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Sesa avalia prorrogar contrato com OS que administra o São Lucas

Sesa avalia prorrogar contrato com OS que administra o São Lucas

Sem explicar o motivo, Secretaria da Saúde diz analisar renovação de contrato da Pró-Saúde, que enfrenta investigações; gestão terminaria no dia 18 de dezembro

Publicado em 23 de novembro de 2020 às 17:23

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Hospital Estadual de Urgência e Emergência, (São Lucas), em Vitória
Hospital Estadual de Urgência e Emergência (HEUE), antigo São Lucas. (Fernando Madeira)
Errata Atualização
23 de novembro de 2020 às 16:49

A OS Pró-Saúde respondeu à demanda da reportagem após a divulgação desta matéria. As informações foram incluídas no texto.

Faltando 25 dias para encerrar o contrato da gestora do Hospital Estadual de Urgência e Emergência (HEUE), o antigo São Lucas, o governo estadual informou que a está avaliando a renovação do contrato com a Organização Social Pró-Saúde. A OS foi alvo de uma inspeção estadual, enfrentou bloqueios em suas contas por ações judiciais e vem sendo investigada em outros Estados.

Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) não explicou os motivos da possível renovação do contrato com a OS, ou, por que não foi aberta uma seleção para a escolha de uma nova gestora do hospital. Também não foi informado por quanto tempo o contrato será renovado. Por nota informou apenas que "a renovação do contrato está em avaliação."

No último dia 17, a Sesa também manteve, por mais 120 dias, o Instituto Gnosis, que administra o Hospital Infantil e Maternidade Alzir Bernardino Alves (Himaba), em Vila Velha. O contrato anterior, firmado em maio, venceu no dia 6 deste mês.

GESTÃO E BLOQUEIOS

O HEUE é administrada pela Organização Social (OS) Pró-Saúde há cinco anos e o seu contrato vence no próximo dia 18 de dezembro. Nos primeiros 11 meses de gestão, que teve início em 2015, foi repassado um total de R$ 91.446.108,53, de acordo com informações do contrato. Posteriormente, o repasse mensal à OS para custeio da unidade, segundo informações da Sesa, tem sido de cerca de R$ 10 milhões.

Nos últimos anos de gestão, a Pró-Saúde foi alvo de uma série de bloqueios que afetaram as suas contas, a partir de ações movidas em outros Estados do Brasil. Um montante que superou os R$ 6,5 milhões.

Além da Pró-Saúde, outras três organizações foram alvo de bloqueios judiciais, que resultaram em um total de R$ 11, 6 milhões retidos desde o ano de 2018. Mais da metade deste total refere-se a recursos que foram destinados à Pró-Saúde.

Em março, a Procuradoria Geral do Estado (PGE) ingressou com a ação no Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo a suspensão dos bloqueios de decisões, oriundas dos Tribunais Regionais do Trabalho das 1ª, 5ª, 8ª, 9ª, 10ª, 15ª, 17ª e 18ª Regiões.

A decisão final veio em setembro, quando o STF suspendeu a eficácia de decisões de Tribunais Regionais do Trabalho, que bloqueavam verbas do Fundo Estadual de Saúde para garantir o pagamento de dívidas trabalhistas de ex-funcionários de Organizações Sociais (OS) administradoras de hospitais do governo do Espírito Santo, dentre elas a Pró-Saúde.

INSPEÇÃO REALIZADA PELA SECONT

Pró-Saúde enfrentou uma inspeção feita pelos auditores da Secretaria de Estado de Controle e Transparência (Secont), no período de outubro do ano passado a janeiro deste ano. A realização de ações de controle nas OSs que atuam no Estado havia sido determinada pelo governador Renato Casagrande.

O relatório, a que a reportagem teve acesso, revela alguns problemas. Um deles trata da transferência de recursos para a sede administrativa da OS ao longo do contrato. É informado no documento que, sem fundamentação técnica, os repasses foram ampliados. Também está descrito que esses mesmos repasses teriam aumentado a partir de 2016, o que teria resultado em pagamento a maior para a matriz no valor de R$ 1.725.981,76.

Mas, apesar de não haver previsão no contrato de gestão assinado com a Sesa, o relatório de inspeção aponta que houve a prestação de contas, por parte da matriz, mas que faltou transparência sobre o assunto nos relatórios contábeis, para garantir a clareza no uso dos recursos públicos.

No relatório, também foram identificados problemas com a contratação de empresa para remoção de pacientes, sem estudo prévio para identificar a forma mais vantajosa financeiramente. O mesmo ocorreu com a empresa para serviço de lavanderia, sem que fosse definido preço unitário para roupa suja.

Outro problema também ocorreu com a contratação de exames laboratoriais por preço global, sem considerar os preços unitários, ou no caso desses exames por unidade, sem previsão de quantidade. O que se repetiu ainda com a contratação de empresa de vigilância, sem que as propostas demonstrassem os custos detalhados por meio de planilhas. Foi feito ainda o contrato de serviços de diagnósticos por imagem sem nenhum parâmetro para aferir o custo dos serviços.

INVESTIGAÇÕES EM OUTROS ESTADOS

Em outros Estados, unidades da Pró-Saúde são alvos de investigações. Um delas envolve o ex-ministro das Cidades Alexandre Baldy e seu primo Rodrigo Sérgio Dias, que estão entre as pessoas denunciadas pela força-tarefa da Lava Jato do Ministério Público Federal (MPF), no Rio de Janeiro. 

Eles estariam envolvidos em suposta intermediação da liberação de pagamentos para a OS Pró-Saúde, por prestação de serviços de gestão do Hospital de Urgência da Região Sudoeste (Hurso), em Goiás. A unidade foi administrada pela organização de 2010 a 2017.

Por nota, a assessoria de Alexandre Baldy informou que a ação penal será agora julgada pela Justiça Eleitoral de Goiás. Em 9 outubro, O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), declarou a incompetência do Juízo da 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro para julgar ação penal contra o secretário licenciado de Transportes Metropolitanos de São Paulo, Alexandre Baldy, e determinou o envio dos autos para a Justiça Eleitoral de Goiás.

Segundo informações do STF, e de acordo com o ministro, trechos da manifestação do Ministério Público Federal (MPF) e dos termos de depoimentos de colaboradores – que fazem referência a doações para campanha - indicam que prevalece, no caso, a competência da Justiça Eleitoral. Diante disso e considerando o precedente fixado pelo Supremo, para Mendes, está suficientemente demonstrada a incompetência do Juízo da 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro.

O Ministério Público Federal (MPF) imputou a Baldy a prática dos crimes de corrupção passiva, fraude a licitação, peculato e organização criminosa em contratações de organização social atuante na área da saúde no Estado de Goiás. A denúncia foi respaldada, segundo o STF, nos depoimentos de colaboradores que, em delações premiadas, relataram supostos pagamentos de vantagens indevidas para obtenção de benefícios em contratos com entidades públicas.

Errata Atualização
24 de novembro de 2020 às 20:35

Após a publicação desta matéria, a assessoria de Alexandre Baldy trouxe novas informações sobre a tramitação da ação penal no Rio de Janeiro, e que o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), declarou a incompetência do Juízo da 7ª Vara Federal Criminal carioca. O caso será agora julgado pela Justiça Eleitoral de Goiás. O texto foi atualizado.

Outras denúncias envolvem esquemas de corrupção e fraude na gestão da saúde do Rio de Janeiro, com suposto desvio de pelo menos R$ 1,8 bilhão dos cofres públicos cariocas, de 2007 até 2020. A Pró-Saúde, que administrou vários hospitais cariocas, é citada nas investigações do MPF no Rio.

RESPOSTA DA PRÓ-SAÚDE

Por nota, a Pró-Saúde informa que o contrato assinado com o governo do Estado do Espírito Santo, para a gestão do Hospital Estadual de Urgência e Emergência (HEUE), vence no dia 18 de dezembro de 2020. E que diante da possibilidade de renovação contratual, conforme legislação vigente, a instituição filantrópica encaminhou uma proposta de permanência ao Estado. "Caso não tenha retorno da proposta enviada ainda nesta semana, a Pró-Saúde dará sequência ao processo de encerramento da gestão, conforme prazo final do contrato", explica.

Acrescenta que, durante os cinco anos de gestão, "o trabalho desenvolvido pela Pró-Saúde contribuiu para que o HEUE alcançasse um posto estratégico e relevante na política pública de atendimento em traumatologia — trabalho reconhecido pelos pacientes (mais de 90% de índice de satisfação) e por entidades que avaliam tecnicamente a qualidade dos serviços prestados (o HEUE tem a segunda mais importante certificação de qualidade concedida no país)."

Em relação às demais questões, como entidade filantrópica, a Pró-Saúde informa que  depende do recebimento de seus contratos para pagar suas despesas. "Quando há inadimplência, como ocorre em instituições de abrangência nacional, como é o caso da Pró-Saúde, a judicialização é uma consequência comum do processo. Porém, essas ocorrências não têm afetado a atuação da entidade filantrópica no Espírito Santo, condição assegurada por uma liminar concedida pela Justiça", assinala.

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Em relação às operações realizadas em outros Estados citadas pela reportagem, a Pró-Saúde informa "que tem colaborado de forma irrestrita com as investigações e vem adotando ações para o fortalecimento de sua integridade institucional."

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