A sensação de calor percebida pelas pessoas nem sempre condiz com o que indicam os termômetros e, em muitos casos, a percepção é de que está ainda mais quente do que a temperatura informada.
O índice de calor, ou a sensação térmica, é influenciado por uma série de fatores, e é percebido de forma diferente por pessoas diferentes.
O professor Ernani Vassoler Rodrigues, do Departamento de Física da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), explica que a temperatura é uma medida física feita por instrumentos em estações localizadas em áreas específicas.
Já a sensação térmica é influenciada por vários fatores, como umidade do ar e vento. “É uma estimativa de como as pessoas vão se sentir naquele local, naquelas condições de umidade relativa, ventos, incidência de radiação e outras variáveis.”
Assim, essa percepção de temperatura também varia. Meteorologista do Incaper, Ivaniel Fôro Maia pontua, entretanto, que, nos casos de temperaturas mais elevadas, é mais adequado chamar o cálculo médio de índice de calor, enquanto a sensação térmica é mais utilizada para falar da taxa de perda de calor.
“Nos dois casos, consideram a temperatura medida no termômetro, e outras variáveis: umidade relativa do ar e o vento, que acaba influenciando a umidade. O vento pode deixar a umidade relativa do ar por mais tempo, por exemplo, e acaba sendo uma variável que também interfere na sensação de calor”, explica Maia.
A umidade relativa mantém o calor “aprisionado” em determinado local por mais tempo. Assim, quanto maior a temperatura e o nível de umidade no ar, maior a sensação de calor. Por isso, os termômetros podem marcar 36ºC e a sensação beirar 40ºC, por exemplo. Quando a taxa de umidade no ar é menor, a sensação tende a ser mais parecida com a temperatura mostrada no termômetro.
Maia esclarece que o vento trabalha no transporte da umidade, e pode tanto aumentar quanto diminuir o índice de calor de um lugar.
“Vamos supor que a umidade em um determinado local em certo horário estava 80% e, depois que o vento passou, a umidade relativa passou a 50%. Nesse caso, a sensação de calor diminui. De outra forma, o vento também pode trazer mais umidade, deixando-a ali. Às vezes, o vento sopra do mar e vai desacelerando, deixando a umidade do mar naquele ponto e isso pode provocar um aumento na sensação de calor.”
O meteorologista observa que cidades litorâneas têm muita umidade, mas também recebem mais ventos que as regiões montanhosas, em que a circulação pode ser prejudicada.
Segundo ele, é um dos fatores pelos quais Cachoeiro de Itapemirim e as cidades no entorno costumam registrar sensações térmicas mais elevadas. Além do rio que corta as cidades, a barreira geográfica faz com que o vento circule com mais dificuldade do que ocorre em cidades litorâneas.
É por isso que, mesmo que os termômetros marquem a mesma temperatura em dois locais distintos, a sensação será diferente, visto que o contexto é diferente.
Quando há muita umidade no ar, a transpiração é prejudicada e cria-se a sensação de “corpo preguento”, que causa um desconforto térmico maior, conforme explica o professor Ernani Vassoler Rodrigues.
“O tempo inteiro nossa pele troca calor com o ambiente. Quando a gente fala de calor ou frio, o que a gente, na verdade, tem como fenômeno é se estou perdendo muito calor para o ambiente. Se é trocado com o ambiente de forma muito rápida, tenho a impressão que está mais frio. Da mesma forma, quando a gente se agasalha, não é para dar calor ao corpo, é para perder calor para o ambiente mais lentamente e isso nos dá uma sensação térmica quente. Se o termômetro marca 32º C, mas você passa muito tempo exposto ao sol, você vai ter a sensação de que está mais quente.”
O professor esclarece que, quando alguém transpira, o suor que deixa a pele rouba calor do corpo. É o que ocorre, por exemplo, quando uma pessoa faz atividade física e, por suar, a pele parece fria ao toque.
“Mas se estou em um local que tem a umidade do ar muito grande, transpiro menos e isso causa a sensação de que está mais quente. Ao mesmo tempo, se estiver ventando muito no lugar, o fluxo de ar também muda a sensação na nossa pele.”
O meteorologista Ivaniel Fôro Maia frisa que a percepção do calor varia de acordo com o metabolismo individual. “Pessoas que estão em um mesmo lugar podem ter sensações diferentes, uns tendem a suar mais, outros tendem a suar menos.”
Uma pessoa acima do peso, por exemplo, tende a sentir um desconforto maior porque o corpo trabalha mais para regular a temperatura. As roupas escolhidas também influenciam. Quem opta por cores mais claras nos dias quentes tende a absorver menos calor que uma pessoa que optou por roupas de tons mais escuros.
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