Além da área da saúde, a economia também sofreu o baque provocado pela pandemia do novo coronavírus. Com vagas de emprego e estágio sendo fechadas e o orçamento doméstico mais apertado, universitários de faculdades da rede privada estão sendo obrigados a trancar o curso superior e adiar o sonho de colocar as mãos no diploma.
Foi exatamente o que aconteceu com Dâmares Sousa, 21 anos, moradora da Serra, que teve de trancar a faculdade de Letras-Português no último período. O motivo? Ela foi dispensada do estágio que fazia em uma escola particular, pois o colégio teve que fechar as portas após decreto estadual proibir aulas presenciais devido à pandemia.
"Com a bolsa do estágio, eu pagava as mensalidades da faculdade. Mas as aulas foram suspensas no colégio. Foi um baque pra mim, pois fiquei sem renda. Meu marido ainda estava no período de experiência do novo trabalho, não tinha como sustentar a casa e ainda minhas mensalidades", detalhou Dâmares.
No Brasil, 34 % dos estudantes da rede particular de ensino superior trancaram o curso, segundo o presidente do Sindicato das Empresas Particulares de Ensino do Espírito Santo (Sinepe-ES), Geraldo Diório. No Espírito Santo, a quantidade de alunos que deixaram o curso na rede privada deve ser medida em agosto, quando acaba o período de renovação de matrículas.
"Cerca de 70% dos alunos do ensino superior são os próprios responsáveis por pagar as mensalidades do curso em que estão matriculados, ou seja, são o próprio contratante . Por isso as faculdades estão abertas a diálogos, buscam entender a situação do momento e do aluno e negociar o que é possível", explicou Diório.
Dâmares conta que a própria faculdade chegou a entrar em contato com ela, oferecendo diversas formas de pagamento. "Mas eu não podia assumir uma dívida, pois não sei quando voltarei a trabalhar devido à pandemia, e eu não tenho condições nem de pagar o que me ofereciam de desconto", lamentou a moça que pretende ser professora.
O presidente do Sinepe-ES disse que as questões financeiras têm sido o maior problema no que se refere à relação entre faculdade da rede privada e alunos, já que os estudantes do ensino superior conseguem acompanhar o ensino on-line.
Lucas Caraccioly, 18 anos, trancou a faculdade de Ciências Contábeis que cursava em rede particular. "Estava no primeiro período, animado com tudo, mas, com a pandemia, meu pai foi dispensado pela transportadora em que trabalhava e ficou sem condições de pagar a minha faculdade", contou.
Trancar o curso, porém, acabou abrindo horizontes para Lucas. "Sempre gostei muito de cozinhar, então nesse período de pandemia, eu e meu irmão, que teve o estágio interrompido, tivemos a ideia vender carnes nobres congeladas para completar a renda de casa. Tem dado certo e talvez em 2021 eu escolha outro curso superior para alavancar esse negócio", disse o rapaz.
Já Dâmares, que estava quase formando em Letras-Português, espera conseguir terminar o curso e ampliar o conhecimento. "Acredito que no pós-pandemia haverá um avanço nas possibilidades de ensino. A tecnologia será usada em prol da educação com maior aplicabilidade. Por isso mesmo, não desisti da minha faculdade, estou só adiando planos", diz.
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