A vontade de salvar a vida do próprio filho pode ser maior do que qualquer barreira, incluindo as linguística e cultural. Foi o que fez o Gabriel Kaxuyana Tiriyo, pai de Garnison, de 7 anos, ambos indígenas da aldeia Missão Nova, entre o Amapá e o Pará, no Norte do Brasil, que veio ao Espírito Santo para o pequeno fazer uma cirurgia cardíaca. O detalhe? Nenhum dos dois sabe falar uma palavra sequer em português.
Diagnosticado com insuficiência cardíaca, o menino enfrenta um quadro grave da doença, e precisava passar pelo procedimento o mais rápido possível. Gabriel e Garnison chegaram em terras capixabas no dia 12 de fevereiro, segunda-feira de Carnaval, e partiram para o Himaba (Hospital Estadual Infantil e Maternidade Alzir Bernardino Alves), em Vila Velha.
Segundo explicou o diretor-geral do hospital, Cláudio Amorim, o Estado foi o primeiro a responder a um pedido de ajuda da Secretaria de Saúde do Amapá. Ele afirmou ainda que, na região onde a criança morava, esse super-tratamento especializado não era ofertado.
"Era sábado de Carnaval; nós recebemos o prontuário dessa criança pelo Miguel Duarte, secretário de Estado, e fizemos a verificação desses dados. Uma vez verificado, demos o aceite para o Amapá, dizendo que era possível trazer essa criança para o Himaba, para que pudéssemos tratar dela", explicou.
Para realizar a cirurgia, Garnison precisou até arrancar alguns dentes com cárie, já que poderiam piorar o problema dele. O procedimento, comandado pelo cirurgião cardíaco Rafael Aon, ocorreu no dia 13 de fevereiro, e mobilizou uma equipe de profissionais por três horas e meia.
"Ele chegou para a gente cansado, com falta de ar. O Garnison deve ter tido uma infecção na garganta, e o organismo dele criou anticorpos contra essa bactéria. Além da infecção, esses anticorpos também atingiram algumas estruturas do corpo dele, e o coração foi uma delas", afirmou o médico.
> Os profissionais da saúde trocaram a válvula mitral (localizado na abertura entre o átrio esquerdo e o ventrículo esquerdo) do coração do Garnison;
> Essa válvula precisa abrir e fechar para o sangue ser bombeado para o coração. No caso do menino, ela só abria. Assim, o sangue voltava, sobrecarregando o órgão;
> Devido ao "coração grande" – ou seja, que apresenta inchaço –, não restam forças para bombear o sangue. Por isso, os médicos usaram uma válvula feita com a camada de fora do coração do boi.
De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), Garnison continua internado, mas tem previsão de alta nesta sexta-feira (29). "Agora, tem que continuar tomando antibióticos, pelo menos a cada 21 dias", recomendou o cirurgião cardíaco.
Com a ajuda de um tradutor, o pai de Garnison deu detalhes de como tudo aconteceu para a reportagem da TV Gazeta.
"Eu nunca tinha passado por uma situação dessas na vida. Do nada, meu filho apareceu doente. Eu fiquei desesperado. Foi muito difícil sair da minha aldeia. E vir para o Espírito Santo foi mais difícil ainda, porque ninguém fala na minha língua", disse Gabriel, na língua Tyryó.
Com informações de Vivia Lima, da TV Gazeta
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