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Sócio de tirolesa no Moreno, cabo do Corpo de Bombeiros terá conduta apurada

Sócio de tirolesa no Moreno, cabo do Corpo de Bombeiros terá conduta apurada

Segundo boletim de ocorrência, bombeiro teria se recusado a fornecer à perícia o equipamento que sustentava o corpo de João Paulo Sampaio dos Reis, de 47 anos, vítima do acidente no último sábado

Publicado em 3 de maio de 2021 às 09:40

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Crea faz vistoria em tirolesa no Morro do Moreno, onde um homem morreu após acidente
Tirolesa no Morro do Moreno, onde engenheiro morreu durante a descida no último sábado. (Divulgação/Crea)

Um dos proprietários da tirolesa instalada no Morro do Moreno, em Vila Velha, onde um homem morreu durante a descida no equipamento neste sábado (1º), é um cabo do Corpo de Bombeiros. O profissional estava no local no momento do acidente e terá a conduta apurada pela Polícia Civil, segundo nota dos Bombeiros enviada à reportagem de A Gazeta

De acordo com o boletim de ocorrência da Polícia da Militar, que a TV Gazeta teve acesso, o cabo do Corpo de Bombeiros, que é sócio do empreendimento, teria sido o responsável por retirar o corpo de João Paulo Sampaio dos Reis, de 47 anos, da estrutura da tirolesa. Segundo o documento, o bombeiro também teria se recusado a apresentar o material que sustentava o corpo do homem.

O QUE DIZ O CORPO DE BOMBEIROS

Por nota, o Corpo de Bombeiros afirmou que a investigação sobre o incidente é de responsabilidade da Polícia Civil, que vai apurar as circunstâncias e a dinâmica dos fatos. A instituição destacou ainda que o profissional em questão não estava a serviço do Corpo de Bombeiros no momento do acidente. 

"A missão do Corpo de Bombeiros Militar foi cumprida no momento que a equipe foi rapidamente ao local prestar o serviço de salvamento e resgate da vítima que, infelizmente, já estava sem sinais vitais. O CBMES esclarece que o militar sócio do empreendimento não estava a serviço da CBMES no momento dos fatos, e sua conduta será apurada no Inquérito Policial a ser instaurado pela Polícia Civil. Caso a apuração dos fatos venha a indicar descumprimento das normas de conduta dos Bombeiros Militares, as providências cabíveis serão adotadas", diz a nota.

Na tarde desta segunda-feira (3), A Gazeta questionou a participação de outro bombeiro militar na sociedade da empresa responsável pela operação da tirolesa do Morro do Moreno. Por nota, a corporação, respondeu que "tem ciência de que os militares da Corporação são sócios cotistas da empresa proprietária do empreendimento.

"O CBMES esclarece que a Lei Estadual nº 3.196 permite que os militares desempenhem atividade empresarial, desde que seja como sócio cotista, o que é compatível com a atividade dos militares nesta empresa. A Polícia Civil é responsável pela investigação das circunstâncias do fato e, paralelamente, a Corregedoria do Corpo de Bombeiros vai instaurar Procedimento Administrativo Disciplinar para apurar a conduta do militar que estava no local do fato", finalizou a nota.

O QUE DIZ A POLÍCIA CIVIL

Também por meio de nota, a Polícia Civil apenas informou que o caso seguirá sob investigação "para uma melhor apuração dos fatos" e que aguarda o resultado da perícia realizada na tirolesa. "Outras informações não serão repassadas para preservar a apuração do incidente", concluiu. A Polícia Civil não informou qual será o prazo para a perícia do acidente nem se o local foi alterado por um dos sócios da empresa. 

ACIDENTE ACONTECEU NOS PRIMEIROS 100 METROS

De acordo com o gerente de Relacionamento Institucional do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Espírito Santo (Crea-ES), Giuliano Battisti, o acidente que matou o engenheiro João Paulo Sampaio dos Reis aconteceu nos primeiros 100 metros da tirolesa. 

Ao todo, a atividade tem cerca de 500 metros de percurso e três bases: a de partida, a intermediária e a de chegada. "Segundo testemunhas, a vítima teria colidido com a estrutura da segunda plataforma. Se isso aconteceu, precisamos entender o sistema e como ele permitiu que isso acontecesse", comentou.

Crea faz vistoria em tirolesa no Morro do Moreno, onde um homem morreu após acidente
Equipe do Crea foi ao local do acidente no domingo (02) e também na manhã desta segunda (03) . (Divulgação/Crea)

Uma equipe do Crea esteve no local do acidente neste domingo (2), e também na manhã desta segunda-feira (3). Um das hipóteses é a de que pode ter havido um problema em um primeiro freio, que controla a velocidade de descida da tirolesa. O Crea busca entender se essa frenagem era controlada por um equipamento ou por uma pessoa.

"Este sistema é composto de duas etapas. A primeira etapa que tem uma base entre 100 m que vai até a segunda. Existe uma velocidade que tem que ser controlada para que não ocorra uma velocidade excessiva até a segunda base. Nos causa um pouco de estranheza os relatos que houve um impacto, uma colisão. Segundo informações, o João Paulo colidiu com essa segunda base. Se essa colisão de fato ocorreu, a gente quer verificar se realmente existia uma frenagem, se essa redução de velocidade era feita, de fato, por um equipamento ou por uma pessoa", afirmou  Battisti em entrevista à TV Gazeta nesta segunda (3).

