> >
Sem quebra-molas, tatuador pinta faixa de pedestre 3D em rua de Vila Velha

Sem quebra-molas, tatuador pinta faixa de pedestre 3D em rua de Vila Velha

Reivindicando há anos um redutor de velocidade na Rua Rio de Janeiro, no bairro Jockey, o tatuador Edinho Santana resolveu agir por conta própria. Prefeitura alerta ser proibido esse tipo de intervenção sem prévia consulta à administração municipal

Publicado em 25 de maio de 2021 às 15:33

Ícone - Tempo de Leitura min de leitura
Vila Velha
O tatuador Edinho Santana pintou uma faixa de trânsito ultrarrealista na rua onde mora, em Vila Velha. (Edinho Santana/Arquivo pessoal)

Em 33 anos trabalhando como tatuador, Edinho Santana, de 49 anos, especializou-se em tatuagens realistas e coleciona artes feitas na pele das pessoas. No último domingo (23), entretanto, o artista viveu uma experiência única: "tatuar no asfalto". Utilizando a técnica que aprendeu na profissão, ele pintou uma faixa de pedestre ultrarrealista – com efeito 3D – na Rua Rio de Janeiro, no bairro Jockey de Itaparica, em Vila Velha.

Quem vê a faixa de pedestre 3D pintada pelo tatuador tem a impressão de que as faixas na cor branca estão suspensas sobre o asfalto. O local escolhido fica justamente em frente à residência de Edinho e de sua família. Nas redes sociais, as fotos e vídeos impressionam quem se depara com a sinalização de trânsito inusitada.

INSPIRAÇÃO INDIANA

A pintura em 3D não foi por acaso. Inspirado no que o governo da Índia fez, autorizando desde 2016 a confecção de faixas do tipo, ele decidiu adaptar à realidade na cidade canela-verde. Com a ajuda do cunhado, ele resolveu fazer a marcação suspensa na própria rua.

"A Índia é um país que tem um trânsito caótico e li em uma reportagem que por lá os governantes permitiram que estas faixas pudessem ser feitas para ajudar trazer mais segurança. Com aqui na rua não tem quebra-molas e há anos não somos contemplados, decidi fazer uma por conta própria para causar um efeito visual nos motoristas. Há muitas crianças e idosos, e os carros passam em alta velocidade", detalhou.

Como a própria imagem sugere, a visualização da faixa suspensa provoca a sensação de que é um obstáculo, e segundo o tatuador, apenas bem próximo dela o efeito é normalizado. Desta forma, o condutor vai diminuir a velocidade no local para não "bater" contra a faixa ultrarrealista.

"Ele vai passar normal sobre ela e nada vai acontecer, mas antes vai estranhar a faixa diferente (risos). Só fizemos isso porque há muito tempo nós pedimos algum redutor de velocidade no local. Como nossa pracinha está abandonada, as crianças brincam na rua. Aí vem um carro rápido e causa um acidente, não queremos isso aqui", contou Edinho, que é vice-presidente da Associação de Moradores, mas arcou com a intervenção após os vizinhos concordarem.

NADA FEITO

Segundo o tatuador, há mais de um ano uma equipe da gestão anterior da Prefeitura de Vila Velha foi até a Rua Rio de Janeiro e realizou algumas medições, mas comunicou que a lombada não seria feita porque mais à frente, na mesma rua, já existia um redutor de velocidade. Diante do impasse e preocupado com a segurança dos próprios filhos – Joaquim de 3 anos e Tunico, de 8 – o tatuador resolveu agir.

O QUE DIZ A PREFEITURA

Procurada pela reportagem de A Gazeta, a Prefeitura de Vila Velha informou, em nota, que a engenharia de trânsito já foi acionada sobre o fato e salienta ser proibido esse tipo de intervenção sem prévia consulta à prefeitura. O cidadão será orientado sobre esta proibição.

A administração respondeu ainda que para a instalação de quebra-molas, o cidadão deve protocolar o pedido via Ouvidoria, e assim terá um protocolo para acompanhamento da solicitação. Todo pedido de sinalização ou implantação de uma lombada passa por uma avaliação técnica da engenharia de trânsito, que verifica se corresponde com as regras do Código de Trânsito Brasileiro e resoluções do Conselho Nacional de Trânsito (Contran).

PINTURA NÃO ATENDE AOS CRITÉRIOS TÉCNICOS, DIZ DETRAN-ES

Também procurado por A Gazeta, a assessoria do Departamento Estadual de Trânsito (Detran-ES) informou que o trânsito de Vila Velha é municipalizado – a cidade possui Guarda própria – e a competência pela fiscalização compete à administração pública.

"O Departamento Estadual de Trânsito do Espírito Santo informa que Vila Velha é integrado ao Sistema Nacional de Trânsito. Portanto, a sinalização das vias é de competência municipal. O órgão esclarece que a sinalização horizontal e vertical deve ser feita pelo órgão de trânsito competente e que o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), que, no artigo 72, dá a todo cidadão ou entidade civil o direito de solicitar, por escrito, aos órgãos ou entidades do Sistema Nacional de Trânsito, sinalização, fiscalização e implantação de equipamentos de segurança. O CTB também estabelece, no artigo 95, que nenhuma obra ou evento que possa perturbar ou interromper a livre circulação de veículos e pedestres, ou colocar em risco sua segurança, será iniciada sem permissão prévia do órgão ou entidade de trânsito com circunscrição sobre a via", diz o órgão em nota. 

Sobre a foto enviada pela reportagem, o Detran-ES informa que a pintura na via não atende aos critérios técnicos exigidos pelo Manual Brasileiro de Sinalização de Trânsito, onde estão estabelecidos os procedimentos de implantação da faixa de travessia de pedestres, e orienta que o cidadão não realize interferências na sinalização viária, já que a sinalização irregular pode dar causa a acidentes.

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais