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Setembro violento: conflitos do tráfico elevam número de assassinatos no ES

Setembro violento: conflitos do tráfico elevam número de assassinatos no ES

A maior parte destes crimes teve como motivação os conflitos do tráfico de drogas, como os ocorridos nesta segunda-feira (28) quando quatro pessoas foram mortas na região de Santo Antônio, em Vitória

Publicado em 29 de setembro de 2020 às 21:52

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Quatro homens foram assassinados na Ilha do Américo, em Santo Antônio
Polícia indo à Ilha Doutor Américo de Oliveira, onde 4 pessoas foram mortas. (Fernando Madeira)
Conflitos do tráfico elevam número de assassinatos no ES

Em 28 dias de setembro, já foram registrados no Espírito Santo um total de 95 homicídios. A maior parte destes crimes foram motivados pelos conflitos do tráfico de drogas, como os ocorridos nesta segunda-feira (28), quando quatro pessoas foram assassinadas na região de Santo Antônio, em Vitória.

É o que relata o secretário de Estado da Segurança Pública e Defesa Social, Alexandre Ramalho: “Tivemos homicídios no interior do Estado, decorrentes de conflitos familiares, briga de trânsito, mas a vertente maior foi para o tráfico. As rivalidades entre eles, aumentando os acertos de conta, e resultando mortes”, observa.

Desde o feriado da Independência, no início do mês, segundo Ramalho, tem-se verificado um crescimento do número de assassinatos, em comparação com setembro do ano passado, quando foram registrados 74 assassinatos no Estado, contra 95 até o último dia 28.

A avaliação inicial, segundo o secretário, é de que houve um distensionamento em relação à pandemia. “Praias lotadas, feriado de muito sol e calor, aquela coisa de voltarem a circular, mesmo sem ter acabado a pandemia”, explica.

Desde então o número de assassinatos vêm aumentando. “Cresceu demais, e o mês de setembro, antes de terminar, já se igualou ao de abril, quando registramos 95 homicídios. Quebramos um ciclo em março, quando tivemos 139 assassinatos”, lembra.

No ano de 2019 foram registrados 978 mortes violentas. Até esta segunda-feira (28), já tinham sido computados 828 homicídios. “Este ano já seria um desafio para superar 2019. Conseguimos quebrar o ciclo de crescimento em março, e vínhamos conseguindo manter uma estabilidade, chegamos até a uma redução de até 13% entre maio e junho. Mas hoje estamos com um aumento de 16,8%”, disse Ramalho.

Coronel Alexandre Ramalho. Secretário de Segurança Pública e Defesa Social do ES
Coronel Alexandre Ramalho. Secretário de Segurança Pública e Defesa Social do ES. (Vitor Jubini)

Boa parte deste crescimento também decorre, observou, do grande número de festas irregulares, os chamados bailes do Mandela. Em um deles, em Vila Velha, por exemplo, foi registrado um homicídio. “São eventos que congregam um grande número de jovens, organizado e realizado pelo tráfico, e em setembro aconteceram muitos”, relata.

A preocupação é agora com os últimos meses do ano, quando ocorrem as Eleições 2020, o verão volta às aulas e até Enem. “Tradicionalmente nos meses mais quentes o número de homicídios é maior. É uma situação que preocupa com o cenário que teremos nos próximos meses”, disse.

MUDANÇA NO PERFIL DA CRIMINALIDADE

Ramalho destaca que o perfil da criminalidade mudou muito nos últimos 25 anos. “Hoje temos uma faixa etária que beira a irracionalidade. Temos jovens de 12 a 20 anos, com grandes cifras em mãos, armas e drogas, e que estão o tempo todo ostentando armas, fazendo provocações nas redes sociais, provocando as organizações, se matando por birras”.

O secretário observa ainda que não se tem controle sobre estas situações. “Não temos controle. É rivalidade deles, com armas, dinheiro, comercializando drogas, tomando pontos rentáveis. Eles ficam o tempo todo fazendo estas análises, se comunicam por redes sociais, juntam um grupo, conseguem um veículo e atacam”, disse.

Agrava a situação as ordens que ainda partem de dentro do sistema prisional. “Temos pessoas no sistema prisional que ainda comandam, dão ordens, porque há muito dinheiro envolvido, sem pagamento de impostos, tem toda logística para trazer a droga de países fronteiriços. E sem contar o consumidor, um grande fomentador desta situação, em uma sociedade que vê como normal o uso de drogas”, pondera.

No caso de Santo Antônio, onde quatro pessoas foram mortas nesta segunda-feira (28), ele observa que as investigações ainda estão sendo realizadas. “Não há apontamento de que fossem rivais do tráfico. Percebe-se uma necessidade de mostrar para as lideranças de Santo Antônio que eram mais fortes. Como aconteceu em março e abril, na Piedade, uma sem alvo específico, que beira a psicopatia”, disse.

OPERAÇÕES POLICIAIS

De janeiro a agosto deste ano já foram realizadas 700 operações policiais na região do Bairro da Penha, em Vitória, e destas, 48 resultaram confrontos armados.

Em relação ao Estado, o secretário informou que 1.140 homicidas foram presos  no mesmo período e 2.603 armas apreendidas, sendo 68 apreensões só no Bairro da Penha.

Um dos detidos por suspeita de participação em chacina
Um dos detidos por suspeita de participação em chacina. (Isaac Ribeiro)

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A polícia, segundo Ramalho, continuará com as operações. Mas acrescenta que muitas incursões foram feitas a pedido de moradores das comunidades e que acabaram resultando em confrontos “Nosso papel é identificar estas situações e prender. Mas é preciso que a população compreenda o nosso trabalho.”, disse Ramalho.

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