Aspas de citação

Falam que tem um operador que faz esse controle de velocidade. Não faz sentido para gente uma pessoa controlar a velocidade de outra, sendo que está exposto ali a um local que a pessoa pode ter um mal súbito, uma vertigem, tem insolação, tem vento

Giuliano Battisti
Gerente de Relacionamento Institucional do Crea
Aspas de citação

Outras situações também serão verificadas pelo Crea, por exemplo, se há divergências entre o projeto e a obra de execução da tirolesa. 

"Temos que verificar também se existe de fato esse sistema de freio, se existe uma manutenção. Já levantamos as empresas responsáveis pela construção e montagem do sistema da tirolesa como um todo. Se o sistema que estava no local é compatível com o projeto inicial. Se existia todo o sistema de proteção individual. Se o usuário estava com o cinto, são muitas questões que ainda não estão esclarecidas", comentou. 

O ACIDENTE: O QUE SE SABE ATÉ AGORA

Engenheiro mecânico, João Paulo Sampaio dos Reis, de 47 anos, levou a filha e uma amiga dela para aproveitar a vista do Morro do Moreno, em Vila Velha, na tarde de sábado. As duas desceram antes na tirolesa. Na vez dele, um acidente fez com que ele morresse ainda no local.

"Essa vítima estava de barriga para cima, arroxeada, com as pupilas dilatadas e com um trauma no lado esquerdo da face. Após os trabalhos periciais, o cadáver foi levado até o topo do Morro do Moreno e entregue à Polícia Civil", detalhou a tenente Andressa, do Corpo de Bombeiros. O resgate durou cerca de quatro horas.

NOTA DE ESCLARECIMENTO

Após a publicação da reportagem, a empresa responsável pela tirolesa enviou uma nota de esclarecimento nesta segunda-feira (3). Veja abaixo na íntegra.

Prestamos total solidariedade à família, estamos todos de luto.

Estamos aguardando o resultado da perícia para sabermos tecnicamente o que de fato aconteceu, pois todos os procedimentos de prevenção são tomados durante a operação de ancoragem e descida até o destino final com segurança, tanto que em quase 2 anos nenhum incidente aconteceu. Todos os equipamentos de proteção individual para atividade são regulamentados por normas internacionais, devidamente certificados com CE – Certificação Europeia, e UIAA, que é uma certificação que outorga ao equipamento de montanhismo, escalada, alpinismo, rapel, e tirolesa, o cumprimento de normas de segurança internacional,

Nossos instrutores passam por um treinamento de operação dado pelo engenheiro responsável pela implantação da tirolesa, conhecedor das normas da ABNT, e a tirolesa nos dias de funcionamento é avaliada por um grupo de gestão em segurança com vídeo dos conectores, lacres, que conectam no tracionamento de sustentação e ancoragem ao sistema da tirolesa, desde o backup da ancoragem de engate, até o sistema de acionamento de freios.

O senhor João Paulo foi até a tirolesa com uma filha e uma amiga da filha, de forma que a filha de aproximadamente 14 anos desceu primeiro, participando da atividade com total segurança e tranquilidade, demonstrando o bom funcionamento da tirolesa, logo em seguida desceu a amiga, também de aproximadamente 14 anos, que também atestou a segurança e tranquilidade da atividade e do sistema, mas fatalmente ocorreu o infortúnio com o Senhor João Paulo, e muito embora as menores atestaram a segurança do sistema, pois desceram logo antes do Sr. João Paulo com segurança e tranquilidade, infelizmente algum fortuito ocorreu durante a descida do Senhor João Paulo.

Os sócios e organizadores da tirolesa estão muito abalados, sofrendo muito com o ocorrido, e prestam os presentes esclarecimentos, inclusive já estão sendo realizados todos os procedimentos para o contato com a família do Senhor João Paulo, prestando as condolências, bem como apresentando a apólice de seguro que cobre acidentes pessoais e óbitos, seguro este obrigatório como condicionante para o funcionamento da atividade esportiva.

Foi realizado todo o procedimento de RCP – massagem torácica cárdio respiratória, e APH – Atendimento Pré Hospitalar, uma vez que nossos instrutores são treinados para tais procedimentos, eis que foi retirado o equipamento da tirolesa, cadeirinha de descida e equipamento de EPI do Sr. João Paulo, para facilitar o procedimento pré-hospitalar RCP, APH e outros procedimentos técnicos visando desobstruir as vias respiratórias.

Em nenhum momento houve alteração da cena da ocorrência, mas sim, foram feitos os procedimentos protocolares visando resgatar e preservar os sinais vitais até a chegada do socorro acionado.

Em momento nenhum foi negado a entrega do material que compõe o equipamento de descida da tirolesa, que envolve todo equipamento de proteção individual, pois a todo o momento a preocupação sempre foi com o resgate e preservação dos sinais vitais do Sr. João Paulo, até a chegada do socorro acionado. Foi acionado o grupamento aéreo, o SAMU, Bombeiros, para o resgate. Todas as condolências são prestadas à família do Sr. João Paulo.

EMPRESA: "ESTAMOS EM LUTO"

Na madrugada deste domingo (2), por meio das redes sociais, a empresa responsável pela operação da tirolesa do Morro do Moreno lamentou o corrido e afirmou que ainda não tinha conseguido o contato da família. No texto, também afirmou que aguardava a perícia para saber a causa do acidente.

Errata Atualização
3 de maio de 2021 às 21:56

Às 18h desta segunda-feira, o Corpo de Bombeiros confirmou que dois cabos da corporação são sócios cotistas da empresa responsável operação da tirolesa do Morro do Moreno, onde o engenheiro mecânico morreu no último sábado (1º). Por isso, o texto foi atualizado.

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