, de 64 anos. Ela relembra, com saudade, que a mãe era uma mulher alegre, gostava de viajar e de reunir a família em volta da churrasqueira e da piscina, preparadas especialmente na casa para receber seus três filhos e seis netos, sempre em clima de festa e muito amor.
Mas a dor da família não para por aí, pois eles sentem ainda a morte do primo, Cristiano Vilaça, de 41 anos, que morreu devido às complicações pela Covid-19 apenas quinze dias antes da morte de Almiracy, em 21 de março. Ele era caminhoneiro, casado e pai amoroso de dois filhos, deixando ainda só saudades para a pequena netinha Kiara, de dois anos. Foram duas perdas seguidas para a família, que vai passar o primeiro Dia de Finados após as mortes de Almiracy e Cristiano.
Outra família transformada para sempre pela pandemia é a da Valéria Lima de Araújo, que perdeu o marido no dia 28 de junho do ano passado. O mecânico industrial Luiz Moreira, 62 anos, deixou nove filhos, sendo seis do primeiro casamento e três com Valéria: o jovem Vanderson, de 25 anos, e os gêmeos Lorenzo e Evellyn, de 13 anos.
Os gêmeos tiveram atendimento de psicólogos, que os ajudaram a terem forças para lidar com a morte repentina e prematura do pai, além de buscarem amparo na religião. Hoje os dois têm menos medo de saírem de casa, algo que não faziam antes.
“Evitávamos ver notícias sobre mortes de Covid, para não lembrarmos da própria perda que tivemos. Mas tudo lembrava ao Luiz, que montou toda a casa, cada tijolo. Ele era uma pessoa maravilhosa, que só deixou boas lembranças. Sempre pensamos em como Luiz gostaria que ficássemos bem, é o que nos dá força”, diz Valéria, que vai com os gêmeos visitar o túmulo do marido nesta terça.
Além da saudade, Valéria tem ainda a sensação de que o marido foi antes da hora. “Tinha muito ainda o que viver. Teve a vida interrompida por esta doença”, lamenta.
Para o secretário estadual da Saúde, Nésio Fernandes, é também lamentável o número de mortos em decorrência da Covid-19 no Espírito Santo, mas destacou que a doença jamais foi subestimada ou tratada como algo menor por ele e sua equipe, e que sempre prevaleceu o temor de que famílias perdessem seus entes queridos.
“No período antes da vacina, montamos uma estratégia de distanciamento para mitigar o alastramento da doença. Infelizmente não conseguimos envolver todas as camadas da sociedade, mas conseguimos reduzir e muito os impactos, pois poderíamos ter chegado a 25 a 30 mil mortos. Nada, no entanto, vai tirar a dor e o abalo dos familiares das 12.922 pessoas que morreram. Essas perdas não podem ser naturalizadas”, ressaltou Nésio.
Ele frisou ainda que garantir a imunização beneficia a coletividade. “Às pessoas que não se beneficiaram da vacina ou não ficaram protegidas suficientemente a ponto de evoluírem a óbito, nossa homenagem é que possamos nos vacinar e tomar as medidas necessárias de cuidados na pandemia."
Durante a entrevista, Nésio Fernandes se emocionou ao lembrar dos momentos mais difíceis da pandemia. “Lembro e fico consternado quando chegamos a perder até 80 pessoas por dia. É triste, como seres humanos, como profissionais da saúde que somos, em especial neste Dia de Finados, quando lembramos das almas dessas pessoas. Que seja também um momento para refletirmos e lembrarmos que, mesmo com a retomada, em memória de todos eles, possamos aprender e não cometer os mesmos erros no futuro", finalizou o secretário.
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