O bloqueio total de atividades devido à pandemia do novo coronavírus, como já vem ocorrendo em outros Estados, não está distante da realidade do Espírito Santo. O secretário estadual da Saúde, Nésio Fernandes, não descarta que o lockdown - expressão em inglês que designa confinamento - seja implementado nas próximas semanas. Um dos fatores é a baixa adesão da população ao isolamento social, pressionando a rede assistencial pública e privada.
Nésio Fernandes aponta que taxa de isolamento abaixo de 44%, somada ao aumento de casos e mortes no Espírito Santo, pode levar ao estrangulamento do sistema de saúde e, assim, somente o bloqueio total de atividades seria capaz de conter a disseminação da Covid-19. Ao longo desta semana, o indicador ficou na casa dos 46%.
"O lockdown é uma medida extrema que considera o esgotamento do serviço de saúde, de não suportar o aumento de casos de Covid e outras doenças. As pessoas podem morrer, não só pela Covid, mas por terem um trauma, um infarto e não conseguirem acesso, já que o paciente suspeito com o coronavírus desorganiza o sistema, os leitos precisam ser bloqueados para isolamento", pontua.
O secretário reforça que o aumento no número de óbitos é também um indicativo para a medida. "Se crescer de maneira rápida, pode levar à decisão do lockdown. Pode ser, de fato, uma decisão para as próximas semanas no Espírito Santo. Trabalhamos com todas as energias para que não ocorra, o que vai determinar é o grau de disciplina do povo para se distanciar, é a cidadania e não os decretos do governo. É a consciência das pessoas, mais do que em qualquer outro momento, para ficar em casa."
Questionado se a restrição seria voltada à região metropolitana, Nésio Fernandes diz que, em geral, o bloqueio é implementado nos locais em que os indicadores são mais desfavoráveis, adotada somente nos territórios onde há colapso no controle da doença. "É uma decisão muito radical, desenhada para territórios específicos. Se houver necessidade, será preciso parar o transporte coletivo, parar toda atividade de comércio e serviço que hoje está liberada, para maior controle de circulação. Esperamos não ter que tomá-la", destaca.
Além do distanciamento social, o subsecretário de Vigilância em Saúde, Luiz Carlos Reblin, também observa que a taxa de ocupação dos leitos de UTI superior a 80% é um componente determinante para o bloqueio total. No Espírito Santo, o dado mais recente indica 64,62% e, na Grande Vitória, onde a demanda é maior, 71,23%.
A possibilidade de implementar o bloqueio total também é apontada pela professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Ethel Maciel. Pós-doutora em Epidemiologia, ela faz parte da equipe da instituição que oferece assessoria técnica ao governo e observa que o descumprimento das orientações para o distanciamento social compromete o trabalho que vem sendo realizado e pode ter consequências que vão afetar toda a população.
Tanto porque, se for mantido contato em um momento que o nível de transmissão da Covid-19 está bastante acelerado, mais pessoas vão ser contaminadas, internadas e morrer, quanto pelo fato de que, com o bloqueio total de circulação, até atividades que hoje estão liberadas serão obrigadas a fechar.
"O lockdown é um mecanismo de repressão do Estado. Então, é melhor que as pessoas que não estão em serviços essenciais contribuam, voluntariamente, ficando em casa. É melhor do que haver medidas compulsórias, mais extremas e mais tristes porque vão representar um cenário em que estaremos perdendo muito mais vidas", frisa.
Ethel Maciel avalia que parte da população ainda precisa se sensibilizar com o momento atual, deixando de realizar atividades que podem ser evitadas temporariamente, como passear no calçadão ou frequentar ambientes invariavelmente cheios, como é o caso de igrejas que ainda se mantêm abertas. "Essa pandemia tem nos ensinado a pensar coletivamente.O fato de diminuir a circulação, se não é uma atividade essencial, significa salvar vidas", valoriza.
Muitos países precisaram adotar o lockdown para controlar a disseminação da Covid-19. No Brasil, alguns Estados também já passaram a implementar a medida e outros analisam a possibilidade. Além da suspensão de várias atividades, as pessoas são controladas por agentes de segurança e têm que comprovar que a saída é justificada, por exemplo, por motivo de saúde ou trabalho essencial.
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