Duas guerras mundiais, ditadura militar, mudanças na moeda brasileira e pandemia da covid-19 estão entre os eventos históricos que passaram pela vida de Isnar Alves de Almeida, também conhecida como Dona Neném. Moradora do Centro de Sooretama, no Norte do Espírito Santo, a aposentada completa 117 anos neste sábado (24) e preserva a lucidez e várias memórias de uma vida marcada pela simplicidade.
''As pessoas sempre perguntam como faz pra chegar a idade que tenho, mas não tem segredo nenhum. Gosto de fazer minha comida, arrumar minha casa, receber as vizinhas, lavar a roupa", contou dona Isnar.
Isnar nasceu às 10 horas do dia 24 de agosto de 1907 na cidade de Belmonte, no extremo Sul da Bahia. Segundo a aposentada, a mãe morreu durante seu parto e ela não chegou a conhecer o pai. Então, em 1930, ela se mudou para uma fazenda no interior de Linhares, também no Norte do Estado.
"Eu já fiquei viúva três vezes. Tô feliz em fazer aniversário e quero viver a cada 10 anos a mais que Deus marcar pra mim", disse, aos risos, em entrevista ao site g1/ES.
A centenária casou três vezes e todos os maridos que ela teve faleceram. Ela também teve dois filhos, mas as crianças morreram antes dos cinco anos. Em 1975, segundo dona Neném, ela escutou um bebê chorando e, ao ver o que era, encontrou um menino com cerca de oito meses de vida, que criou desde então como filho. Ele se chama Carlos Benedito de Souza Santos.
Em 1979, teve uma enchente em Linhares, considerada uma das piores que já atingiu o município. Na ocasião, Isnar perdeu todos os documentos originais que tinha. No ano seguinte, a aposentada fez um novo documento em um cartório da cidade.
É por isso que sua certidão de registro civil data de 1980. Ela teve que refazer os documentos que foram levados pela enchente.
Isnar, que é aposentada, mora em uma casa simples e tem rotina marcada pela tranquilidade. Todos os dias, ela acorda por volta de 7h e vai dormir às 20h.
Além do filho adotivo, a centenária tem sete netos e cinco bisnetos. Um dos netos mora com ela, o Jhemerson de Souza Santos, de 23 anos. "Fico de olho para ela não cair porque ela que gosta de fazer as coisinhas dela, do jeito dela. Então, eu fico cuidando para não acontecer nada sério", comentou o jovem.
Dona Neném faz pelo menos quatro refeições por dia, o café da manhã, almoço, café da tarde e a janta. Uma das coisas que ela não abre mão é fazer o próprio café. "Um cafezinho é sempre bom, né?'', contou dona Isnar.
Segundo o neto, o único remédio que a avó toma é um para pressão arterial. "Acho que agora que ela tá percebendo que a idade chegou, mas continua superlúcida, lembrando de tudo do passado. Ela conversa com a pessoa, mas tem dificuldade para ouvir", comentou.
Jhemerson comentou ainda que, embora a avó não tenha a mesma força de alguns anos atrás, ela tem muita vontade de fazer tudo do dia a dia. "Ela tira forças de onde não tem e, embora goste que as pessoas façam as coisas para ela, ela também gosta que tudo saia do jeito dela."
"Muitos conhecem a história dela, ficam espantado e até perguntam o segredo para chegar à idade que ela tem, mas não temos o que responder. Ela tem uma vida simples. Para mim, é uma responsabilidade imensa cuidar pra que ela não se machuque e viva mais. Além disso, é um ensinamento também."
O agente comunitário de Saúde José Felipe Bruno Stofel, de 22 anos, da Secretaria Municipal de Saúde de Sooterama, acompanha dona Isnar de perto com visitas em domicílio realizadas uma vez por mês.
"Para mim, que sou jovem, é um privilégio acompanhar uma senhora dessa idade e motiva o nosso trabalho. Todo mês, eu vou lá saber se ela está indo às consultas médicas, se teve alguma indisposição e como está a sua saúde. É uma senhora muita tranquila", comentou o agente.
Nas consultas médicas, o município disponibiliza uma ambulância para que dona Isnar faça o mínimo de esforço possível. "Como ela é mais idosa, a gente precisa ter cuidados com ela e saber que ela está bem, tranquila, motiva o nosso trabalho", destacou o profissional da saúde.
Neta da centenária, Joyce Carla de Souza disse que um dos traços da personalidade de dona Isnar é a alegria em estar viva. "Vovó é uma pessoa muito alegre e, dificilmente, alguém vai ver ela reclamar da vida. Ela também é super divertida, ama bater-papo. A gente brinca que ela é o terror do INSS e ela fica rindo", destacou a neta.
Um dos passatempos que dona Isnar tinha era a costura. "Ela sempre gostou de costurar e fazia as próprias roupas. Por conta da idade, parou um pouco", pontuou.
Joyce também se orgulha em destacar que a avó já foi homenageada como "Mulher Destaque" na Câmara Municipal de Sooretama há dois anos.
"É uma alegria tão imensa saber que minha avó vai além do que a gente vê. Ela tem um coração imenso, uma bondade sem tamanho, minha avó é o meu orgulho. Exemplo de força , determinação, garra e muito mais. Ela é nosso tesouro", finalizou.
* Com informações do g1 ES;
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