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Somente abertura de leitos de UTI não vai evitar colapso, alertam especialistas

Somente abertura de leitos de UTI não vai evitar colapso, alertam especialistas

A medida visa enfrentar o avanço do número de casos confirmados nesta terceira fase da doença, mas pode não ser suficiente para evitar que pacientes fiquem sem atendimento

Publicado em 11 de março de 2021 às 21:03- Atualizado há 4 anos

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UTI para pacientes com Covid-19 no Hospital Jayme Santos Neves, na Serra
UTI para pacientes com Covid-19 no Hospital Jayme Santos Neves,  com 81,20% de ocupação nesta quarta-feira (10) . (TV Gazeta)

Até o final de abril, o governo do Espírito Santo pretende viabilizar a abertura de mais 158 vagas para tratamento intensivo de pacientes com a Covid-19, alcançando um total de 900 leitos de UTI destinados só para pacientes infectados pelo novo coronavírus. A medida, que também vem sendo adotada em outros estados brasileiros, visa enfrentar o avanço do número de casos confirmados nesta terceira fase da doença.

Mas alguns especialistas alertam que a medida pode não evitar o colapso do sistema de saúde, semelhante ao que já ocorre em outras unidades da federação, onde o número de pacientes chegou a ser bem maior do que a capacidade de atendimento, o que levou algumas pessoas à morte.

O próprio secretário de Estado da Saúde, Nésio Fernandes, em pronunciamento realizado nesta segunda-feira (08), destacou que o incremento de leitos é importante para garantir o atendimento aos pacientes, mas que vai chegar um momento em que não será mais possível fazer novas ampliações.

“Vamos alcançar 1.300 leitos de UTI públicos e contratualizados a serviços do SUS, para pacientes com a Covid-19 ou outras doenças. E até abril vamos chegar a 900 somente para pacientes infectados pelo novo coronavírus. Mas existe um limite em que não será mais possível ampliar leitos, seja capacidade de recursos humanos e de estrutura”, destacou.

Nesta quinta-feira (10) a ocupação dos leitos de UTI, segundo o Painel Covid-19, ferramenta da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) com informações sobre a doença, chegou a 83,84%. O que significa que a cada 10 leitos disponíveis, 8 estão ocupados. E já há hospitais com 100% de ocupação.

SÓ AMPLIAÇÃO NÃO RESOLVE

Na avaliação de Ethel Maciel, doutora em Epidemiologia (UERJ), pós-doutora em Epidemiologia (Johns Hopkins University) e professora titular da Ufes, os investimentos ainda são destinados a ações mais caras, como a criação de leitos, ao invés de uma aposta na prevenção. “Desde o início da pandemia temos dito repetidas vezes que o melhor caminho é apostar em diagnósticos mais rápidos para se identificar os casos da doença e isolar os contaminados, para quebrar a cadeia de transmissão”, pondera.

A epidemiologista destaca que o crescimento do número de casos da doença é preocupante, e que podemos viver momentos bem piores dos que os do ano passado, considerando as novas variantes do vírus. “Variantes com capacidade maior de transmissão da doença, mais agressivas, e já estamos vendo o colapso de serviços de saúde em alguns estados, situações que vimos na primeira onda”, observa.

 A cidade do Rio de Janeiro retoma hoje (25) sua campanha de aplicação da primeira dose da vacina contra a covid-19 em idosos da população em geral. Hoje serão vacinados os idosos com 82 anos.
Vacinação ainda caminha lentamente no Brasil. (Tânia Rêgo/Agência Brasil)

E neste cenário, pondera Ethel, o incremento de leitos tem limite e que não garante a vida. “A luta tem que ser pela prevenção porque não temos ainda um antiviral para o tratamento da doença. Esperar adoecer é a pior estratégia, é como uma roleta russa, apostar no que não sabe que vai acontecer, em como o organismo vai reagir”.

Outra alternativa, destaca a epidemiologista, é oferecer um acompanhamento mais eficiente aos pacientes que chegam às unidades de saúde com sintomas, para que sejam testados e acompanhados, mesmo em casa. “Um oxímetro de dedo deveria ser oferecido a cada um deles para terem como acompanharem a doença, que evolui rápido para um comprometimento pulmonar. O paciente pode verificar a mudança e ir rápido para o hospital. Podemos salvar vidas com um aparelho simples”, destaca.

Ela defende ainda que este é o momento em que o SUS já deveria oferecer as pessoas sem condições financeiras máscaras mais eficientes para enfrentar as novas variantes do vírus. “Isto já acontece em outros países da Europa, uma medida eficiente para evitar o contágio”, assinala.

E tudo isto acontece, lembra Ethel, em um momento em que a campanha de vacinação contra a doença caminha a passos lentos. "Estamos colhendo os resultados da má gestão da crise que passou para este ano. Não estamos conseguindo vacinar nem 2 milhões de pessoas por semana e agora há a preocupação com a interrupção da imunização por falta de doses", destaca. 

CHEGANDO AO NÍVEL DE EXAUSTÃO

Outra dificuldade do incremento de leitos de UTI, observa Celso Murad, presidente do Conselho Regional de Medicina (CRM-ES), é que as equipes que atuam em terapia intensiva são poucas e já estão no nível de exaustão. “Em nenhum lugar se tem muitos especialistas em terapia intensiva, não no volume demandado por uma pandemia. Há um ano estas pessoas trabalham incansavelmente, os mesmos profissionais. As equipes não têm como se multiplicar, não na velocidade de transmissibilidade do vírus. É uma situação preocupante”, pondera Murad.

Ele acrescenta ainda que em um ano de pandemia, muito se aprendeu dentro dos hospitais. “O problema é que aprendemos muito em técnicas assistenciais, mas na prevenção caminhamos muito devagar”, assinala.

Para Murad, os cuidados sanitários ainda são fundamentais para evitar ou reduzir a transmissão do vírus. “Uso de máscaras mais eficientes, higienização das mãos, distanciamento social, evitar aglomerações. E precisam ser mantidos”, assinala.

MEDIDAS RESTRITIVAS

Pablo Lira, diretor de Integração e Projetos Especiais do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) explica que a ocupação de leitos de UTI, ao superar a marca dos 80%, vai levar a adoção de medidas mais restritivas, seguindo o que está previsto no Mapa de Risco, que avalia a situação dos municípios capixabas. “Poderemos, na sexta-feira (12) termos mais municípios migrando para as situações de risco moderado e até alto”, alerta.

Ele relata que o pior momento desde o início da pandemia foi vivido em julho do ano passado, quando se chegou a 89% de ocupação dos leitos de UTI. “Mas mesmo naquele período não deixamos de atender pacientes”, assinalou.

Mas há uma preocupação, segundo Lira, com as alterações em alguns indicadores importantes da Matriz de Risco da pandemia. Um deles é a ocupação de leitos de UTI, que nesta quinta-feira (10) chegou a 83,84%. Outro é a média móvel de óbitos dos últimos 14 dias, que vinha apresentando queda desde o final de janeiro e que voltou a estabilizar com tendência de aumento. “O momento é de atenção e acompanhamento”, disse.

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