Um gigante de água doce que se encontra com o mar e promove um espetáculo da natureza. A beleza da Foz do Rio Doce, em Linhares, impressiona quem vê de longe, mas pessoas que vivem na região estão tomadas pela preocupação. No dia 5 de novembro de 2015, o rompimento da barragem de Fundão, da Samarco, no município de Mariana, em Minas Gerais, matou 19 pessoas e despejou 40 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério no Rio Doce. Seis anos depois, o maior desastre ambiental na história do país ainda causa impactos na vida do rio e da área costeira.
A lama chegou a Regência, em Linhares, no dia 20 de novembro. O lugar cresceu tendo o mar e o rio como principais fontes de renda dos moradores e atração para os turistas — realidade que está apenas na memória de quem vive na vila. “Seis anos sem poder fazer o que eu fiz a vida toda. Ficamos esperando que um dia voltará a ser liberado pescar no rio, para poder ganhar nosso dinheirinho”, relata o pescador e morador de Regência Ademar Sampaio, em entrevista ao repórter Eduardo Dias, da TV Gazeta Norte.
Os barcos parados são reflexo da contaminação das águas por metais que vieram com a lama. O presidente da Associação de Pescadores, Leone Carlos, por mais de 30 anos sustentou a família com nove filhos por meio da pesca. Sua embarcação, de nome "Atlântida'', está abandonada desde 2015, quando a lama chegou e a pesca na região foi proibida por tempo indeterminado.
“Vai fazer seis anos que eu não posso ir ao rio e pegar um peixe, meu (barco) ‘Atlântida’, que alimentou os meus filhos, hoje está abandonado. Minha tristeza é ver os barcos todos abandonados, e os companheiros, que pescavam comigo, precisaram arranjar outros empregos para se manterem", conta.
O pesquisador e professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Ângelo Bernardino, afirma que mesmo depois de todos esses anos, a água e os peixes do rio ainda estão contaminados por metais pesados.
“Nossos estudos mostram que a Foz do Rio Doce continua contaminada. O rejeito chegou carregado, principalmente de ferro, e com outros metais, como chumbo. E eles têm se modificado quimicamente e vão sendo liberados pela água, contaminando assim os peixes e assim os humanos que consomem essa carne”, explica Ângelo.
Os moradores afetados pela lama recebem um auxílio financeiro da Fundação Renova, entidade criada para reparar os danos causados pelo rompimento da barragem. Há quatro anos, a entidade também faz o monitoramento da qualidade da água em 92 pontos do Rio Doce, entre os Estados de Minas Gerais e Espírito Santo.
“Toda essa base de dados já demonstra uma recuperação do Rio Doce frente ao que aconteceu com o rompimento da barragem de Fundão. Os níveis de qualidade da água estão em uma condição muito similar ao que era antes do rompimento, e ela está em condições de ser tratada e consumida pela população”, afirma a coordenadora do Programa Socioambiental da Fundação Renova, Brígida Maioli.
Além do auxílio financeiro para os moradores, a fundação informou que também auxilia financeiramente os municípios atingidos, para ações voltadas ao tratamento da água.
“A Renova tem um programa compensatório que vai disponibilizar R$ 600 milhões para os 39 municípios impactados, para ações voltadas ao saneamento, tratamento de esgoto e resíduos urbanos. Nós já concluímos ações em 3 municípios, e os outros estão com obras em andamento, como é o caso de Linhares”, explica.
Para o pesquisador da Ufes, as ações de monitoramento são importantes, mas pouco se tem feito para corrigir o problema que foi gerado pelo impacto, e esperar a natureza se recuperar sozinha pode levar décadas. Mas existem soluções possíveis, segundo o pesquisador.
“Existem várias ações possíveis. Como, por exemplo, usar plantas macrófitas aquáticas para remover esses metais, ou a dragagem, que é a remoção direta dos rejeitos, que estão sendo feitas na bacia de Minas Gerais. Mas nenhuma solução efetiva foi adotada no Estado”, afirma
Em meio a tantos problemas que não foram resolvidos, tem um ar de otimismo voltando para a vila. A praia de Regência voltou a ser para os banhistas, e o turismo gerado pelo surfe ganhou força na região. O dono de pousada, Célio Ferreira Fernandes, passou muito tempo no sufoco, mas já está mais confiante de que a economia voltará a ser movimentada no local.
“No início, foi uma sensação de medo e incerteza, porque não sabíamos o que vinha no futuro. Agora a vila está voltando. O surfe fomenta muito a economia daqui, e o pessoal está vindo, as pousadas estão enchendo, e com isso, a esperança de dias melhores”, relata.
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